A batata missionária




       A igreja não era muito grande, nem bem mobiliada.

      Era apenas um edifício de madeira, singelo, quadrado, sem atrativos; ao sul de Ilinois. A esta igreja vinha Thiago e Estevam Holt todos os Domingos de sua vida.

     Neste Domingo de que tratamos ficaram juntos à espera que começasse a escola dominical, e falavam acerca da coleta que se devia tirar para a obra missionária. Era uma coisa nova para esta pobre igreja. Estava acostumada a receber auxílio de outras igrejas; porém, progrediam e desejavam começar a dar. 

     Os meninos Holt não tinham nem um vintém para dar. “Os vinténs em nossa casa são tão escassos como os dentes das galinhas,” disse Estevam, mostrando uma carreira de dentes alvos enquanto falava. Thiago parecia sério. Era triste para eles o serem os únicos da classe que nada tinham para dar.

     Olhou tristemente em roda da velha igreja. O que havia ele de ver em um canto debaixo dum assento senão uma batata!

      “Como aquela batata viria à igreja?” disse ele, acenando a cabeça para ela; “certamente alguém deixou-a cair no dia em que trouxemos socorro para os pobres. Olha, Estevam, podemos dar aquela batata. Julgo que temos tanto direito à ela como qualquer outro.

    Estevam virou-se, e pensativo olhou a batata por algum tempo. “Que boa ideia,” disse ele alegremente. “Façamos isso.”

    Thiago esperava ver um olhar galhofeiro em seu rosto, porém seus olhos e boca diziam: “estou sério.”

     Verdade? Perguntou Thiago.

       “Sim, é verdade.”

       “Como? Parti-la em dois pedaços e cada um de nós pôr a metade no prato de coleta?”

     “Não, disse Estevam,” rindo-se. Suponho que não podemos dá-la hoje. Mas levemo-la para casa e plantemo-la no melhor terreno que acharmos, e tomemos o maior cuidado dela, e demos cada batata que produzir, para a causa missionária. Haverá outra ocasião; esta não é a única coleta que a igreja há de tirar. Nós podemos vender as batatas a alguém.”

    Cheios desta nova ideia, foram para a classe não tão tristes como antes; e ainda que as suas faces corassem quando a caixa passou por eles e ainda que tivessem de sacudir suas cabeças, pensaram sobre a batata, olharam-se mutuamente e riram-se.

       Decerto alguém segredou à terra e ao orvalho e ao Sol acerca da batata.

    Nunca se viu coisa alguma crescer como ela! “Excede tudo,” disse o lavrador Holt, que era participante do segredo. “Se tivesse vinte geiras de terra que produzissem batatas deste modo, faria minha fortuna.”

    Quando chegou o tempo da coleta, crerieis que havia quarenta e uma batatas boas, sãs e belas?

     Outra coisa: Enquanto os meninos as estavam colhendo, falavam sobre a grande reunião para missões que ia-se fazer na igreja, na próxima quinta-feira – reunião de um dia inteiro.

    A pequena igreja tinha experimentado a alegria de dar, e estava prosperando mais do que antes.
  
     Então havia uma grande reunião para a qual vinham oradores de Chicago.

     Thiago e Estevam tinham feito seus planos.

      Lavaram as quarenta e uma batatas cuidadosamente, e escreveram com a melhor letra esta sentença quarenta e uma vezes:

       “Esta é uma batata missionária; custa duzentos reis; é da melhor qualidade de que se conhece. Só será vendida a quem prometer que há de plantá-la na primavera e há de dar todo o produto para os missionários.

Assinado – Thiago e Estevam Holt.”

     Cada batata tinha uma destas tiras de papel cuidadosamente grudada.

    Como se venderam logo as batatas!

     Às três horas da tarde de quinta-feira não havia nem uma, ainda que um homem de Chicago quisesse dar dois mil reis por uma delas.

     Imaginai, se poderdes, o prazer com que Thiago e Estevam Holt puseram cada um $ 4.100 na caixa da coleta naquela tarde.

      Estou certo que não posso descrever-vo-lo, porém posso certificar-vos de uma cosia: Cada um deles tem um quintal dedicado às missões, que prospera.

(Traduzido por P. T.)

 IMPRENSA EVANGELICA.

VOL. XX, Nº 15, 1884, p. 118

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