O PASTOR DOS PIRINEUS
Há pouco mais de cem anos vivia em
Languedoc, que é uma das províncias setentrionais da França, um certo barão e
sua esposa, que tinham dois filhos, Theophilo e Sophia.
Estes meninos em extremo lindos eram gêmeos.
Era uma das cenas mais belas do mundo ver estes dois irmãozinhos deitados
dormindo no mesmo berço.
Theophilo era maior e mais trigueiro do que
Sophia; porém as suas nobres feições, espaçosa testa e cabelo preto ondeado,
davam a conhecer, mesmo na sua meninice, o que ele viria a ser se chegasse a
ser homem. Enquanto que também os lábios de rubim, as faces rosadas, a delicada
tez e o cabelo castanho de sua pequena irmã eram igualmente administráveis.
Muitas vezes os estrangeiros eram levados por seus orgulhosos pais e pelos
dependentes da família, para contemplar a beleza destes jovens infantis.
A sua beleza crescia com a idade, e
pareciam possuir todas as boas qualidades desejáveis, que ainda nos restam da ruína
do homem decaído.
Theophilo era de sentimentos elevados, e
de grande coragem natural; tinha facilidade de compreensão e maneiras cheias de
graça e dignidade. Unia a todas estas qualidades uma porção de orgulho que o
fazia julgar-se acima de tudo o que apenas parecia uma ação má, é o fazia sentir
com veemência o que ele considerava uma afronta.
Sophia participava muito das disposições
de seu irmão; porém, em lugar do orgulho e independência que cresciam nele,
ensinava-se-lhe que a delicadeza e a submissão são qualidades desejáveis em uma
senhora.
Ela era criada no retiro; ensinava-se-lhe
a ocultar os seus sentimentos, e a considerar seu irmão como a pessoa de quem
teria de depender no caso da morte de seu pai.
Theophilo e Sophia, à proporção que iam
crescendo, eram admirados pelo mundo, e por todas as pessoas que os cercavam,
não obstante não possuírem nem uma só graça cristã.
Ensina-se-nos que os frutos do Espírito Santo
são o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, a temperança e a mansidão, e que
todo aquele cuja natureza é renovada pelo Espírito de Deus, deseja além de
todas as cousas amar ao Senhor seu Deus com todo o seu coração, com toda a sua
alma, com todas as suas forças, e ao seu próximo como a si mesmo. Porém nunca
tinham ensinado a Theophilo nem a sua irmã a elevar em oração os seus corações
a Deus, e tão pouco a sentiria sua fraqueza e depravação. Eles tinham ouvido o
nome de Jesus Cristo, porém como nunca tivessem sentido a necessidade de um Salvador,
nunca tinham sido levados a procurá-lo. Estes jovens não tinham consciência
alguma da corrupção de seus corações, e, portanto não sentiam necessidade da
influência santificante do Espírito Santo. Possuíam, porém no grau o mais
elevado um belo e natural sentimento; este era a afeição que cada um consagrava
ao outro.
Esta
doce amizade crescia com eles desde o berço. Theopohilo era geralmente guardado
sob o cuidado de seus tutores e mestres, em uma parte da espaçosa casa de seu pai
muito distante daquela que era ocupada por sua irmã e sua aia; e por isso o seu
prazer era o maior possível quando o deixavam livre dos seus afazeres, brincar
com sua irmã no parque de seu pai, seguidos apenas a distância por um criado.
O parque era muito grande, e incluía uma
parte de terreno irregular com pequenos outeiros, vales, e bosques de árvores,
e se estendia ao pé de um dos Pirineus. Aqui e ali havia caminhos espaçosos bordados
de carvalhos e castanheiros, além dos quais se via ao longe os azuis topos das
montanhas.
Era um grande prazer para Theophilo e Sophia
subir a estes altos, explorar estes vales e prosseguir com passos desiguais aos
lugares mais recônditos e escondidos destas extensivas alamedas.
Aconteceu um dia quando tinham já quatorze
anos de idade, que em uma manhã de primavera foram além do lugar costumado, e
chegaram a um lugar elevado matizado de flores, onde viam um velho pastor
sentado sobre a relva,
lendo com muita atenção, enquanto as suas ovelhas pastavam perto dele. Nada se
ouvia na profunda solidão deste ermo que interrompesse a contemplação do pastor, senão o tocar da campainha do
carneiro-cabeça, os balidos do rebanho, e o ruído surdo de uma cascata pouco
distante.
– Vamos, disse Theophilo a sua irmã,
falar àquele velho pastor, e perguntar-lhe que livro é aquele que lê tão atentamente.
Ambos os irmãos subiram para ir ter com o
pastor que, assim que os viu aproximar, levantou-se, cumprimentou-os
humildemente, e pôs o livro com cuidado no seio.
Theophilo e Sophia ficaram admirados da
compostura e dignidade do porte deste homem velho, e esquecendo-se da inferioridade
do pobre pastor, aproximaram-se dele com menos altivez do que a que costumavam
a usar com pessoas de ordem inferior a si, e fazendo com que o velho homem se
sentasse na relva, sentaram-se-lhe em frente e entraram com ele em conversação.
Ao princípio eles fizeram muitas perguntas
ao pastor acerca do seu passado e da vida que levava, às quais ele respondeu
contando a simples história da sua vida.
– Meus amigos, disse ele, ignoro se
sabeis que existia antigamente, em certos vales das montanhas a cujos pés agora
descansamos, uma povoação de homens pobres, chamados por alguns Vaudois, e por outros Os pobres homens de Lyons. Estes homens
por nada eram mais notáveis do que por sua pobreza, e por seu desejo de servir
a Deus em simplicidade, tomando o seu santo livro por única regra de suas vidas,
e as suas promessas por herança.
Nasci no meio deste povo e com ele vivi até á
idade de quarenta anos, tendo sido abençoado com uma pia esposa e dois amáveis
meninos, e gozado a sociedade de uma mãe veneranda. Neste tempo, porém a nossa
gente caiu no desagrado do rei. Então fomos lançados de nossas habitações e sofremos
os maiores trabalhos. Minha velha mãe, minha mulher e meus filhinhos, não foram
capazes de resistir a tantas aflições, e sucumbiram. Fui privado de todos um a
um. Eles passaram para a glória, e eu fiquei solitário — e com tudo não só,
acrescentou o pastor, elevando os olhos ao céu com tal expressão de contentamento
que espantou a Theophilo e à Sophia, porque parecia mais do que humano, — eu
não sou só, tenho uma grande consolação e sou muito feliz.
– Feliz! repetiu Theophilo, como podeis
sê-lo? Segundo penso, não tendes prazer algum. Perdestes mãe! Esposa! Filhos! Sois
pobre; exposto ao frio e ao calor, e talvez que apenas tenhais uma pobre cabana
para abrigo durante a noite. O vosso alimento, não duvido que seja também ruim,
e os vossos vestidos são dos mais ordinários que há. Como podeis, pois ser feliz?
O pastor suspirou, e olhou cheio de
compaixão para
Theophilo
e sua irmã, dizendo:
– Tenho bastante dos bens desta vida
para satisfazer as necessidades obsolutas deste pobre corpo. Estou a serviço de
vosso pai, e o meu salário é suficiente para suprir-me de tudo o que necessito.
A este respeito vivo melhor que muitos dos profetas e dos apóstolos dos
primeiros tempos; porque eles foram tentados,
foram mortos ao fio da espada, andaram vagabundos, cobertos de peles de cabras,
necessitados, angustiados, aflitos: Uns homens de que o mundo não era digno;
errantes nos desertos, nos montes, e escondendo-se nas covas, nas cavernas da
terra. (Heb. 11:37, 38). E mesmo hoje em dia, quantos de meus irmãos,
servos de Cristo, sendo lançados dos lugares de suas habitações, andam sobre a
terra errantes, faltando-lhes as cousas mais necessárias à vida, sendo que no
entanto eu gozo de segurança!
– Porém,
disse Theophilo, não posso entender qual a relação que tudo isso pode ter convosco.
Se sois miserável não podeis deixar de sê-lo, sabendo que há outros que também
o são. De modo algum um tal pensamento vos pode fazer atualmente feliz; vós
dizeis que o sois, e deveras me pareceis tal. Contudo, como já vos disse, a
vossa situação é tal que faria a maior parte dos homens verdadeiramente
miseráveis.
IMPRENSA EVANGELICA.
VOL. IV, Nº 01. Sábado, 4 de Janeiro de 1868, p. 2-3.
O pastor tornou-se silencioso por um
momento, e pelo seu modo, parecia fazer oração. Afinal, olhou benignamente em
roda de si e disse: Vós não podeis entender como eu, pobre e desprezado velho,
possa ser feliz debaixo de circunstâncias que vos parecem inteiramente sem
conforto. Sentis piedade do mira; pensais que sou infeliz. No entanto as
rainhas orações por vós serão para que Deus vos faça em breve sentir o que eu
sinto, e vos leve a descobrir a pouca estabilidade dos prazeres e paixões
terrenas, para que sejais levados a procurar os prazeres que, vindo de uma fonte
celeste, não podem ser exauridos.
– Como! disse
Theophilo com altivez, não devo tomar prazer naquilo que possuo?
– Perdoai-me, disse o
pastor inclinando-se, foi levado por vossas questões a falar de mim mesmo, e a
patentear os meus sentimentos interiores sem refletir e não falarei mais.
– Não, disse Theophilo,
agrada-me ouvir-vos falar, porque nunca me encontrei com homem algum que vos
fosse semelhante. Dizei tudo o que sentirdes, porque apesar de não prometer
crer tudo o que disserdes, prometo que me não hei de ofender. Disses-lhes que desejáveis fôssemos semelhantes a vós, e que sentíssemos como vós sentis; e eu suponho,
que fôssemos feliz do mesmo modo. Dizei-nos, pois de que modo sois feliz, e em
que desejais que vos sejamos semelhantes.
–
A minha felicidade, disse o pastor, tem uma base permanente. Tudo o que há no
mundo, é concupiscência da carne, e concupiscência dos olhos, e soberba da
vida; a qual não vem do Pai, mas sim do mundo. Ora o mundo passa, e também a
sua concupiscência. Mas o que faz a vontade de Deus, permanece eternamente. (I
S. João 2: 16-17) Todo aquele que gasta a mais feliz e longa vida sobre a terra
há de morrer e há de descer à sepultura para não ser mais visto. Naquela hora
ele há de deixar infalivelmente todos os seus bens terrenos, tudo lhe será
tomado, nada lhe poderá dar conforto; e nenhuma destas cousas poderá mitigar o horror
da eternidade. Considero por tanto, que o homem mais feliz é aquele que, em
qualquer posição terrena, tem posto as suas esperanças naquilo que permanecerá
com ele até a hora da morte.
– Morte, interrompeu
Theophilo com altivez; o que tenho eu a fazer com a morte?
O velho pastor estremeceu e suspirou; e
então respondeu seriamente: — Está escrito: Deixai vir a Mim os pequeninos, e
não os embaraceis parque dos tais é o reino de Deus. (S. Marcos 10:14).
Theophilo mostrou-se ofendido e irado: e
por alguns minutos não pude conter-se. Porém a final o seu bom senso prevaleceu
sobre o seu mau humor, e disse:
– É certo que morrem
muitas pessoas mais moças do que nós, e creio que são mais felizes aqueles que
estão preparados para morrer, e não tem de arrepender-se do modo porque se
empregaram em sua vida; e vos agradecemos pelos vossos bons desejos, esperando
que sejam atendidas as vossas orações para que nada façamos que desonre a nossa
nobre linhagem, mas que vivamos honradamente e morramos em paz.
O velho pastor suspirou e moveu o seu cajado
para trás e para diante sobre a relva, como que em meditação profunda, ao passo
que Theophilo e Sophia se conservavam silenciosos.
Afinal o pastor levantou os olhos e
fitando-os em Theophilo disse:
– Ah, nobre mancebo,
não sabeis qual o erro fatal era que viveis! Oxalá que se abrissem os olhos do
vosso entendimento para que vísseis a verdade antes de ser demasiadamente
tarde, para que possais apreciar devidamente aquilo que somente pôde sustentar
um pecador moribundo na hora da morte; aquilo que só pôde habilitar um pobre,
fraco e velho pecador como, eu, a contemplar a morte com tranquilidade, e mais
ainda, com prazer, e esperar com esperança calma e firme essa importante
mudança.
– Há uma esperança,
continuou o pastor, que é capaz de confortar naquele dia terrível, em que a pompa
das riquezas, dos títulos, das honras, todas as doces carícias do mais vivo
amor, a lembrança das mais nobres ações, e os mais fortes vínculos da natureza
como um livro que se enrola (1), e quando todas as cenas terrestres serão dobradas
como um vestido, há uma esperança que, naquele tempo, se tornará mais clara, brilhante,
forte e substancial; e esta esperança é confiança na expiação e morte de Cristo,
pela qual sendo purificados os nossos pecados somos apresentados diante de Deus,
sem mancha, ruga, ou qualquer outra cousa semelhante.
– Esta foi a esperança
que sustentou minha mãe e minha mulher quando moribundas, e fez com que eu pudesse
com alegria entregar meus filhos que foram meu último conforto na terra, à
morte e à corrupção, tendo a feliz certeza que tendo eles morrido em Cristo,
hão de aparecer também com ele na glória. Esta é a esperança que torna muito
felizes os meus últimos dias de peregrinação sobre a terra, e o mais que posso
desejar para os filhos de meu amo é eles que possam participar desta bendita
esperança.
O pastor ficou silencioso e Theophilo e
Sophia levantaram-se e partiram; porém antes de irem muito longe, Theophilo
voltou para perguntar ao pastor o
nome do livro que o
acharam lendo com tanta atenção.
– É a Bíblia,
respondeu ele, e esta cópia me foi dada por minha mãe no seu leito de morte.
– A Bíblia! disse
Theophilo voltando para junto de sua irmã. Nunca vi tal livro, e hei de procurá-lo
na livraria de meu pai, quando voltar ao castelo.
Theophilo assim fez; e ao chegar à casa
entrou na livraria, e depois de uma longa busca, achou a Bíblia.
Este era um livro elegantemente
encadernado, co, fechos de ouro, e tinha pertencido a uma senhora da família,
que tinha sido afeiçoada aos Vaudois.
Theophilo conheceu que o livro era a Bíblia,
porque tinha letreiro nas costas; e por isso não abriu os fechos, mas levou o
livro para o seu aposento, esperando uma ocasião mais conveniente para examiná-lo.
Colocou por tanto o livro em sua estante, e em breve se esqueceu que o tinha
ali. Esqueceu-se também da conversa que tinha tido com o velho pastor, e por algum
tempo não se lembrou mais deste santo homem.
IMPRENSA EVANGELICA.
VOL. IV, Nº 02. Sábado, 18 de Janeiro de 1868, p. 11-12.
Quando Theophilo e Sophia chegaram à idade
de quinze anos, seus pais despediram os seus mestres, e lhes deram a liberdade
de empregar o tempo no que melhor lhes agradasse.
Todos os desejos de Theophilo eram
satisfeitos por seu pai, que lhe deu um magnífico cavalo e edificou para ele, a
um lado de sua casa, um elegante pavilhão com três apartamentos, um dos quais
era uma sala que dava para o jardim e era adornado de um pórtico nobre, cujos
pilares eram de mármore, e dele se viam todas as belezas do jardim. O segundo apartamento
era uma livraria que continha todas as qualidades de livros, entre os quais
estava também a Bíblia já mencionada. Nesta livraria havia uma bela coleção de
estampas e pinturas, e uma harpa para Sophia tocar quando estivesse com seu
irmão. O apartamento interior era o quarto de dormir, e nele havia todas as
cousas que pudessem tornar o sono deleitável.
O jardim para onde dava este pavilhão
continha toda a variedade de plantas e flores que o clima admitia. Os outeiros
se erguiam alcantiladamente além do jardim, donde pendiam graciosos arbustos, no
meio dos quais se mostravam belas cachoeiras que pareciam colocadas de
propósito aqui e ali para tornar a paisagem mais agradável. Ali no jardim podiam
ser ouvidos os cantos dos lindos passarinhos que de contínuo adejavam por entre
as árvores. A estes sons harmoniosos ajuntava-se a agradável fragrância das
flores do jardim, cujas belezas unidas o tornavam quase um paraíso terrestre.
Quando Theophilo se viu livre de seus
mestres e de seus afazeres diários, e posto na posse de seu pavilhão, jardim e
cavalo, julgou-se o mais feliz dos mortais e maior do que um rei. Ele então
convidava sua amável irmã para participar dos seus prazeres, e exprimia o
desejo, que ela passasse todo o tempo possível em seu pavilhão.
Ele tinha aprendido, quando pequeno ainda,
a montar a cavalo, e assim não experimentava dificuldade alguma em guiar o seu.
Achava grande prazer em passear montado
pelo parque e ensinar o seu corsel a corvetear e dar patadas no chão, a fim de
mostrar a sua destreza equestre.
Uma manhã, quando passeava a cavalo no
parque, encontrou o velho pastor levando um cordeirinho nos braços. Theophilo
fez parar o seu cavalo, e o pastor inclinou-se cumprimentando-o.
– Há muito tempo que
nós não encontramos, disse Theophilo, apeando-se do cavalo e dando a rédea ao criado
que o seguia.
– Pensei muito na
conversa que tivemos há tempos, porém ultimamente tenho sido tão feliz, que não
tenho tido tempo para pensar em vós. Olhai para este belo cavalo! acrescentou
ele. É meu. É mais ligeiro do que qualquer dos da estrebaria de meu pai! Agora já,
estou livre dos meus estudos e posso gastar os dias como me agradar. Tenho uma
variedade de prazeres. Meu pai não se nega a satisfazer nenhum dos meus
desejos. Agora, pois meu bom velho, creio que convireis que sou mais feliz do
que vós.
– Não argumentarei
agora convosco, disse o velho pastor sorrindo-se, porque não estais era estado de
ser convencido por qualquer cousa que eu vos possa dizer; lembrai-vos, porém
das palavras deste velho, e pensai nelas depois. Os prazeres que agora gozais são
enganosos e hão de cessar algum dia. Os vossos gozos deixarão de dar-vos gosto
com a mesma certeza que todo homem há de morrer.
– Sim, disse
Theophilo, todos os prazeres cessam com a vida.
– Não, respondeu o
velho pastor, antes da vossa morte haveis de perder o gosto da maior parte dos vossos
prazeres, e a morte vos privará do que por ventura ainda vos possa restar.
– Qual é a vantagem,
que tirais, disse Theophilo altivamente, de assim me perturbardes em meus
prazeres? Porque desejais tanto descontentar-me?
– Peço que me
perdoeis, senhor, respondeu o pastor, por ter-vos descontentado. Eu somente desejava
conduzir-vos à verdadeira e única fonte de prazer. Na Bíblia achareis um
conselheiro mais sábio e seguro do que este pobre velho.
– A Bíblia! disse
Theophilo. Hei de lê-la assim que chegar à casa. Chamou então o criado para que
lhe trouxesse o cavalo, e pulando em cima da sela disse ao pastor:
–
Nunca vos vejo sem que me façais descontente comigo mesmo. Mas, acrescentou ele
com mais brandura e menos altivez, creio que me não poreis de mau humor acerca
de meu cavalo. Dizendo isto cravou as esporas no cavalo e desapareceu da vista
do pastor, de quem em breve se esqueceu, como também de seus sábios conselhos. Esqueceu-se
também de procurar a Bíblia quando chegou à casa.
IMPRENSA EVANGELICA.
VOL. IV, Nº 03. Sábado, 1º de Fevereiro de 1868, p. 11-12.
Alguns meses depois disto, em um dia em que
Theophilo tinha voltado de seu usual passeio no parque,
foi
acometido por uma dor num lado, a que deu pouca importância, mas que assustou
tanto a seus pais, que mandaram chamar a toda a pressa o médico.
Theophilo foi condemnado pelo médico a
tomar muitos remédios, e o que ainda era pior para ele, foi proibido de dar os
seus passeios a cavalo; em consequência do que mandaram o seu belo cavalo para
fora.
Teophilo a princípio submeteu-se com enfado
a este tratamento; porém, achando a final que não havia outro remédio, e que
sua força e vigor pareciam restaurar-se, consolou-se com seu jardim, e gozava
mais deste novo prazer, porque Sophia o compartilhava.
Então ele principiou a formar novos projetos
com todo o ardor da mocidade. Ao pé da montanha que se elevava acima do jardim
havia um belo penedo adornado de parasitas e musgo. Theophilo desejou então que
ali fosse feita uma gruta para si e sua irmã. Empregou, portanto alguns homens
na escavação do penedo e outros em procurar nas fraldas das montanhas pedaços
de marcassitas e minerais para adornar a sua gruta. A escavação foi em breve
feita e os minerais e marcassitas colocados nos lugares onde produzissem o mais
agradável efeito. No dia em que se acabou a gruta Theophilo ordenou que o seu
jantar e a harpa de sua irmã fossem levados para ali. Então ele e sua amada
irmã sentaram-se na gruta satisfeitos e com os olhos brilhando de prazer.
Sophia divertiu a seu irmão durante o jantar tocando sua harmoniosa harpa.
Depois do jantar sentaram-se juntos a conversar e formar novos planos, e, pouco
depois se lhes apresentou o velho pastor trazendo em um pequeno cesto umas
poucas de belas petrificações que tinha achado em um lugar retirado da montanha.
O
pastor apresentou o cesto a Theophilo cumprimentando-o com humildade, e já se
retirava quando o moço o chamou para gratificá-lo com algum dinheiro. O ancião
recusou a gratificação e Theophilo o mandou assentar e deu-lhe um copo de
vinho.
O
pastor recusou também o vinho com cortesia e já ia retirar-se quando Theophilo
lhe disse:
– Demorai-vos um pouco: gosto de
ouvir-vos falar a pesar de me tornardes sempre descontente comigo mesmo. Desejo
que admireis a minha gruta e jardim. Não tenho eu todas as cousas que o mundo
pode dar para tornar uma pessoa feliz? E não é a minha felicidade aumentada com
a presença de minha irmã, a doce companheira de minha infância?
– É verdade, replicou o pastor, que
gozais de todos os prazeres em mui alto grau. Glorificai a vosso Pai celeste
para que vos dê prazeres eternos quando estes falharem.
– Tolo sou eu, disse Theophilo, por
conversar convosco quando vos vejo, porque sempre amargurais os meus prazeres
com as vossas tristes reflexões.
– Perdoai-me, replicou o pastor. Não
tive intenção de desgostar-vos. Talvez que me não entendêsseis. — Eu queria,
dizer que enquanto os vossos prazeres são inocentes, como parecem, em nada
diminuiriam se os consagrásseis ao serviço e à gloria de Deus. Gozaríeis menos
dos prazeres da presente vida se tivésseis a bendita segurança da vida eterna,
e dos prazeres que duram para sempre a mão direita de Deus? Ser-vos-ia menos agradável
esta gruta, acrescentou ele, dirigindo-se a Sophia, se ela fosse tornada em
lugar de oração pela purificadora influência do Espírito Santo; ou de contemplação
sobre a glória e excelência do Salvador que foi crucificado pelos pecados dos homens?
Oh meus amigos! acrescentou ele com os olhos arrasados de lágrimas, interessai-vos
pela vossa Salvação e procurai o Salvador enquanto pode ser achado. Em toda
esta vasta criação, em todo o universo mesmo, a cruz de Cristo é a única âncora
de esperança que pode sustentar o “pecador moribundo, quando já a cova e a destruição
o ameaçam tragar. — Permite que Deus vos guie por seus conselhos e vos receba
depois na glória.
Theophilo
ficou em silêncio olhando atentamente para o pastor, porém Sophia respondeu:
– E como poderemos conhecer os
conselhos de Deus?
– Pelo estudo das Escrituras Sagradas,
respondeu o pastor, porque elas contêm todo o conselho de Deus. Elas nos
ensinam primeiramente como o homem foi feito inocente e caiu por sua
desobediência incorrendo por sua queda na pena de morte espiritual e temporal;
ou em outras palavras, o seu corpo tornou-se corrupto e a sua alma,
completamente poluída pelo pecado. Assim, pois, como o homem não pode escapar
às moléstias, às dores e à morte temporal; tão pouco é capaz de fazer qualquer
cousa que seja boa e aceitável avista de Deus; e sendo por seu pecado alienado
de seu Criador está debaixo da maldição e condenação eternas.
– O que! disse Theophilo com altivez, afirmais
que todo o gênero humano é naturalmente tão vil e abominável que merece o
castigo eterno!?
– Perdoai-me, disse o pastor, eu não
desejava emitir minha opinião, e só o fiz porque me constrangestes
a
falar sem reserva.
– Certamente, disse Theophilo
reprimindo-se; ninguém vos pode culpar por isso. Vós credes que todo o gênero
humano é totalmente corrompido.
– Creio, disse o pastor, porque assim o
acho escrito nas Escrituras. Além disso, as suas palavras são confirmadas pela
experiência daqueles que, sendo iluminados pelo Espírito de Deus, se ocupam em examinar
seus próprios corações.
– Tendes então experimentado que o
vosso coração é corrompido? perguntou Theophilo.
– Sim, respondeu o pastor. Todas as
inclinações e pensamentos de meu coração são sempre para o mal, e o que ali
posso achar de bom não é meu próprio, mas sim a obra do Espírito de Deus.
– Surpreendes-me, disse Theophilo. Não
sinto esses movimentos do pecado em meu coração.
– Ah! replicou o pastor, vós não
podereis sentir o pecado até que Deus desperte o vosso entendimento contra ele.
O pecado domina absolutamente o homem natural, e conserva todos os seus membros
em sujeição como num sono de morte; porém quando este sono ou morte em pecado é
perturbado quando o desejo de fazer bem é excitado no homem natural e ele
começa a odiar o pecado, começa nele uma forte luta, e é então que principiamos
a sentir as algemas e cadeias com que estávamos d’antes ligados, e a dor delas
se torna intolerável.
– Tudo isto é para mim estranho, disse
Sophia e a ser verdade, vós e eu, Theophilo, estamos debaixo da condenação de
que o pastor falia.
– Eu porém não creio nisto, acrescentou
Theophilo.
Se
eu, por exemplo, tivesse estado toda a minha vida debaixo do domínio do pecado
tê-lo-ia cometido. Em que respeito, meu velho, continuou ele imperiosamente,
tenho eu vivido era pecado? Conheceis-me bastante para me responder a esta
pergunta.
– Esta conversação, disse o pastor, tem
ido além do que eu pensava que ela fosse. Desejo, porém, ser sincero.
A
minha religião me ensina que devo respeitar a todos os homens e a dar honra a
quem é devida honra, e tributo a quem tributo é devido: pego-vos por tanto
humildemente que não façais mais perguntas sobre este assunto.
– Falai sem receio porque não nos prenderemos,
disse Sophia; e eu estou curiosa por saber que ideia fazeis de nós.
–Não posso falar de vós nem de vosso
irmão em particular, disse o pastor, porque é muito pouco o que de vós sei.
Tudo que posso dizer, porém, é que tenho razões para pensar que tendes sido
educados por vossos pais em hábitos de moralidade, e não fica bem a uma pessoa
da minha condição aventurar qualquer juízo a vosso respeito.
—
Porém, disse Sophia, se tendes razões para crer que fomos bem educados por
nossos pais, e se, como dizeis, é pouco o que sabeis a nosso respeito, o que
faz com que vos dirijais a nós como a pecadores debaixo da condenação.
– É porque, disse o pastor, todos os
homens são pecadores e estão debaixo da condenação a menos que o proveito da
morte de Cristo lhes seja aplicado pela fé.
– Porém, disse Sophia, em que consiste
o nosso pecado? Como podemos nós ser pecadores, se fomos educados em princípios
de moralidade por nossos pais?
– O assento do pecado é o coração,
disse o pastor. As ações más não são mais do que o fruto produzido por este
coração mau; e muitas vezes se pode obstar a que façamos grandes crimes, mas na
presença de Deus o mesmo pensamento mau é um crime muito grave. Muitas vezes os
nossos amigos e parentes, e até o orgulho, e a prudência nos podem impedir de cometer
ações más, sem que por isso o coração, que só busca os seus prazeres, deixe de ser
menos corrupto e inimigo de Deus.
Muitas
pessoas, pois, vivem em pecado ainda que o não saibam, as suas afeições sendo
pervertidas, amando mais a si do que a Deus.
Peço
de novo que me perdoeis, e permitais que humildemente vos aconselhe que
consulteis a Bíblia sobre este assunto.
Dizendo
isto o pastor partiu e Theophilo disse a sua irmã:
– As conversas deste homem sempre me
perturbam e me fazem descontente com o meu estado; e, no entanto, sempre que o
vejo sinto-me inclinado a ouvi-lo falar.
Tomai
a vossa harpa e vede se podeis dissipar-me estas ideias tristes, e então amanhã
hei de procurar a Bíblia para lê-la.
Sophia,
pois, começou a tocar e falar com seu irmão acerca de novos projetos para o embelezamento
do jardim, até que a final se desfez a impressão que o pastor tinha produzido.
IMPRENSA EVANGELICA.
VOL. IV, Nº 04. Sábado, 15 de Fevereiro de 1868, p. 26-28.
Pouco
depois dos acontecimentos que temos narrado foram acabados todos os ornamentos
da frota de Theophilo. Este, porém, teve uma violenta recaída em sua moléstia,
que de tal maneira assustou seus pães, que imediatamente mandaram chamar o médico.
O
médico receitou mais remédios e proibiu que Theophilo fosse mais a sua gruta,
dizendo que devia permanecer em casa, e que só à tarde lhe era permitido
sentar-se à janela para contemplar seu belo jardim. Assim, pois, os amigos de
Theophilo encarregaram-se de suprir-lhe todos os divertimentos que sua situação
admitia, a fim de lhe tornar menos sensível sua reclusão.
Sophia
redobrava sua afeição e atenções para com ele. Estava sempre em sua companhia,
ora lendo-lhe, ora tocando sua harpa, ora contando-lhe histórias, às vezes
sentando-se com ele à janela que dava para o jardim, e outras trazendo-lhe aromáticas
flores e ia satisfazendo o menor de seus caprichos. E, como a moléstia de
Theophilo não fosse dolorosa, nem suas forças se tivessem diminuído muito, ele
esperava que em breve tempo se restabeleceria, e gozaria então de sua antiga
liberdade.
Uma
bela tarde Theophilo estava com sua irmã sentado à janela gozando da vista do
jardim e via um cordeirinho correndo e em seguida dele o velho pastor com seu
cajado em punho.
– Ali vai nosso amigo, disse Theophilo
a sua irmã. Chamai-o.
– Para que, querido irmão? respondeu
Sophia. Não vos põe a sua conversação sempre de mau humor?
– É verdade, replicou Theophilo, e não
obstante experimento incompreensível desejo de ouvi-lo conversar.
Sophia,
pois, para agradar seu irmão, saiu em busca do pastor e o trouxe até os degraus
do pórtico.
Pois
bem, meu velho amigo, disse Theophilo, aqui estou recluso pela moléstia em meu
quarto; julgo que isto vos pode oferecer um bom assunto para moralizar. Para
mim tendes sido um verdadeiro profeta.
Os
meus prazeres me estão abandonando antes de eu ter perdido o gosto por eles. Já
estou privado de meu cavalo e de minha gruta, e não sei ainda que outras
privações se seguirão a estas.
Theophilo
disse tudo isto, não com gravidade, mas naquele espírito de zombaria de que se
servem os moços profanos e sem juízo. O pastor, porém, parecia não reparar no espírito
em que ele falava e respondeu com seriedade:
–
Oh! meu querido senhor, deixai-me persuadir-vos enquanto ainda é tempo e a vida
vos dá lugar, a procurar ao Salvador. Lede vossa Bíblia, lede e estudai esse
precioso livro. Tomai o conselho de um velho; trabalhai por interessar-vos na
vossa salvação; lançai para longe toda a confiança que tendes em vós mesmo, e
confiai somente naquele que vos pode sustentar no dia em que os elementos com o
calor se dissolverão, e a terra e todas as obras que há nela, se atrasarão. (II
S. Pedro 3:10). Não duvido que tenhais uma Bíblia, acrescentou o pastor
dirigindo-se a Sophia. Se realmente amais a vosso irmão, lede-lha. Conduzi-o ao
Salvador, ao Cordeiro ensanguentado; segui-o com humildade na presente vida,
para que na futura o sigais na glória.
Enquanto
o pastor ainda falava, Theophilo mudou de cor e o espírito zombadeiro com que
tinha falado a princípio o abandonou. Quando o pastor acabou de falar ,
Theophilo disse-lhe:
–Hei
de ler a Bíblia, e dir-vos-ei qual a impressão que me causar na primeira vez
que vos vir.
–Pois
bem, disse o pastor cumprimentando-o, e retirou-se.
Assim
que o pastor se retirou, chegaram ao pórtico o pai e a mãe de Theophilo , que ali
passaram o resto da tarde em companhia de seus filhos. Theophilo vendo-se
cercado por seus amigos tornou-se muito alegre; suas sérias reflexões o
deixaram, e não pensou mais na promessa que tinha feito ao pastor.
IMPRENSA EVANGELICA.
VOL. IV, Nº 05. Sábado, 7 de Março de 1868, p. 36.
O
coração do homem, que esta apartado de seu Deus, é depravado e relutante. O
homem por natureza é inimigo de Deus, alienado de seu Criador e amante de si
mesmo. Todas as aflições que ele possa sofrer poucas vezes o fazem voltar a
Deus; mesmo as aflições são inteiramente incapazes de produzir este efeito, a
menos que a influência do Espírito Santo no coração do homem não coopere para
este fim. A experiência tem mostrado que a cousa mais trivial que atravessa o
caminho do peregrino em sua ida para Sião, diverte sua atenção e desvia seus
olhos, que deveriam estar inteiramente fixados na estrela que lhe serve de
guia.
Theophilo
e Sophia, pois, em breve se esqueceram da Bíblia, e talvez que se não tornassem
mais a recordar do pastor, se a força das circunstâncias não fizesse com que se
encontrassem outra vez.
A
moléstia de Theophilo se agravava mais de dia para dia: uma tosse constante o
afligia, suas forças o abandonavam, emagrecia a olhos vistos, e foi obrigado a
sujeitar-se a novas privações; pois que o médico não lhe permitia mais o gozar
do fresco da tarde no pórtico de sua sala e ordenou que não saísse de seu
quarto, ou sua livraria. Sua fraqueza era tal que o obrigava a estar deitado no
sofá todo o dia; tinha muito fastio e estava tão desassossegado que nem podia
ouvir sua irmã tocar na harpa, ler-lhe, nem mesmo falar-lhe.
O
médico vinha vê-lo todos os dias, e depois de experimentar todos os remédios de
que se pode lembrar, receitou-lhe uma infusão de certa erva muito rara, que
crescia sobre as montanhas.
De
todos os servos do barão, nenhum conhecia tanto as plantas silvestres como o
velho pastor. Consequentemente este foi encarregado de procurar a tal erva e
trazer a infusão dela a Theophilo.
Quando
o pastor entrou trazendo-lhe o remédio, Theophilo estava languidamente deitado
sobre o sofá. Vendo o pastor aproximar-se lembrou-se das conversas, que com ele
tinha tido, e de ter quebrado a promessa que lhe fizera a última vez que se
tinham visto. Então um repentino sentimento de vergonha fez corar sua pálida
face, e levantando-se disse:
– Não guardei a
promessa que vos fiz. Ainda não li a Bíblia.
– Sinto muito,
replicou o pastor. Tendes-vos privado de um grande conforto, daquilo que talvez
em breve possa ser vossa única consolação. Já tendes experimentado, moço como
sois, quão enganosos são os prazeres terrestres, que facilmente desaparecem da mão
que os segura.
– Certamente, disse
Theophilo com seriedade. Tenho experimentado o que dizeis, porque tenho sido
privado de todos os meus prazeres um a um, e tenho pouca esperança de gozar deles
outra vez.
– Oh! não faleis
desse modo querido irmão, disse Sophia debulhando-se em lágrimas. O mesmo dia
nos viu nascer e sinto que não vos sobreviveria por muito tempo: não faleis,
pois da morte. Haveis de viver muitos anos para fazer a felicidade de vossa
irmã.
– Senhora, disse o
pastor, se realmente amais vosso irmão, não tenteis enganá-lo, nem alimenteis
esperanças, que não podem ser cumpridas. A sentença de morte pesa sobre todo o
gênero humano, e só a Deus Todo Poderoso compete decidir se ela será em breve
executada sobre vosso irmão ou não. O que é certo, porém, é que ele já tem
recebido diversos avisos terríveis, que o devem levar a examinar-se seriamente
se em seu estado presente pode aparecer diante de Deus, reto Juiz de todos os
homens, e cujos olhos são tão puros que não podem encarar a iniquidade.
– Não me lembro de
cousa alguma que tenha feito, disse Theophilo, que me faça temer a morte.
– Considerai,
replicou o pastor, que Deus é um ser perfeito em todos os seus atributos. Ele é
perfeitamente santo, sábio, misericordioso e justo. A justiça perfeita não pode
perdoar pecados nem admitir um pecador ao gozo da felicidade. Se, portanto,
tendes ofendido a santa lei de Deus, mesmo no mais pequeno ponto, tendes também
incorrido na pena do desagrado de Deus, e estais debaixo de sua ira e da
vingança da justiça divina. Deveis, pois, esforçar-vos por procurar a retidão
de um homem que nunca pecou, para que vestindo-vos dessa retidão, possais sem
temor aparecer na presença de um Deus santo. Este homem é Jesus Cristo, Deus
revelado em carne, aquele que cumpriu toda a justiça. Recorrei a Ele e vos
preservará; Ele será para vós retidão e salvação. Estas são as palavras de uma
das mais gratas promessas de Deus: Não
temas, porque Eu sou contigo: não te desencaminhes, porque Eu sou teu Deus: Eu
te confortarei e te auxiliarei, e a destra do meu justo te tomou. (Is. 41:10).
Theophilo
suspirou e conservou-se em silêncio, e Sophia estava quase sufocada pelo
pranto. — O pastor tendo-se inclinado já se retirava, mas voltou de novo e
disse:
–
Meus jovens amigos, tomai, eu vos peço, o conselho de um ancião; lede a Bíblia
e fazei dela o vosso estudo.
–Ficai
certo de que a leremos, disse Theophilo. O pastor retirou-se, e Theophilo
ordenou a um criado que trouxesse de sua estante a Bíblia e a pusesse sobre a mesa.
O criado obedeceu e pôs a Bíblia no lugar que lhe tinham ordenado, porém naquele
momento o médico entrou e a Bíblia teve de conservar-se fechada. Naquela tarde Theophilo
pensou muitas vezes em lê-la, mas sentia-se indisposto para dar-se a este
trabalho e por seu entendimento na devota procura de seu Deus.
IMPRENSA EVANGELICA.
VOL. IV, Nº 06. Sábado, 21 de Março de 1868, p. 47-48.
No
dia seguinte aos acontecimentos narrados, Theophilo sentiu-se muito pior. Não
pode levantar-se da cama, não podia comer quase nada, nem suportar a luz do
dia. A dor que tinha em um lado tornava-se cada vez mais aguda, sua tosse
tornou-se continua, diminuíam-se cada vez mais para ele os prazeres que desta
vida lhe restavam, e parecia iminente o termo de sua existência.
Depois
de uma noite de dores e sofrimentos, que lhe parecia a última da vida, pedia
que seus pais e irmã viessem sentar-se ao lado de sua cama. Eles vieram, e em quanto
sua mana se desfazia em lágrimas à sua cabeceira, ele se dirigiu a todos nos seguintes
termos:
—
Sinto avizinhar-se-me a morte e a necessidade de preparar-me para ela, e vos
mandei pedir que viésseis aqui para que désseis alguma consolação ao meu espírito,
que agora sofre mais que meu corpo agonizante. Dizei-me em que devo firmar
minhas esperanças além da morte e onde poderei achar consolação.
O
Barão e a Baronesa ficaram aterrados com esta pergunta. Eles pertenciam ao
número daqueles que tão comumente em França se chamam Católicos Romanos, mas
que de fato não têm religião alguma, apenas crendo na existência da divindade.
Não tendo, portanto, consolação alguma para administrar a seu filho, olharam um
para o outro admirados e silenciosos.
A
Baronesa foi quem primeira quebrou o silêncio, debulhando-se em lágrimas e
beijando a mão de seu filho.
–
Meu filho, disse ela, meu querido filho, não fales assim da morte. Nós não
podemos ser privados de ti, nem sofrer tua separação.
–
Minha mãe, respondeu Theophilo com emoção, não tenteis enganar-me deste modo.
Sinto que vou morrer, e vos peço que me digais de que modo devo aparecer ante o
Juiz de todos os homens.
–
Porque temes? disse a Baronesa. Se há Deus, um jovem virtuoso como tens sido não
deveria temer de comparecer em sua presença, mas antes pelo contrário esperar
receber de sua mão a recompensa de seus méritos.
–
Se há Deus! repetiu Theophilo. Se eu tenho um Criador e Benfeitor divino, e
tenho vivido até agora na maior negligencia e desprezo dele onde estão meus
méritos para com ele? O que tenho eu feito para com meus semelhantes? Sinto neste
momento terrível que ainda que tivesse devotado a maior parte da vida, e os
mais fortes poderes do entendimento ao serviço de meu Deus e de meus
semelhantes, não me atreveria a comparecer em sua presença confiando nestas
boas obras, nem a alegar estes serviços imperfeitos naquele lugar em que só é
admitida a perfeição absoluta. Há um Deus, minha mãe, acrescentou ele, olhando
atentamente para a Baronesa; sinto que há um Deus justo e Santo, e que em breve
tenho de comparecer em sua presença para dele receber minha eterna sentença!
–
Querido irmão, disse Sophia, não vos posso ouvir falar assim!
–
Sophia, disse Theophilo, fica certa de que me não podes confortar. Quanto mais
te tenho amado, mais dificultosa se torna para mim a separação que prevejo em
breve vai ter lugar. É chegada aquela hora, em que as riquezas tomam asas e os títulos
se desvanecem no ar; em que os prazeres passados se tornam em mordeduras de
serpentes; em que nem pai, mãe, esposa ou marido podem dar qualquer conforto;
em que os mais doces laços d’amor, acrescentou ele olhando para sua mana, as
amizades formadas ainda no berço têm de ser dissolvidas; em que o olho e o
ouvido não podem ministrar-nos delícia alguma; em que o estômago recusa o
alimento, e em que finalmente a sepultura espera sua presa.
Este
é o momento a que tenho chegado, e não tenho esperança alguma que me anime. Theophilo
tinha feito um grande esforço falando tanto, pouco depois desta conversa, pois
começou a dizer palavras sem nexo e o médico chegando, viu-se obrigado a
dar-lhe um narcótico.
Depois
de ter dormido por algumas horas Theophilo acordou ao meio dia tendo mais sossegado
o seu espírito. Sua irmã, que tinha ficado encostada ao pé de sua cama, tinha
cedido ao sono e ao cansaço, e estava dormindo. O criado que assistia de
continuo a Theophilo vendo-o acordar, perguntou-lhe se queria que chamasse um
padre.
– Não, respondeu Theophilo, traz-me a Bíblia,
que deixei sobre a mesa.
O
criado obedeceu, e Theophilo recebendo o livro abriu-o e começou a voltar as
folhas. Depois de alguns segundos de exame disse, olhando com ansiedade para o
criado:
– Quero achar meu Salvador. Onde o
acharei?
– Senhor, respondeu o criado, permite
que chame um padre.
– O que eu quero, disse o pobre
Theophilo, é achar meu Salvador.
Sua
voz acordou sua irmã, que despertando perguntou:
– Que queres, meu querido irmão?
– Quero achar meu Salvador, disse
Theophilo apontando para a Bíblia, que por falta de força tinha deixado cair
sobre a cama.
Shophia
tomou, pois a Bíblia, e começou a procurar, porém não podendo achar o que
procurava pôs o livro sobre uma cadeira e disse:
– Oh! meu Theophilo, talvez que se
tivéssemos seguido o conselho do velho pastor pudéssemos agora achar conforto
neste precioso livro.
– O velho pastor! repetiu Theophilo com
avidez, mandai-o chamar já.
Theophilo
foi obedecido e o pastor veio.
IMPRENSA EVANGELICA.
VOL. IV, Nº 07. Sábado, 04 de Abril de 1868, p. 54-55.
Ao
entrar o pastor, o moribundo jovem lhe estendeu a mão dizendo:
—
Meu amigo e conselheiro, vós me quisestes guiar ao caminho da paz, mas eu
recusei seguir vossos conselhos. Sou agora chegado ao tempo predito por vós ainda
quando me davam prazer as cousas deste mundo.
—
Senhor replicou o pastor, estais chegado ao estado espiritual em que vos
desejava ver há anos. A alma imortal não se pode satisfazer com os prazeres transitórios
do mundo, requer alguma cousa mais.
Contudo,
o homem é tão miserável, que é levado por sua natureza corrupta a amar as
cousas terrenas e é de fato alienado de Deus; que se pega a qualquer esperança
enganosa, mais do que à salvação que lhe é oferecida; e que lhe foi comprada
pelo Filho de Deus. Porque assim amou
Deus ao mundo, que lhe deu a Seu Filho Unigênito; para que todo o que crê Nele,
não pereça, mas tenha a vida eterna. S. João 3:16
– Porém eu, disse Theophilo, não tenho
esperança, nem refúgio, nem confiança; estou totalmente por terra.
– Por terra! Pelo que?! disse o pastor.
– Por meus pecados, replicou Theophilo.
Primeiramente me dissestes que eu era pecador, e que meu coração era totalmente
corrupto e alienado de Deus. Não acreditei então que isto fosse assim, mas
agora creio que nada de bom há em mim. Onde está agora a minha confiança de
então? Ajuntou ele suspirando e levantando os olhos para o céu. Dizei-me,
continuou ele com veemência, pode para mim haver alguma esperança? Quem me
defenderá quando for chamado à presença de Deus?
O
pastor tomou a Bíblia de cima da cadeira e leu:
–Vinde a Mim todos os que andais em trabalho, e vos
achais carregadas, e Eu vos aliviarei. (S. Mat. 11:28). Estas são as palavras, acrescentou o pastor, que nosso Salvador Jesus
Cristo dirige a todos aqueles, que sentem o peso de seus pecados, e sofrem com o
peso desta intolerável carga. A estes o Redentor diz: Vinde a Mim e vos aliviarei. E outra vez: 0 que vem a Mim, não o
lançarei fora. (S. João 6: 37).
– São essas realmente as palavras do
Senhor Jesus? replicou Theophilo. Seguramente não me enganaríeis nesta hora
terrível.
– Não, disse o pastor. Porque duvidais?
Tenho-vos eu enganado até aqui? Não vos disse eu que no vosso leito de agonia
não vos confortariam as distinções e os bens deste mundo? Não fui eu sempre sincero
para convosco nos dias de vossa prosperidade? Como, pois vos enganaria agora?
– Creio que não sois capaz de fazê-lo,
disse Theophilo, mas eu sou tão grande pecador... Aos olhos do Deus santo, uma criatura
de pensamentos impuros como eu, deve ser um objeto repugnante. Oh! Sinto que não
posso ser salvo! Essas doces promessas, que repetistes não são dirigidas a mim.
– Sinto-me em grande dificuldade para convosco,
disse o pastor, em razão de tendes de aprender a vossa religião no momento em
que mais precisais de suas consolações.
– Porém eu desejo aprender alguma
cousa, disse Theophilo, seja ela qual for.
O
pastor levantou os olhos ao céu em ação de graças e disse:
–Desejais fazer bem. Quem criou este
desejo em um coração soberbo e obstinado? Quem senão Deus? Que tendo começado
em vós a boa obra a aperfeiçoará.
O
pastor tomou então a Bíblia e leu a historia da criação e queda do homem, como
é dada na primeira parte do livro de Gênesis. Depois fechou o livro e ajuntou:
– Conheceis agora, meu jovem amigo, o
modo pelo qual a natureza do homem se tornou corrupta. Os terríveis efeitos da
queda de nossos primeiros pais envolveram toda a sua descendência. O primeiro
homem, Adão, trouxe ao mundo a morte temporal e espiritual, e a natureza humana
se tornou tão total e inteiramente corrompida, que todo o indivíduo deve, como
diz o mesmo Salvador, nascer outra vez antes de poder entrar em seu reino: a alma
tem de ser renovada pela influencia do Espírito Santo, e a parte material, que
é nosso corpo, tem de ser desfeita antes de ser purificada.
Foi
necessário então que Theophilo tomasse algum repouso, porém ele não permitiu
que o pastor o deixasse. Seu sono foi curto, e acordou chamando pelo pastor, a
quem disse quando o viu:
–Pensei que me tínheis deixado.
Peço-vos que me não deixeis, porque se me deixardes, ficarei realmente só.
–Dizeis mal, disse o pastor. Sou um pecador
como vós, e não deveis olhar para o homem, mas só para Deus.
– Sim, disse Theophilo, mas vós me
guiareis para Deus.
– Espero fazê-lo com sua ajuda,
respondeu o pastor; porque sem ele não podemos fazer cousa alguma.
A
conversação que se seguiu foi sobre a natureza de Deus, sobre as três sagradas
pessoas da Divindade, e ofícios de cada uma delas. O pastor mostrou a Theophilo
como o Pai, o Filho e o Espírito Santo obram juntos na salvação do homem: o Pai
por Seu amor em dar Seu Filho, o Filho por Seus sofrimentos e o Espírito Santo
limpando e purificando os corações.
Não
foi sem dificuldade que Theophilo recebeu estas doutrinas, e se convenceu que
só podia ser justificado pela fé em Jesus Cristo e que não havia outro meio de
salvação. No entanto ele orou ardentemente junto com o pastor, para que Deus lhe
desse fé, e implorou humildemente o ensino do Espírito Santo.
IMPRENSA EVANGELICA.
VOL. V, Nº 08. Sábado, 18 de Abril de 1868, p. 59-60.
Por
alguns dias Theophilo parecia melhorar, e o pastor aproveitou esta ocasião para
levar avante com o favor de Deus, a obra que nele foi começada. Ele orava muito
com Theophilo, a quem ensinava a examinar seu coração e a humilhar-se aos pés
da cruz.
Tanto
o Barão como a Baronesa e os domésticos não gostavam que o pastor estivesse
tanto com Theophilo e só a muitos rogos e lágrimas de Sophia é que foi
permitido a Theophilo ter o pastor sempre consigo.
Estamos
agora chegados quase ao termo da vida do jovem e nobre Theophilo. A moléstia
tinha-se abrandado e lhe deu dez dias de sossego, tempo este em que o pastor
trabalhou ardentemente para levá-lo ao caminho direito; e apesar de estar
Theophilo profundamente oprimido pelo conhecimento de seus pecados, era
evidente que ele crescia em graça e no conhecimento de seu Salvador. É verdade
que então não podia aplicar para seu conforto as ricas promessas do Evangelho,
mas seu zelo pela glória do Deus e seu amor pelas almas dos homens se tornavam de
dia para dia mais brilhantes e ardentes, e ao mesmo tempo sua humildade se
fazia cada vez mais notável.
A
afeição que consagrava à sua irmã, também se tornava mais espiritual; e muitas
vezes quando estava só com ela a exortava a importar-se com sua salvação com veemência
tal como só o amor mais santo e ardente podia excitar.
Discutia
também com seus pais, do modo o mais afetuoso, sobre este mesmo assunto; e
ninguém considerava indigno do seu mais terno cuidado pelo bem de suas almas.
Quão
agradáveis e belas não eram as influências do Espírito, exemplificadas co caso
de Theophilo! Como estava o vale exaltado e arrasada a montanha! (Is. 40:4.)
No
fim destes dez dias Theophilo foi de novo acometido pela enfermidade, mais
violentamente do que antes. Por três dias este jovem sofreu muito, tanto na alma
como no corpo. A morte parecia prestes a descarregar-lhe o golpe fatal, e ele
ainda não podia lançar mão de promessa alguma que lhe desse paz.
Passava
então pelo vale das sombras da morte, e o rei dos terrores o cercava com todos
os seus artifícios. Em sua angustia exclamou muitas vezes a propósito: Porque escondes tu de mim o teu, rosto, e
porque me julgas tu teu inimigo? (Jó 13:24). Porque te apartaste tu, Senhor,
para longe, e me desamparas nas necessidades e na tributação? (Sal. 10:2 parte
1)
Durante
todo este tempo o fiel pastor esteve sempre à cabeceira de sua cama dizendo-lhe
palavras de consolação, lendo-lhe a Bíblia e orando com ele e por ele.
Costumava dizer-lhe:
–
Teu Pai celeste me enviou a ti com esta mensagem: Por um momento, num breve espaço te deixei; mas Eu te congregarei com
grandes misericórdias. No momento da Minha indignação escondi de ti por um
pouco a Minha face, mas com sempiterna misericórdia Me compadeci de ti, disse o
Senhor teu Redentor. (Isa. 54: 7,8). Não vos hei de deixar órfãos; Eu fiei de
vir a vós. (S. João 14:18). Para pôr os que choram em Sião, e dar-lhes coroa por
cinza, óleo de gozo por pranto; em lugar de espírito de tristeza, manto de
louvor: e os que estão nela serão chamados os Fortes de justiça, plantas do
Senhor para lhe darem glória. (Is. 61:3)
Theophilo
algumas vezes respondia, dizendo:
–
Essas palavras são muito agradáveis, mas não me são dirigidas; eu sou tão vil, tão
pecador...
Ao
cabo de três dias, no entanto, ele estava mais sossegado; a luta parecia
acabada, e a amargura da morte passada. Já não podia conversar com o pastor,
mas a expressão de sua fisionomia era de paz. Ele disse ainda:
–
Vejo meu Salvador e estou satisfeito.
Nas
últimas horas de sua vida, tinha muito prazer em ouvir o pastor repetir as
palavras de vida eterna e as promessas do Evangelho. Uma vez ele disse:
–
Vossas palavras me são agradáveis.
A
última pessoa que conheceu foi sua querida Sophia, cuja mão beijou poucas horas
antes de expirar. Enquanto conservou os sentidos não consentiu que tirassem a Bíblia
de sua cabeceira. Suas últimas palavras foram:
–
Meu Salvador eu vou para ti.
Seus
últimos momentos lhe foram comparativamente tranquillos.
Assim
morreu o nobre Theophilo no décimo nono ano de sua idade, sem ter ainda
atingido a estatura e beleza varonil. Pode-se dizer a respeito dele: O senhor abateu no caminho sua força, e
abreviou seus dias.
Ah!
De que serviu a Theophilo, na hora de sua morte, ser o único e muito amado
filho de uma família nobre, ter nascido herdeiro de uma grande fortuna, ser
inteligente e belo, ter gozado saúde, e ter sido preservado de hábitos imorais!
De que lhe valeram todas estas cousas! Ele veio a conhecer que a lembrança de
nada disto podia dar consolação nem esperança a um moribundo. Não pode ser
confortado pelo Salvador senão depois de ser levado pelos seus muitos sofrimentos
a renunciar-se a si mesmo e a cair ferido e nu aos pés da cruz. Permiti que vos
peça, caro leitor, que lanceis de vós toda a confiança que possais ter em vós
mesmo ou em qualquer cousa que praticardes, e que vos lanceis com Theophilo e
com todos os santos da antiguidade, humilhado e desamparado, aos pés da cruz de
Cristo.
Theophilo
foi sepultado, segundo seu próprio desejo, em um cemitério de Vaudois, situado
em um dos vales mais solitários dos Pyreneos, perto das sepulturas de certos indivíduos
de sua família, que tinham protegido os Pobres Homens de Lyons, e professado a
mesma fé.
Imediatamente
depois da morte de seu irmão, Sophia foi acometida da mesma moléstia fatal que
lhe tinha posto termo à existência. O progresso desta enfermidade foi apressado
pela tristeza que se apoderou dela pela morte de seu irmão. Poucos meses depois
ela expirou também e seguiu Theophilo à sepultura.
O
velho pastor fez companhia também à Sophia durante sua enfermidade, e quando
também a viu morrer em paz e na santa esperança de ir ter com seu Salvador,
exclamou: Agora é, Senhor, que tu
despedes no teu seio em paz, segundo a Tua palavra; porque tenho visto Tua
salvação!
Não
é sabido o modo porque os pães de Theophilo acabaram seus dias; mas há razão
para crer que os acabaram santamente, porque conservaram em sua casa o velho
pastor enquanto viveu, e tinham muito prazer em ouvi-lo falar.
Sophia
foi, a seu próprio pedido, sepultada no mesmo jazigo de seu irmão: e na lápide
que cobria a sua sepultura foram gravadas as seguintes palavras:
CONSAGRADA Á MEMÓRIA
DE
THEOPHILO E SOPHIA
ÚNICOS FILHOS
DO
BARÃO DE *...
Que
morreram no ano de nosso Senhor Jesus Cristo de 1721, aos dezenove anos de sua
idade, confiando só em Cristo para a salvação, e só em sua morte para o perdão
de seus pecados e paz de suas consciências.
Eram
amáveis na sua vida, e na morte não se separaram.
II
Samuel 123.
Fim.
IMPRENSA EVANGELICA.
VOL. V, Nº 09. Sábado, 02 de Maio de 1868, p. 67-68.
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