Lutero é um
dos personagens mais fascinantes da história. Suas ideias, ou melhor, sua fé
ousada revolucionou para sempre os rumos da história. "... No principio da
edade moderna appareceu então um homem, um gigante pelo talento, dotado d’uma
energia e vontade de ferro, e que dentro em pouco ia espantar o mundo. Esse
homem era Martinho Luthero. Sahindo de origem obscura, Luthero conseguiu
elevar-se acima do vulgar por uma rara intelligencia. Havia tomado o habito dos
monges de Santo Agostinho, e já em 1517 era apontado como sendo um dos sábios
lentes da universidade de Wittemberg, na Alemanha. Por esse tempo construía-se
em Roma a Basilica de S. Pedro, Leão X, que então occupava a cadeira
pontifícia, precisando dinheiro para costear as despezas enormes d’aquelle
templo, havia adoptado, como já o fizera o seu antecessor Julio II, o systema
da venda das indulgencias que consistia em conceder aos christãos a remissão
dos peccados, em troca de donativos para aquella obra. Mas a venda das
indulgencias tornou-se em pouco tempo um vergonhoso abuso. Luthero,
presenciando isto n’uma visita que fez a Roma, e vendo mais a grande
desmoralisação do clero, voltou para a Alemanha disposto a dar uma reforma á
religião, ou sucumbir na lucta. Ao chegar á Allemanha, este grande homem
declarou lucta abertamente. Principiou a combater por toda a parte não só a
venda das indulgencias, mas tambem muitos outros prejuízos da egreja. Ao
principio foram apenas dissenções quasi sem importancia entre Luthero e o padre
que na Alemanha era o encarregado da referida venda. Por isso Leão X pouco caso
fez do facto. Mas tendo Luthero em 1520 escripto um livro intitulado Liberdades
Christãs, em que combatia todos os dogmas não declarados no evangelho, por
exemplo o poder temporal dos pontífices, o celibato dos padres, os sacramentos,
etc., e que o auctor teve o arrojo de enviar ao papa, este conhecendo então o
perigo excommungou o reformador. Porém Luthero estava decidido e a excommunhão
não o aterrou. Respondeu ao papa, queimando a bula em que este o fulminava,
deante dos estudantes da universidade de Wittemberg. N’esse tempo já as
doutrinas de Luthero tinham attrahido milhões de adeptos. Para o bom resultado
da reforma, alliou-se com os principaes feudatarios allemães, nomeadamento com
João Mauricio, príncipe de Saxe. O Pontifice, que na dieta de Spira havia
concedido aos reformados a liberdade de consciência até que se reunisse o
concilio de Toledo, retirou-lhes na mesma dieta em 1529 essa liberdade, porque
via o grande numero de sectários que já tinha Luthero. Elles então protestaram
(e desde essa época são conhecidos pelo nome de protestantes). No anno seguinte
fizeram a confissão d’ Augsburgo em que declararam quaes os dogmas da nova
religião. A lucta prolongou-se e Luthero mais arrojado e mais feliz que João
Huss, viu os seus trabalhos coroados de bom exito. [...] Estas novas doutrinas
espalharam-se rapidamente pela Suecia, Dinamarca, Hollanda, Noruega...” (O
Recreio, nº 1, 9ª Série, Lisboa, Portugal, 3 de Março de 1890, p. 182-183).
Coube a Lutero ser o auge da Reforma Protestante.
Em 31 de Outubro de 1517 a data magna da fé evangélica é inaugurada: Lutero
prega suas 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg, na Alemanha,
fixando assim esta data como o dia da Reforma Protestante. A Reforma
Protestante além de um movimento espiritual foi um movimento de transformação
social que revolucionou a educação, as artes, a cultura e até mesmo as ciências
jurídicas. Um dos maiores legados de Lutero e da Reforma, além de colocar a
Bíblia nas mãos do povo em sua língua nativa, Lutero nos libertou do poder
político-religioso e do poder do Estado-Juiz, consagrando o princípio do
Direito de Consciência, princípio este que em 21 de Fevereiro de 1529 fez a fé evangélica
ser historicamente chamada de Protestante, pois o rei Calos V queria validar o
Edito de Worms de 1521, que tratava Lutero como um fora da lei. Ele havia dado
um salvo conduto (habeas corpus preventivo) para Lutero quando ainda parecia
simpatizar com o reformador, mas para prender Lutero ele precisava da validação
do Edito de Worms pela Dieta (parlamento alemão). Os cincos reis evangélicos,
que eram deputados, compareceram à Dieta de Espira, e aconselharam Lutero a não
ir. Assim, em 21 de Fevereiro de 1529 fizeram o seguinte protesto que originou
o termo protestante: "Protestamos pelos que se acham presentes... que nós,
por nós e pelo nosso povo não consentimos em nada com o decreto que nos é
proposto naquilo que é contrário a Deus, à Sua Santa Palavra e ao nosso direito
de consciência e à salvação de nossas almas.” Assim o princípio do Direito de
Consciência aparece como princípio fundamental que levou à existência da
primeira constituição do mundo, a Constituição dos Estados Unidos que veio à existência
em 1787.
Enfim, a influência da fé ousada de Lutero
tornou-se atemporal.
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