Travou-se outra
vez a luta, e Valente recuou a principio; mas, logo tomou ânimo, e deu com
tanta força na cabeça e no lado do gigante, que este deixou cair sua espada;
então Valente feriu-o o matou-o, tirando-lhe a cabeça, a qual trouxeram para a
casa, onde levantaram-a n’uma estaca para servir de advertência a todos que
procedessem como ele. Levaram também consigo para a casa, Inteligência Fraca, e
perguntaram-lhe de que modo tinha caído nas mãos do gigante.
Inteligência Fraca. — Sou homem muito doentio, como
vedes, e a morte veio batendo a minha porta todos os dias, de modo que julguei
que nunca havia de gozar saúde em casa; portanto, encetei esta viagem, e tenho
chegado até aí. Sai da Vila de Incerteza, onde nasci, e também meu pai. Não
tenho forças nenhuma, nem do corpo, nem do espírito, mas, contudo, queria fazer
esta viagem, ainda que tivesse de me arrastar pelo caminho. Quando cheguei à
porta estreita, à entoada do caminho, o senhor da casa me acolheu com muita
bondade, não disse nada a respeito do meu corpo abatido, nem do meu espírito
fraco; porém me deu todas as cousas necessárias para a viagem, e me disse que
esperasse até o fim. Quando cheguei à casa do Intérprete, também me mostraram
muita bondade, e visto que o Monte Dificuldade era muito custoso para mim, ele
mandou um dos seus servos levar-me nos braços morro acima.
Contudo nenhum outro peregrino queria
andar tão devagar como eu me acho forçado a andar, todos mo tem ajudado, e ao
passar para diante, me disseram que não ficasse desanimado, que era a vontade
do Senhor que os fracos se consolassem — I Tessalonicenses 5:14. Quando cheguei
à Travessa do Assalto, encontrei-me com este gigante, e ele mandou preparar-me
para lutar com ele. Mas, ai de mim, não pude, e ele se apoderou de mim. Julguei
que não havia de me matar; também quando levou-me a sua cova, assentei que
havia de sair vivo, porque tenho ouvido dizer que nenhum peregrino que está
arrebatado violentamente, sem consentir, se guardar a fé, pode perder-se, segundo
as leis do reino.
Fui roubado, e isso esperava, mas vedes
que tenho escapado com a vida, e por isso dou graças ao Rei, e a vós seus
servos. Sei que hei de encontrar outras dificuldades, mas nisso estou resolvido;
hei de correr quando puder; não podendo correr hei de andar; não podendo andar
hei de arrastar-me pelo caminho.
Quanto ao mais, graças Àquele que me amou,
sei em quem tenho crido, o caminho está adiante de mim; meu espírito é minha
esperança estão além do rio que não tem ponte, não obstante ter eu pouca inteligência.
Honesto. —Não conheceu há tempo um tal Temente?
Inteligência Fraca. — Conheço-o, sim; saiu da cidade
de Estupidez, que está algumas quatro léguas ao norte da cidade de Destruição, e
igualmente distante da minha casa;
conhecemo-lo muito bem, pois era meu tio, irmão de meu pai. Parecíamos muito um
com o outro; ele era um pouco mais baixo que eu, mas tínhamos as mesmas
feições.
Honesto. —Vejo que conhecia-o, e acredito que sois
parentes, porque tem o mesmo olhar tímido, a mesma cara pálida, e também o mesmo
modo de falar.
Inteligência Fraca. — Assina dizem todos; eu também
acho em mim as mesmas disposições e enfermidades que ele tinha.
Gaio. — Tem bom ânimo, és bem-vindo, a minha casa te é
franca. Pede tudo que quiseres, e meus servos estão às tuas ordens para
servir-te.
Inteligência Fraca. — Isto é um favor inesperado; é
como uma luz que resplandece nas trevas. O gigante, Destroi-o-Bem, quis me
fazer este favor quando me impediu, e não me quis deixar passar. Quis ele
depois de me roubar que eu fosse à casa de Gaio.
Enquanto assim falavam, veio alguém
correndo, e batendo à porta, disse: “D’aqui à meia légua, um certo Sr. Errado,
um peregrino, foi fulminado por um raio.
Inteligência Fraca. — Deveras, foi morto! Há poucos
dias autos de chegar cá me alcançou no caminho, e quis me acompanhar. Também
estava amigo quando Desitroi-o-Bem me pegou, mas como era muito ligeiro, elle
escapou. Porém, ele escapou para morrer, e eu fui preso para viver.
Logo depois, Matheus e Phebe casaram-se, também
Gaio deu sua filha Phebe em casamento a Thiago. Depois deste casamento passaram
alguns dias em casa de Gaio, gastando o tempo como é costume dos peregrinos
nestas ocasiões.
Na véspera da sua partida Gaio fez-lhes
uma festa, e beberam e comeram e alegraram-se. Tendo chegado a hora deles saírem,
Valente pediu a conta.
Porém Gaio lhe respondeu que na sua casa
não era costume cobrar dos peregrinos; ele os hospedava por amor, e esperava sua
paga do bom Samaritano, que lhe prometera pagar-lhe tudo na sua volta, — Lucas 10:34,35.
Valente. — Caríssimo, tu te portas com fidelidade em tudo que
fazes com os irmãos, e particularmente com os peregrinos, os quais deram testemunho
da tua caridade na face da Igreja, aos quais só tu encaminhai-os como convém;
segundo, Deus fará bem. (III João 5:6). Então Gaio despediu-se de todos, e
particularmente dos seus filhos, e de Inteligência Fraca.
Também lhes deu alguma cousa para comer
no caminho.
Enquanto saíam, Inteligência Fraca
demorou-se na porta. Vendo isto Valente disse-lhe: “Vem nos acompanhar, ou
serei teu condutor, e tomaras parte conosco”.
Inteligência Fraca. —Ai de mim, não sou capaz de vos
acompanhar; pois vós todos sois fortes, e eu, como vedes, sou fraco; antes quero
seguir atrás, para que não fique enfadado para vós e para mim mesmo, por causa
das minhas enfermidades.
Como já disse, sou fraco, e tenho pouca inteligência,
e tropeçarei nas cousas das quais os outros não fariam caso. Eu não gosto de
gracejos, nem de roupas bonitas, nem de muito falar. Sim, sou tão fraco que não
posso admitir muitas cousas que são lícitas para os outros. Muitas verdades eu
não conheço ; eu sou muito ignorante.
Imprensa Evangelica, nº 32,
07 de Agosto de 1879, p. 255-256
Comentários
Postar um comentário