Olhai para Jesus






"Em um sermão pregado a 31 de Março de 1891, Spurgeon narra do modo seguinte o modo porque fora chamado pelo Espírito do Senhor: 'Como criança, eu por anos sentia-me pensativo e possuído d’um espírito profundamente abalado. Havia um pensamento que, sobretudo, me oprimia. Eu era peccador, e sabia que Deus ira-se todos os dias com os peccadores. Comecei a orar, mas a oração não só não me consolava, antes até tornava o meu peso mais insuportável. Lia a Bíblia, mas ela só parecia ameaçar-me; eu, por ora, não conhecia a virtude das promessas n’ela contidas. Achava-me constantemente na casa da oração, mas eu nunca pude apurar de toda a pregação que ouvia o que me faltava para eu ser salvo; é que os meus olhos estavam fechados, e toda a minha alma era ignorante. Ouvia, por exemplo, um que pregava d’um modo muito prático; de que me servia isso? Era para mim uma futilidade comparável ao caso d’um coxo qualquer que pretende ser instruído no exercício militar! Falavam-me da lei com a sua voz de trovão – eu não precisava do ruído do trovão, mas sim das doces notas de misericórdia. Penso que nunca criatura alguma sofreu mais amargura de coração do que eu por todo o tempo que me senti convencido do pecado, e possuído de sentimentos que eu procurava encobrir como melhor pudesse, por isso, que me reputavam por um indolente e descuidado, tal era o meu estado de abatimento. Eu cada vez mais orava, mas os céus pareciam feitos de bronze e Deus não acudia. Podia ter continuado assim até o dia de hoje, se não fosse que Deus não manifestasse um dia o seu propósito e providência para comigo, em dirigindo os meus passos a uma pequenina capelinha dos metodistas primitivos. N’esse dia caía um grande nevão, e o pastor não apareceu; suponho que a altura da neve lh’o impedisse. Em seu lugar, porém, pregou um pobre homem trabalhador. Bendito seja Deus! Bendito seja Deus por aquele pobre pregador improvisado, por assim dizer! Ele leu o seu texto; ele pouco mais sabia dizer; era como segue: “Olhai para Mim e sereis salvos, vós todos os termos da terra”. Era um homem ignorante que pouco podia acrescentar ao seu texto, por isso não tinha outro remédio senão cingir-se a ele. Deus seja louvado por isso mesmo. Principiou a dizer: “Olhai, isso nada custa fazer.” Nem tendes de levantar a mão par fazer isso, nem até um dedo. Olhai! Até o mais estulto sabe assim fazer, pois que não necessita ser muito sábio, é até possível a uma criança fazê-lo! Não é preciso ser adulto para fazer uso dos olhos. Olhai! Olhem que o pobre pode olhar  não é só para os ricos. Olhai! Oh! é tão simples, é tão simples! Depois continuou o pregador: “Olhae para Mim. Não olhai para vós mesmos, mas olhai para Mim, isto é, para Cristo. Não olhai para Deus Pai para saberdes se sois ou não predestinados para a vida eterna, isso depois sabereis, mas olhai para Cristo. Não olhai para Deus Espírito Santo para saberdes se Ele vos chamou ou não, deixai isso para mais logo. Olhai para Jesus Cristo, e continuou da maneira, a mais simples possível: “Olhai para Mim! Por vós é que Eu suo grandes gotas de sangue; olhai para Mim, que sou açoitado e cuspido: sou pregadoà Cruz, morro, sou sepultado, ressurjo e ascendo, intercedo por vós diante do Trono do Pai, e tudo por vós. Ora esta maneira tão simples de pregar o Evangelho fez com que eu (Spurgeon) seguisse o assunto com todo o interesse prestando-lhe toda atenção, e que um raio de luz penetrasse no meu coração. Mas o pregador inclinando-se por sobre o púlpito, olhou para onde eu estava, e disse-me: 'Rapaz, vejo que estás muito triste.' Isso estava eu, mas nunca alguém se havia dirigido a mim d’essa maneira em toda a minha vida. Ah! Continuou ele, e ficarás sempre triste enquanto não fizeres conforme manda o meu texto: enquanto não olhares para Cristo. Em seguida clamou em voz alta: 'Olha rapaz! Olha! Em nome de Deus digo: olha! E olha agora!' 'E olhei, bendito seja Deus! Sei que olhei ali e n’aquele momento, e o mesmo rapaz que momentos antes quase desesperava da sua própria salvação, ficou logo possuindo toda a plenitude de gozo e esperança; n’aquele instante, um que se achava como que às portas da morte pelo desespero, podia-se ter levantado no meio da congregação para entoar os louvores d’Aquele que o tinha lavado dos seus peccados. E eu agora vos exorto da mesma maneira: 'Pecadores, olhai para Cristo e sejai salvos!' (Imprensa Evangelica. Ano XXVIII, nº 27, São Paulo-SP, 02 de Julho de 1892, p. 214)

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