Antonico e a garrafa



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Um rapazinho chamado Antonico estava assentado na porta de sua pobre choupana olhando dentro de uma garrafa, e dizendo consigo: “Será possível que tenha um par de sapatos aqui dentro?”

A sua mãe acabava de consertar a roupa dele e tinha-lhe dito que os seus sapatos estavam tão estragados que não podia mais usá-los.

Logo depois ele pegou numa pedra e quebrou a garrafa, mas não achando nenhum sapato dentro, assustou-se porque a garrafa era de seu pai; assustou-se de novo e pôs-se a chorar de tal modo que não ouviu os passos de alguém que tinha vindo, até que ouviu uma voz que lhe disse:

– O que é isto? Era a voz de seu pai e ele levantou-se assustado. – Quem foi que quebrou a minha garrafa? Gritou o seu pai.

– Fui eu, respondeu Antonico, soluçando.

– E por que quebraste-a? continuou o pai.

– Antonio olhou para ele admirado. A voz não era zangada como ele esperava. Verdade era que o pai ficara comovido ao ver a figura triste, tão pequena e acanhada de seu filho.

– Quebrei-a porque queria ver se tinha uns sapatos dentro, disse Antonico. Preciso muito de um novo par; todos os outros meninos têm sapatos e não andam descalços.

– Por que pensastes que havias de achá-los na garrafa? Perguntou-lhe o pai.

– Mamãe me disse assim. Pedi-lhe que me arranjasse uns sapatos e ela respondeu-me que estavam na garrafa preta, juntamente com muitas outras coisas, paletós, chapéus, pão, carne e todas as coisas que nós tanto precisamos. Lembrei-me de quebrá-la para ver se achava-as lá, mas não achei nada dentro. Sinto ter quebrado a tua garrafa, papai, não tornarei a fazer isto.

– Penso que não hás de fazer outra vez, respondeu o pai, pondo a mão na cabeça do seu filhinho antes de afastar-se.

Antonico ficou admiradíssimo ao ver que seu pai o tratava assim com tanta bondade.

Dois dias depois, este entrou na casa e deu-lhe um embrulho, mandando-lhe que o abrisse.

– Sapatos novos, sapatos novos! exclamou o pequeno. Arranjastes uma garrafa nova com sapatos dentro, papai?

– Não, meu filho, eu não vou ter outra garrafa. Tua mãe tinha razão de dizer-te que todas as coisas estavam na garrafa, mas tu viste que não é tão fácil tirá-las de lá.

Portanto com o auxílio de Deus vou endireitar tudo isto.

A AURORA.
VOL. 03, Nº 10, OUTUBRO DE 1894, p. 2-3.

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