Ao viajar pela Espanha, um colportor foi pública e grosseiramente insultado por um professor
francês. Longe de exigir desculpas ao seu agressor, o colportor enalteceu o
valor da Bíblia, o fez com tanta felicidade que o francês acabou por comprar um
exemplar, para ver de que tratava um livro tão elogiado.
Passam-se dois anos, e os
dois homens encontram-se de novo. Mas agora, em vez de insultos, o francês faz
uma confissão curiosa a respeito da Bíblia que comprara. Contou que, depois do
incidente desagradável acima referido, levava uma vida dissipada em companhia
de um homem de costumes péssimos. Como porém, esse pagava as despesas das pândegas
e o ajudava financeiramente, não o deixava. Os alunos do francês que viam com
tristeza o caminho que seguia, pouco a pouco abandonavam as aulas até que,
finalmente, ficou sem alunos nenhum e passava os dias só em fumar. Quanto à
Bíblia, as suas páginas serviam unicamente para acender os cigarros que fumava.
Certo dia, ao procurar a
Bíblia, da qual só restava a terça parte, para dela arrancar mais uma página,
não a encontrou. Ligou pouca importância ao caso, porém. O que mais o
incomodava era ver um certo retraimento no companheiro de pândegas. Não o
encontrava mais nos pontos onde habituaram-se a reunir. Que seria a causa
disto? Entretanto os credores o apavoram e, não tendo dinheiro para as despesas
correntes, achava-se em uma situação deveras embaraçosa. Resolveu apelar, então,
para o amigo e contar-lhe as suas dificuldades. Foi bem recebido, por isso
animou-se a pedir um auxílio monetário. Disse com franqueza que a única
alternativa seria roubar de alguém, e que para tal não tinha muita coragem. Ao ouvir
o francês falar em roubo, o companheiro interrompeu-o e disse com um sorriso
que, longe de não querer ajudá-lo, tinha até uma certa obrigação de o fazer,
visto que ele roubara alguma coisa ao francês.
“Mas”, exclamou o francês, “que
poderias roubar a um homem que não tinha
cinco réis próprios?”
“Ah! Tinhas um tesouro, o
tesouro de todos os tesouros e ei-lo, aqui está”, respondeu o companheiro,
tirando de uma gaveta um livro que o francês logo conheceu como a Bíblia que
comprara ao colportor.
“Por tal roubo”, disse o pobre
professor, “nunca irás para a cadeia, e demais a mais o livro estava todo
escangalhado.”
“Isso é verdade, mas a parte
que escapou tem sido bastante para me levar àquele arrependimento de que nunca
uma pessoa se arrepende; bastou para mudar o meu coração.”
– Deveras! Mas falas a sério?
– Com toda a seriedade, e nunca falei mais sério que agora, e é claro
que Deus no Seu amor tem operado um verdadeiro milagre a meu favor. Um dia no
teu quarto vi na tua mesa este livro, abri-o tencionando tê-lo enquanto
esperava a tua volta, mas vendo que estava tão rasgado, conclui que havia de
ter muito pouco valor. Os meus olhos pousaram neste versículo: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e
oprimidos, e Eu vos aliviarei.” (Mateus 11:28). Fez-me muita impressão. Eu estava
cansado de mim mesmo e de todos os mais, e este aborrecimento seguia-me por
toda a parte onde ia e em tudo que eu fazia. Senti que a vida que levava não me
podia tornar feliz e que custasse o que custasse, era forçoso fazer alguma
mudança. Contudo os meus maus hábitos eram mais fortes do que a minha vontade;
mas afinal não podia deixar de sentir que o dito versículo me tocava a mim. Queria
saber mais acerca do livro, e temendo que recusasses emprestar-mo, tirei-o e
fui-me embora sem mais esperar por ti. Chegando à casa devorei – sim, devorei
mesmo – todas as páginas rasgadas, e quanto mais as lia, mais ia sendo levado a
confessar Jesus Cristo como Salvador da minha alma”.
As palavras do amigo fez o
francês recordar-se da conversa que teve com o colportor e de tal modo o
impressionaram que, bem pouco tempo depois, entrou também no trilho da
salvação.
Às vezes ficamos
desencontrados com a perda de Bíblias em trânsito, roubadas por pessoas
inescrupulosas. O caso acima narrado vem nos consolar, pois é bem possível que
tais roubos tenham dado lugar a tantas
conversações.
Abrev. do Nº 47 (G. Howes). (De “A Bíblia pelo Mundo”)
A Penna Evangelica.
Ano VII, Nº 256, Cuiabá-MT, 17 De Setembro de 1931.
Comentários
Postar um comentário