RODEANDO
O MUNDO E PASSANDO POR ELE
VIAGEM
DE NOSSO IRMÃO W.A.COOK NO INTERIOR DO BRAZIL
CAPÍTULO
VI
UM
ACONTECIMENTO NOCTURNO
Uma noite viajamos
até alta noite, e estando separado das outras canôas o botezinho em que a Sra.
Profe, e o narrador iam, procuramos uma praia para passar o resto da noite. Por
volta de uma hora da madrugada, avistamos uma praia e tentando saltar ahi,
encalhamos antes de chegarmos em secco. Emquanto nos esforçávamos para sahir
dahi, ouvimos um ligeiro rumor na praia, e olhando para lá virem correndo sobre
nós de trinta ou quarenta índios armados de lanças e cacetes, bem promptos para
semear-nos os miolos pela praia. Elles pegaram no botezinho e nos arrastaram
logo para o secco, ficando em volta de nós mui calados, como se não soubessem o
que deviam fazer. Passado algum tempo retiraram-se um pouco, e logo resoaram
pela noite aquelles gritos horríveis de guerra, e nós por alguns momentos, não
sabíamos se isto era signal para nos atacar ou simplesmente para principiarem
aquella lucta amigavel. Felizmente era para a lucta. Acabada esta, e passado
ainda mais tempo, começaram a recolher-se nas choupanas e deixaram-nos quasi
sósinhos. Confiando em Deus tomamos então a nossa coberta, deitamo-nos na areia
e dormimos levemente por algumas horas.
Na manhã seguinte,
chegado o resto da nossa gente, e conhecendo os indios que éramos amigos
delles, mostraram-nos muita amizade; e indo á roça nos trouxeram algumas
aboboras e melancias verdes.
Corremos muito
perigo essa noite, mas os índios não tinham culpa alguma porque saltando ás
furtadellas na sua aldeia ás hora mortas da noite, julgaram com razão que
éramos inimigos mas nós não sabíamos da existência de índios do Araguaya é
sempre esperar um inimigo a qualquer hora.
A
VISITA DE UM LOUCO
Emquanto os
índios estavam ausentes na roça, fomos favorecidos com outra scena espantadora.
Um indio louco e muito feroz, que morava no matto, veiu apresentar os seus
respeitos á aldêia. Quando correu a
notícia que elle vinha, fugiram espantadas as mulheres todas, levando das
choupanas as crianças e os utensílios que podiam apanhar no instante, e
embarcando nas canôas a toda a pressa, sahiram pelo rio. Appareceu logo o louco
armado com arco e flechas e cacetão, e divertiu-se esmigalhando objectos e
matando pássaros domésticos que encontrou, e entrando e sahindo das choupanas
pelo tecto e jogando flechas no ar.
Tendo-se
divertido desta maneira por uma hora, o louco voltou para o matto, e acabou o
espectaculo.
UM
INDIO ILUSTRADO
Em outra aldeia
encontramos o chefe, “Capitão Demanokom” que frequentára a eschola dirigida
pelos frades outrora mantida pelo governo para os índios Carajás em Santa
Leopoldina: mas elle, apezar da civilização (?) que o tinha rodeado e da
educação que tinha recebido, andava nu, tinha duas mulheres, e achava-se
exactamente na mesma condição em que estavam os outros. Como sabia ler, lhe
mandamos um Novo Testamento.
O
Estandarte. Ano VIII, nº 12. São Paulo-SP, 22 de Março de 1900, p. 2.
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