A CONVERSÃO DE DOIS ATEUS




    Desejo contar-vos um acontecimento verdadeiro, a conversão de dois ateus.

    Num país estrangeiro viajavam dois ateus a cavalo. Ambos levavam com sigo muito dinheiro e por isso viajavam juntos, para proteger um ao outro.

    Um dia, pouco antes de escurecer, chegaram a uma choupana isolada.

     A choupana era muito velha, feia e mal arranjada. As duas senhoras que se achavam ali eram igualmente repulsivas, pois eram camponesas pobres, ignorantes e mal vestidas.

      Os homens da casa não se achavam presentes quando chegaram os estrangeiros, porém as roupas penduradas pelas paredes mostravam que ali moravam homens.

    Os viajantes, estando cansados, desejavam dormir cedo.

     A senhora da casa lhes mostrou uma cama no sótão em que haviam de dormir. Para entrar no sótão subiram uma escassa de mão.

      Não tendo porta alguma, não podiam fechar o sótão, e por consequência, tiveram medo de serem roubados ou assassinados antes de amanhecer.

    Para evitar este perigo, resolveram passar a noite vigiando; um dormindo enquanto o outro vigiasse.

    Às 9 horas da noite o que estava vigiando ouviu a voz de diversos homens aproximando à casa. A senhora abriu a porta e falou com eles por alguns minutos em voz baixa, dizendo-lhes que achavam-se hospedados com eles dois estrangeiros e pediu-lhes que não falassem em voz alta, para não os acordarem.

     O viajante que estava vigiando não entendeu o que dizia a senhora e pensando que estavam arranjando algum meio para os matar, acordou com toda a pressa o seu companheiro e ambos lançaram mão dos seus revólveres e prepararam-se para a defesa.

     Os homens entraram, um velho e seis moços, vestidos de roupas feitas de peles de veados. Pareciam como feras. Todos eles traziam uma espingarda, um revólver e uma faca. Falavam em voz baixa para não acordar os estrangeiros, e estes, não sabendo porque falavam tão baixo, pensavam que estavam cogitando algum meio de os assassinar.

    Depois de terem ceado, o ancião abriu um livro velho que se achava na mesa (a santa Bíblia) e leu um capítulo. Depois de lido o capítulo, todos ajoelharam-se e fizeram oração a Deus.

    O ancião não somente pediu que Deus abençoasse a sua própria família, mas também pediu que abençoasse os estrangeiros que achavam-se hospedados com eles.

    Os viajantes no sótão ficaram muito contentes e diz um ao outro:

– Agora sei que não estamos em perigo algum aqui. Podemos dormir sossegadamente, pois esta família é cristã.

     Deitaram-se e dormiram bem. Levantaram pela manhã, descansados e preparados para continuarem a viagem. 

   Depois deste acontecimento, ambos compraram Bíblias e principiaram estudar as doutrinas da religião cristã.

    Ambos foram convertidos, e um deles tornou-se pregador do Evangelho.

     Eis os efeitos do bom exemplo dado por estes pobres servos de Jesus, morando nas brenhas da América do Norte, em uma miserável choupana.

     Se estes homens tivessem feito certos sinais sobre o corpo e depois principiassem a beber, jogar e contar anedotas imorais, julgais que teriam produzido algum efeito bom sobre estes dois ateus? Creio que não.

    Irmãos, se desejais converter os homens, é preciso que viverdes a vossa religião. Uma simples profissão sem o coração não vale nada.

(Echo da Verdade)

IMPRENSA EVANGELICA.
VOL. XXIII, Nº 42, SÃO PAULO, 15 DE OUTUBRO DE 1887, p. 331.

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