Informação
dada pelo irmão Henrique de Souza Jardim, filho
do refugiado e membro da Igreja E. Fluminense, Francisco
de Souza Jardim — "Meu pai costumava contar-nos, sempre que se referia à
sua retirada da Ilha da Madeira, por causa da perseguição — e nesses momentos
as lágrimas lhe vinham aos olhos abundantemente — que o comandante do navio inglês
em que embarcaram, tratou todos os refugiados com o máximo carinho. Maior
surpresa, porém, lhes estava reservada, ao desembarcarem nos Estados Unidos.
Quando aportaram a Baltimore, era domingo e, naturalmente, as lojas estavam
todas fechadas. Pois bem — logo que as autoridades americanas souberam que os
refugiados portugueses haviam desembarcado, mandaram abrir as lojas próximas e
fornecer-lhes, "por conta do Governa, TUDO o de que precisassem".
Meu
pai, logo que desembarcou, recebeu essa notícia, mas não a compreendeu
claramente: julgou que os negociantes tivessem sido autorizados a abrir suas
lojas e oferecer o que quisessem ou pudessem aos refugiados.
Aproximou-se
de uma loja e logo, com muita amabilidade, o dono ou caixeiro o convidou a
servir-se do que quisesse, dizendo- lhe: “Tira, português!”
Fazia
muito frio e meu pai lançou mão de um grande cobertor que, mais ou menos,
serviria para abrigá-lo, bem como a mulher e os dois filhos.
Agradeceu
muito e ia retirar-se, quando o homem da loja
insistiu,
apontando para a senhora e para as duas crianças — “Tira, português!” (Ele só
sabia dizer essas duas palavras, mas também não era preciso dizer mais).
Meu
pai sentiu-se acanhado, temendo abusar da bondade do comerciante, se levasse
mais alguma coisa.
Nesse
momento, chegaram outros refugiados, que, tendo compreendido melhor a notícia
que lhes fora dada, ao desembarcarem, fizeram ver a meu pai que “era o GOVERNO
AMERICANO quem lhes oferecia tudo o de que precisassem, sem restrições”.
Meu
pai não se pôde conter e, dirigindo-se a sua mulher,
exclamou:
“Bendito seja Deus! Vês, minha mulher, como Deus não desampara os seus? Os
inimigos nos obrigaram a deixar a nossa terra, por causa do Evangelho; mas, por
causa do Evangelho, fomos recebidos, de braços abertos, com toda a
generosidade, nesta grande terra, por um povo temente a Deus, simplesmente porque
somos discípulos do Senhor Jesus!”
Realmente
— dizemos nós — Abençoado seja o povo norte-americano que, em sua grande
maioria, tem na Bíblia, não somente a sua única regra de fé, mas também o seu
Código de Moral Prática.”
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