RODEANDO
O MUNDO E PASSANDO POR ELE – WILLIAM AZEL COOK
(Through the wildernesses of Brazil: By horse, canoe and float)
Capítulo
IV
OS
ARAGUAYANOS
Abaixo de Santa
Leopoldina encontramos a pequena povoação de Xixá e a de São José de Araguaya,
povoadas por brancos, pretos e vermelhos. Sendo os últimos os índios Carajás.
São José, outr’ora
florescente, vae acabando-se como Santa Leopoldina. Acabada a navegação do rio,
a pobre gente que mora lá acha-se presa em um logar que fica quasi inteiramente
fora do mundo.
Tanto á gente
destas povoações como aos moradores do matto em ambos os lados do rio – em
Goyaz e em Matto Grosso, tivemos o prazer de apresentar o que é mais desejável
do que o ouro, e mais doce do que o mel, e que foi recebido com alegria.
APRESENTAMO-NOS
AOS VERMELHOS
De São José até
ao Presidio de Santa Maria, os unicos seres humanos que encontramos foram os
índios Carajás.
Felizmente para
nós, o rio não tinha tomado ainda muita agua, e achamos os indios nas praias
onde moram no tempo da vazante. No tempo da enchente retiram-se para terra
firme.
Este humilde povo
quasi sempre nos tratou com amizade. Alguns porém, que moram na vizinhança do
rio das Mortes, são alguma cousa bravos devido, talvez, as incurções dos índios
Chavantes que moram no alto rio das Mortes e são muito bravos. Alguns mezes
antes de nossa descida os Carajás de uma aldeia próxima á barra do rio das
Mortes mataram cinco pessoas moradores de Santa Leopoldina.
UM
PALACIO SELVAGEM
As choupanas
desses índios são muito simples. Fazem uma abobada de varas com as bases
afincadas na areia e sobre isto amarram ligeiramente ramos de palmeira. Estes
palacios selvagens não estão mobilhados com opulencia. De ordinário, tem
sómente umas esteiras tecidas de palha sobre que se deitam para dormir, duas ou
tres cuias, uma urna de barro talvez, e ornada de arcos e flechas etc.
MODAS
E COSTUMES
Os homens andam
inteiramente nus e tem corpos formosos e athletico, e a mocidade é bella. Com
um prente rústico, feito por elles mesmos, pentêam cuidadosamente o cabello e o
trançam. Trazem as orelhas furadas, e nellas varinhas de dois palmos de,
cumprimento, com uma roseta de pennas vermelhas amarradas na extremidade
vianteira. Têm tambem o beiço inferior durado, e collocam nelle um espêto de
quase dois palmos, e da grossura do dedo index de um homem. Os moços e moças
não casadas trazem apertados nos ante-braços, punhos grossos de algodão, e nas
pernas, abaixo dos joelhos, ligas ornadas de bordas. Quando se casam, deixam
estes enfeites, nunca antes.
Em certas
occasiões, os homens trazem também corôas de pennas de varias cores, e cintos
de algodão enfeitados de conchas e unhas de vários animaes.
As mulheres
trajam aventaes feitas da casca interior de uma certa arvore. As vezes as
meninas trajam uma especie de saia que consiste de uma cinto a que estão presos
n’uma extremidade de fios de algodão que descem até aos artelhos.
O
Estandarte. Ano VIII, nº 10. São Paulo-SP, 8 de Março de 1900, p. 3.
Comentários
Postar um comentário