Às vezes
quando ouço alguém alegrando-se no Senhor, fico triste, porque eu não posso
fazer o mesmo. Sou como um fraco entre os fortes, ou um doente entre os sadios,
de modo que não sei o que fazer. “Aquele que é escarnecido pelo seu amigo, como
eu, invocará a Deus e Ele ouvirá; porque se zomba da simplicidade dos justos, é
lâmpada desprezada no conceito dos ricos” (Jó 12:4, 6).
Valente. — Pois, meu amigo, é meu cargo consolar os
pusilânimes, e suportar os fracos. Deves nos acompanhar. Nós te esperaremos, e te
socorreremos, negaremos algumas opiniões e cousas por tua causa; não
disputaremos contigo. Faremos tudo para ti, antes que deixar-te atrás. (I Tessalonicenses
5:14; Romanos 14:1;1 Coríntios 8:9-13, 9:22).
Estavam assim falando à porta de Gaio,
quando chegou Sr. Prestes-a-Cair com suas muletas nas mãos, e ele também seguia
o mesmo caminho.
Inteligência Fraca. — Sois bem-vindo, agora mesmo
estou me queixando de não ter companheiro que me compita, e tu vieste para me
acompanhar;. Muito bem Prestes-a-Cair,
espero que nos ajudemos um ao outro.
Prestes-a-Cair. —De boa vontade te acompanho, e
como és fraco, te emprestarei das minhas muletas antes que deixar-te.
Inteligência Fraca. — Isso não, ainda que te
agradeço; não quero manquejar antes de ser coxo. Contudo, pode me servir de
arma contra algum cão.
Prestes-a-Cair. — Se eu ou minhas muletas podem te
servir, estão às tuas ordens, Sr. Inteligência Fraca.
Portanto,
seguiam Valente e Honesto adiante, depois Christiana e seus filhos, então Inteligêncicia
Fraca e Prestes-a-Caeir com suas muletas.
Honesto. — Já que estamos a caminho, conta-nos alguma
história proveitosa dos que já viajaram neste caminho.
Valente. – De boa vontade. Suponho que já tendes ouvido
contar como Christão encontrou Apolião no Vale de Humilhação, e quanto
custou-lhe passar o Vale da Sombra de Morte. Também tendes ouvido como Fiel foi
acometido por Madama Concupiscência, o primeiro Adão, Rebelião e Vergonha
Falsa, quatro velhacos dos piores que pode se encontrar neste caminho.
Honesto. —Sim, tenho ouvido falar nisso, mas Fiel foi
acometido mais rijamente por Vergonha Falsa. Ele era incansável.
Valente. —P ois era, era sem vergonha.
Honesto. – Diga-nos, onde foi que Christão encontrou Falador;
este também era da mesma gente.
Valente. – Era um
louco egoísta, contudo muitos o seguem.
Honesto. – Quase desencaminhou a Fiel.
Valente. — Sim, mas Christão logo endireitou-o outra vez.
Assim caminharam até chegar ao lugar onde
Evangelista encontrou Christão e Fiel, e advertiu-os do que havia de suceder-lhes
à feira da Vaidade.
Valente. — Foi aqui que encontraram Evangelista, que
contou-lhes o que haviam do sofrer na cidade de Vaidade.
Honesto. – dCom efeito! Era uma notícia dura para eles ouvirem.
Valente. — Pois era, mas, contudo, ele fortaleceu-os. Mas
por que falarmos, nisso? Eram homens fortes como leões, nada podia desviá-los do
caminho. Não vos recordais como
portaram-se perante o juiz?
Honesto. —Me lembro muito bem. Fiel sofreu também com muita
coragem.
Valente. – Sim, e os seus sofrimentos tiveram bom resultado,
porque Esperançoso e vários outros foram convertidos por causa de sua morte.
Todos
responderam, vamos para lá.
Era já tarde quando chegaram aos arrabaldes
da cidade, mas Valente sabia o caminho para a casa de Mnason e para lá
dirigiram-se. Chegados à porta, chamaram o velho, e ele reconhecendo a voz de
Valente, abriu-lhes a porta.
Mnason. —Que distância viajastes hoje?
Responderam-lhe: Da casa de Gaio, o nosso
amigo.
Mnason. – N?a verdade tendes feito uma boa jornada, e de
certo estais bem cansados.
E todos entraram, e se sentaram.
Valente. – Estais contentes, meus amigos? Eu posso vos
afirmar que sois bem-vindos.
Mnsason. – Pois sois bem-vindos, e se quiserdes alguma
cousa, só tendes de pedi-la, e faremos o possível para arranjá-la.
Honesto. — Há pouco,
a nossa maior necessidade era pouso e boa companhia e agora temos ambas.
Mnason. — Quanto ao pouso, vedes o que é; quanto à companhia,
resta prová-l a.
Valente. —Tenha a bondade de mostrar-nos os respectivos quartos.
Então Mnason levou-os para seus quartos, também
mostrou-lhes uma bonita sala de refeição, onde podiam cear.
Depois de descansarem um pouco, Honesto
perguntou ao velho se havia muita gente boa na cidade.
Mnason. —Há poucos homens de bem, comparados com os outros.
Honesto. — De que modo podemos encontrá-los? Porque para os
peregrinos, o encontram com homens justos, é como a aparição da lua e as estrelas
aos que estão no alto mar n’uma noite tempestuosa.
Então Mnason chamou sua filha Amada e lhe
disse: “Vá dizer a meus vizinhos, Srs. Contrito, Reto, Amador dos Santos, Não se
Atreve a Mentir, o Arrependido, que tenho aqui em casa alguns amigos, que
querem conversar com eles. Portanto, Amada foi chamá-los, e estes, tendo-os
saudado, sentaram-se juntos à mesa.
Mnason. — Meus vizinhos, tenho como vedes, uma companhia
de estrangeiros em minha casa. São peregrinos que vieram de longe e vão para o
monte Sião. Quem pensais que é esta? Continuou ele, apontando a Christiana. É a mulher do Christão, aquele célebre
peregrino, que com Fiel, seu companheiro, foram tão maltratados nesta cidade.
Ficaram admirados e disseram: “Não
esperávamos ver a Christiana quando Amada nos chamou, por isso é uma verdadeira
surpresa. Perguntaram a respeito da sua saúde e se estes moços eram filhos de
Christão, e disseram-lhes: “O Rei a quem vós amais, servis vos torne como vosso
pai, e vos leve para onde ele está em
paz.
Depois de terem assentado, Honesto
perguntou ao Sr. Contrito em que estado achava-se a cidade.
Contrito. — Andam todos muito atarefados no tempo das feiras.
É difícil cuidar nas cousas espirituais, enquanto andamos assim rodeados. Quem mora
em um lugar como este, tem relações com uma tal gente, necessita de uma
advertência a todo o momento.
Honesto. —Como se portam com vós outros presentemente?
Contrito. — São mais moderados do que outrora. Sabeis de que
modo foram maltratados o Christão e seu companheiro Fiel nesta cidade, mas ultimamente
tem-se portado com mais brandura. Julgo que o sangue do Fiel pesa sobre eles
até agora; porque desde que o queimaram, não se atreveram a queimar mais
alguém. N’aquele tempo tínhamos medo de andar nas ruas, mas agora podemos sair.
N’aquele tempo
o nome de crente era odiado, mas agora, em algumas partes da cidade, a religião
é respeitada. Mas como tendes passado na viagem? Como portava-se a gente para
convosco ?
Honesto. — Sucedeu a nós, como sempre sucede aos viajantes;
às vezes nosso caminho era plano, às vezes era difícil; ora morro a cima, ora
morro abaixo, nunca podíamos contar com certeza. As cousas nem sempre nos
favoreciam; nem todos que encontrávamos eram amigos. Já tivemos algumas esfregas
duras, e não sabemos o que sucederá até o fim da viagem.
Imprensa Evangelica. nº 33, 14 de Agosto de 1879, p. 259-260.
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