O QUE É A FÉ?



    Assim perguntou um médico incrédulo a um ser amigo, negociante, no quarto do qual ambos se assentavam tranquilamente durante uma tarde.

Sim, o que é a fé?

E o tom de sua pergunta involuntariamente trouxe à memória a pergunta de Pilatos:

Que cousa é a verdade?

Meu filho, disse o negociante sorrindo, a seu filho, um menino vivo que tinha com muito cuidado arranjado um exército de soldados de chumbo, e agora tão importante como um general na sua estimação própria, e estava de pé para mandá-los combater. Meu filho, leva outra vez teus hussares para a caixa de quartel, e faze-o depressa, sem objeção; são horas para ir à cama.

Pobre rapaz! Era tão difícil para deixar o seu divertimento favorito.

Quem podia culpá-lo por isso?

Lançou um olhar súplice para seu pai, mas de uma vez, viu no seu rosto a severidade inflexível.

Engoliu suas lágrimas, levou seus soldados aos seus bairros, abraçou seu pai e foi-se embora.

Veja, doutor, esta é a fé, disse o negociante.

Então, chamando outra vez seu filho, murmurou ao ouvido:

Escuta, meu filho, vou tomar-te comigo para a feira do outono em Hamburgo, logo que vier.

Exultando de alegria, o rapaz deixou o quarto.

Isto aconteceu-lhe por antecipação como se já fosse em viagem para Hamburgo.

Por muito tempo ouviram-no a cantar no seu quarto de dormir.

E outra vez o pai disse, dirigindo a palavra ao seu amigo:

Aquela se chama a fé, doutor. Neste rapaz se planta o gérmen da fé nos homens. Renda-se a seu Pai celestial com igual humildade e amor, com uma tal obediência e confiança, e sua fé será tão completa como a fé de Abraão, o pai dos crentes.

O doutor foi claramente refutado. Depois de um momento de silêncio, disse:

Agora conheço mais acerca da fé do que antes.

JORNAL O ESTANDARTE CHRISTÃO.
VOL. II, Nº 01, PORTO ALGRE-RS.
                         JANEIRO DE 1894, p. 2.       

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