O TEXTO NA AREIA

 

Um dia, já há muitos anos, um cavalheiro andava passeando na praia, e vendo muitos homens d’aspecto rude sentados sem fazer nada, traçou na areia fina, com a bengala as grandiosas palavras do Evangelho, “Jesus Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores.”
Enquanto que escrevia estas palavras pedia a Deus que as abençoasse em alguns d’aqueles homens. Alguns desceram à praia para verem o que ele estava escrevendo, e dois ou três principiaram a caçoar. Um disse com arrogância:

 – “Olhe, ministro! O melhor é escrever o meu nome aí por baixo.”

– “Escrevo,” respondeu o cavalheiro, sem se mostrar ressentido com aquela falta de delicadeza. Diga-me o seu nome para eu escrever.”

O homem ficou envergonhado, mas deu o seu nome; suponhamos que era  João Poveiro.

Muito devagar, o estrangeiro escreveu o nome por baixo do versículo, e então lia-se: “Jesus Cristo veio ao mundo para salvar  João Poveiro.” Depois levantou-se e foi para casa.

A maré cada vez se veio aproximando mais d’aquelas letras feitas com auxílio da oração e bem depressa se apagaram. 

Ficaria a oração sem resposta, o esforço seria em vão? O servo do Senhor contentava-se com entregar nas mãos Dele que tinha dito: “O céu e a terra passarão, mas as Minhas palavras ficam.
Passaram-se alguns anos, e o cavalheiro um dia encontrou um amigo que lhe disse:

“Fui ver um moribundo hoje que confia com tanta simplicidade no seu Salvador e é tão feliz no Seu amor. Contou-me que principiou a interessar-se pela sua alma desde o dia em que há muitos anos um cavalheiro escreveu um texto na areia, e que ele por brincadeira lhe pediu para escrever o Seu nome por baixo. O estrangeiro fez o que ele dizia, e nunca pode esquecer as palavras da Bíblia; todos os dias se lembrava delas, e afinal recebeu-as como uma mensagem d’amor que vinha de Deus para a sua alma, e viu e creu que Jesus efetivamente tinha morrido por ele.

As letras escritas na areia, sumiram-se na areia, mas as palavras de Cristo não se sumiram do coração daquele homem. Foi exatamente como dizia Cristo, porque:

“O que Jesus cristo falou
Há de ser cumprido.”

A AURORA.

VOL. 03, Nº 6, JUNHO DE 1894, p. 4.

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