RODEANDO
O MUNDO E PASSANDO POR ELE
VIAGEM
DE NOSSO IRMÃO W.A.COOK NO INTERIOR DO BRAZIL
X
UM
INQUISIDOR
Á Villa
de Boa Vista, cem léguas abaixo da Villa de Pedro Affonso, chegaram notícias de
nós, e o padre de lá, julgando que fossemos para lá, pregou um sermão e disse
entre outras cousas que se alguém nos desse até uma caneca de agua, seria
excommungado. Quando nos contaram esta historia dois moços, abrimos a Biblia e
lhes lemos o versículo 20 capitulo 12 da Epistola de S. Paulo aos Romanos, e
dissemos que se este padre julgava que nós eramos mesmo seu inimigo porque
ensinava ao povo a não nos dar nem ao menos um copo de agua? Os moços ficaram
intimamente impressionados com esta resposta. Quando nossos amigos o Sr. Witte
e o medico o Sr. Dr. Graham, subiram do Pará visitaram a este padre de Boa
Vista o trataram porque estava doente, acharam em sua casa uma Biblia de
Almeida, e elle não sabia que era uma “Biblia protestante”.
UMA
BIBLIA APPROVADA
Logo depois da
nossa chegada em Pedro Affonso, o dono da casa onde hospedamos trouxe-nos uma
Biblia de Almeida da edição de 1848 que elle herdou de seu pae, e quis fazer
uma comparação com as nossas Biblias boas ou não. Sabendo logo que não havia
differença nenhuma, ficou muito contente e andava entre o povo fallando sobre
estas cousas. Elle deu-nos os nomes de vários frades a quem mostrou sua Biblia,
e todos elles,m n/ao sabendo donde veiu o Livro, asseguram-lhe que era muito
boa.
Espalhamos muitas
Biblias e Testamentos por toda a parte daquelle sertão, posto que há poucos que
sabem ler e ainda menos que sabem ler bem; por causa da grande falta de leitura
fazem muito caso de qualquer livro ou livrinho, esforçam-se muito para le-lo, e
leem-no ums aos outros. Espalhamos também um folheto das Escripturas que liam
como se fosse uma “bulla” do papa, lendo-o repetidas vezes e gastando a metade
do dia na leitura delle. Era, na verdade, uma “Bulla,” mas uma Bulla do Rei dos
Reis.
As Biblias eram
geralmente recebidos com alegria e muitos foram levados a grandes distancias
para dentro do Sertão.
O
SACRISTÃO E O EVANGELHO
Logo que chegamos
na villa, veiu visitar-nos muita gente pra ver se eramos verdadeiramente o
“anti-christo” ou não; a todos lemos a Palavra de Deus e parecia que muitos
sahiram bem impressionados. Entre outras pessoas veiu tambem o antigo sacristão
do velho frade, o qual, desde aquelle dia tornou-se cada vez mais interessado
no Evangelho. Elle veiu muitas vezes a nosso rancho para fallar sobre as
Escripturas. Por fim disse-nos que tinha resolvido a seguir ao Senhor Jesus
Christo. Elle tinha de fazer uma viagem e pensamos em recommendar-lhe que
levasse comsigo alguns Testamentos e folhetos; mas antes que fallassemos com
elle, veiu pedir-nos estes livros e folhetos para levar na viagem; e quando
voltou, deu-nos muito bom relatorio; fallando especialmente da alegria com que
a gente recebia as Boas Novas do amor de Deus.
O ultimo
sacristão dizia ao principio tambem que nós éramos anti-christo, e imaginava
como muitas outras pessoas que não fossemos entregues. Mais tarde, porém, vendo
o nosso modo de vida, tornu-se tambem interessado no Evangelho e dizia que eramos
um santo e deviamos ter muito mérito.
Andavamos de casa em
casa lendo e fallando sobre a Palavra de Deus, e geralmente a gente, quando os
frades não lhes tinham mettido peçonha nos corações contra o Evangelho tinha
alegria em ouvil-o.
Um dia uma preta
ouviu-nos ler a Palavra na casa da sua vizinha, gostou muito, e pediu-nos um
livrinho do Evangelho. Mandamos-lhe o livrinho, mas ella o devolveu uma semana
mais tarde e fomos avisado de que os “amigos” (?) della disseram-lhe que depois
da nossa sahida da Villa “o cão” – o Satanaz, viria e recolheria o livro. Respondemos
que achamos que “o cão” não esperava a nossa sahida, mas já lhe tinha tirado o
livro.
O
Estandarte. Ano VIII, nº 18. São Paulo-SP, 03 de Maio de 1900, p. 2-3.
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