RODEANDO O MUNDO E PASSANDO POR ELE – WILLIAM AZEL COOK




RODEANDO O MUNDO E PASSANDO POR ELE
VIAGEM DE NOSSO IRMÃO W.A.COOK NO INTERIOR DO BRAZIL

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UM INQUISIDOR
          Á Villa de Boa Vista, cem léguas abaixo da Villa de Pedro Affonso, chegaram notícias de nós, e o padre de lá, julgando que fossemos para lá, pregou um sermão e disse entre outras cousas que se alguém nos desse até uma caneca de agua, seria excommungado. Quando nos contaram esta historia dois moços, abrimos a Biblia e lhes lemos o versículo 20 capitulo 12 da Epistola de S. Paulo aos Romanos, e dissemos que se este padre julgava que nós eramos mesmo seu inimigo porque ensinava ao povo a não nos dar nem ao menos um copo de agua? Os moços ficaram intimamente impressionados com esta resposta. Quando nossos amigos o Sr. Witte e o medico o Sr. Dr. Graham, subiram do Pará visitaram a este padre de Boa Vista o trataram porque estava doente, acharam em sua casa uma Biblia de Almeida, e elle não sabia que era uma “Biblia protestante”.
UMA BIBLIA APPROVADA
     Logo depois da nossa chegada em Pedro Affonso, o dono da casa onde hospedamos trouxe-nos uma Biblia de Almeida da edição de 1848 que elle herdou de seu pae, e quis fazer uma comparação com as nossas Biblias boas ou não. Sabendo logo que não havia differença nenhuma, ficou muito contente e andava entre o povo fallando sobre estas cousas. Elle deu-nos os nomes de vários frades a quem mostrou sua Biblia, e todos elles,m n/ao sabendo donde veiu o Livro, asseguram-lhe que era muito boa.
     Espalhamos muitas Biblias e Testamentos por toda a parte daquelle sertão, posto que há poucos que sabem ler e ainda menos que sabem ler bem; por causa da grande falta de leitura fazem muito caso de qualquer livro ou livrinho, esforçam-se muito para le-lo, e leem-no ums aos outros. Espalhamos também um folheto das Escripturas que liam como se fosse uma “bulla” do papa, lendo-o repetidas vezes e gastando a metade do dia na leitura delle. Era, na verdade, uma “Bulla,” mas uma Bulla do Rei dos Reis.
     As Biblias eram geralmente recebidos com alegria e muitos foram levados a grandes distancias para dentro do Sertão.
O SACRISTÃO E O EVANGELHO
     Logo que chegamos na villa, veiu visitar-nos muita gente pra ver se eramos verdadeiramente o “anti-christo” ou não; a todos lemos a Palavra de Deus e parecia que muitos sahiram bem impressionados. Entre outras pessoas veiu tambem o antigo sacristão do velho frade, o qual, desde aquelle dia tornou-se cada vez mais interessado no Evangelho. Elle veiu muitas vezes a nosso rancho para fallar sobre as Escripturas. Por fim disse-nos que tinha resolvido a seguir ao Senhor Jesus Christo. Elle tinha de fazer uma viagem e pensamos em recommendar-lhe que levasse comsigo alguns Testamentos e folhetos; mas antes que fallassemos com elle, veiu pedir-nos estes livros e folhetos para levar na viagem; e quando voltou, deu-nos muito bom relatorio; fallando especialmente da alegria com que a gente recebia as Boas Novas do amor de Deus.
     O ultimo sacristão dizia ao principio tambem que nós éramos anti-christo, e imaginava como muitas outras pessoas que não fossemos entregues. Mais tarde, porém, vendo o nosso modo de vida, tornu-se tambem interessado no Evangelho e dizia que eramos um santo e deviamos ter muito mérito.
    Andavamos de casa em casa lendo e fallando sobre a Palavra de Deus, e geralmente a gente, quando os frades não lhes tinham mettido peçonha nos corações contra o Evangelho tinha alegria em ouvil-o.
     Um dia uma preta ouviu-nos ler a Palavra na casa da sua vizinha, gostou muito, e pediu-nos um livrinho do Evangelho. Mandamos-lhe o livrinho, mas ella o devolveu uma semana mais tarde e fomos avisado de que os “amigos” (?) della disseram-lhe que depois da nossa sahida da Villa “o cão” – o Satanaz, viria e recolheria o livro. Respondemos que achamos que “o cão” não esperava a nossa sahida, mas já lhe tinha tirado o livro.
O Estandarte. Ano VIII, nº 18. São Paulo-SP, 03 de Maio de 1900, p. 2-3.

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