HÁ INFERNO? (JOHN CHARLES RYLE [1816-1900])




     Leitor, quando uma casa se está queimando, que é o que primeiro devemos fazer? Dar alarme, despertar os moradores. Isto é verdadeiro amor ao próximo. É caridade verdadeira.

    Leitor, amo tua alma; desejo que ela se salve. Vou dizer-te algo do inferno. Não ponhas de lado o artigo ao ver esta palavra; lê-o.

   O inferno existe. Não te deixes enganar com palavras vãs. Aos homens se lhes faz difícil crer isto, porque obram mal; mas existe inferno.

Quando o Senhor Jesus Cristo vier julgar o mundo, castigará com uma pena terrível a todos os que permanecerem aferrados ao pecado, ao mundo e às coisas do mundo –  aos que estão sem Cristo,  – todos estes terão um fim muito triste. Qualquer que não está escrito no livro da vida, será “arrojado no lago de fogo” (Apocalipse 20:15). Este será o inferno.

   O INFERNO É ALGO REAL E VERDADEIRO. Existe como existe o céu. – De “não há inferno” a “não há Deus” não há mais que uns quantos passos.

O INFERNO TEM HABITANTES. “Os maus serão postos no inferno, e todas as nações que olvidam a Deus”. O mesmo bendito Salvador que agora ocupa o trono da graça, se assentará um dia no trono do Juízo, e os homens verão que existe –  “A ira do Cordeiro”. Os mesmos lábios que hoje dizem “Vinde”, dirão um  dia “Ide, malditos”. Que coisa tão horrível será serem condenados pelo próprio Cristo, julgados pelo Salvador!

O INFERNO SERÁ UMA AFLIÇÃO INTENSA E INALTERÁVEL. É em, vão dizer que toda as expressões que se referem a ele são figuras de discurso. O abismo, a prisão, o fogo, a sede, as trevas, o choro, o ranger de dentes, a segunda morte – serão, se quiserem, figuras de discurso; porém, as figuras da Bíblia significam ALGO que está fora de dúvida, algo que a mente humana – não poderá descobrir em toda a sua existência. Ah! leitor, as misérias da mente e da consciência são piores que a  do corpo! 

    Toda a extensão do inferno, o sofrimento e a mais amarga recordação do passado, a perspectiva sem esperança do futuro, nunca serão conhecidos de todos senão pelos que vão ali.


O INFERNO É ETERNO. É eterno ou as palavras não têm significação. Para sempre jamais”,  – “Eterno” –  Inextinguível”,    Que nunca morre”. São expressões usadas com relação ao inferno, expressões que não podem ser explicadas de outra maneira. Há de ser eterno, ou são friáveis os fundamentos do céu. Se ele tivesse fim, o céu o teria também. Ambos caem ou permanecem juntos. Os dois serão eternos, ou toda à doutrina do Evangelho será minada. E que garantia tem a afirmação de que o inferno poderá mudar um coração, ou acondicioná-lo para uma entrada no céu? Há de ser eterno ou deixará de ser inferno. Dás a um homem a esperança, e sobrevirá qualquer sofrimento. Dá-lhe uma esperança de livramento, ainda que seja distante, e o inferno não será senão uma gota d’água.
 
   Leitor, eu te rogo, com o afeto mais íntimo, guarda-te das opiniões falsas sobre o assunto de que  nos ocupamos. Guarda-te de forjares um Deus segundo teus pensamentos – um Deus que é todo misericórdia, mas não é justo  um Deus que é todo amor, mas que não é santo; –  um Deus que tem um céu para todos, mas não tem um inferno para ninguém;  um Deus que pode permitir que o bom e o mau estejam lado a lado por um tempo, mas que afinal não fará discriminação entre o bom e o mau na eternidade. Tal Deus é um ídolo forjado por ti, ídolo tão verdadeiro como os formados
de metal ou de barro. As mãos de tua fantasia e sentimentalismo o fizeram. Um céu que contivesse toda classe de caracteres sem distinção nenhuma, seria uma discórdia miserável. E que desgraça que tal céu fosse eterno! Haveria pouca diferença entre ele e o inferno. 


    Leitor, há inferno. Previne-te, não seja que o encontres a tua própria custa demasiado tarde. 


 GUARDA-TE DE TE CONSIDERARES SÁBIO SOBRE O QUE ESTÁ ESCRITO. Toma a Bíblia como ela é. Lê-a com o espírito de crença. Não digas: “Creio este versículo porque me agrada, e rejeito aquele outro porque não me agrada. Recebo isto porque entendo. Rejeito aquilo porque não combina com minhas opiniões. Quem és tu, homem, para que alterques com Deus?

Bispo J. C. Ryle


O Estandarte. Ano XXXV, Nº 46, São Paulo, 17 de Novembro de 1927, p. 8.

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