O Poder da Cruz

        


                                   Foto extraída de: El Peregrino de John Bunyan, Figueras: Redacción de El Heraldo, Espanha, 1894

 Acervo Biblioteca Digital Hispánica

      “Vi em meu sonho que em cada lado do caminho em que Christão andava havia uma muralha que se chama Salvação, e que ele corria, ainda que lhe era custoso, por causa da carga que tinha nos ombros. Continuou a correr até que chegou a um outeiro pouco elevado; em cima dele havia uma cruz e pouco mais abaixo um sepulcro: quando se aproximava da cruz, vi que o fardo ia soltando-se de seus ombros, e quando chegou à cruz, a carga que lhe causara tanta miséria caiu-lhe das costas, e foi caindo até que chegou à boca do sepulcro, em que foi engolfado, e Christão não o tornou mais a ver.”

     As palavras supra-citadas são a primeira parte do capitulo VII da Viagem do Christão. Seria difficil usar de figuras que possão illustar melhor o assumpto, do que as que o autor usa.

      O Christão correndo pelo lado da muralha, representa o peccador contrito de seus peccados, procurando a salvação. A convicção de que tem offendido a Deus, não o deixa socegar, e elle semelhante ao filho pródigo do Evangelho diz: “Pai, pequei contra o céo, e diante de ti: já não sou digno de ser chamado teu filho,” ou como o carcereiro de Filippos: “Que é necessário que eu faça para me salvar?”

      O peccador que assim faz, brevemente acha allivio. Sobre aquelle pequeno outeiro, elle vê uma cruz. Essa cruz é para elle uma maravilha de Deus. Ahi elle acha a sua completa redempção. Ahi vê que Christo o Filho de Deus levou sobre si as suas iniquidades. Ahi emfim elle vê que aquelle que não tinha commettido peccado, foi feito maldição por nós.

    Porém a cruz em si mesma não podia dar allivio a Christão, se não fosse um sepulchro aberto que se achava junto á ella. Esse sepulchro vasio, era uma testemunha real da ressurreição d’aquelle que tinha expirado sobre o madeiro, e que agora se acha assentado á dextra de Deus o Pai. Pela sua ressurreição d’entre os mortos, elle dá a vida eterna a todos que lançarem sobre elle o peso de seus peccados, e foi na occasião em que se convenceu de tudo isto que Christão começou a sentir-se livre da sua carga que tanto o opprimia. Então o seu fardo desprendeu-se das costas e foi entrando pouco a pouco na bocca do sepulchro até que desappareceu de todo. Que momento feliz. O pobre peregrino, depois de lutar com todos os inimigos da sua carreira christã, e de aturar o grande peso do seu fardo, vê-se afinal livre. Que alegria! Só quem a tem sentido e experimentado é que pôde fazer uma idéa approximada de quão leve se achava elle diante da cruz.

   Leitor, não podemos concluir a nossa historia sem nos dirigirmos a ti, uma vez que o assumpto mostra qual é o verdadeiro caracter de todos os homens. Tú tens um fardo terrível que te opprime debaixo de seu peso; e acaso sentes esse jugo?

    Não penses que é alguma trouxa que trazes sobre as costas como a que represeanta a estampa. A trouxa é a carga de teus peccados, e seu peso é o testemunho constante da tua consciência que te accusa de seres inimigo de Deus.

     Essa carga Jesus Christo quer tirar de teus hombros, para te livrar d'ella. Vai pois aquelle pequeno outeiro, e a vista da cruz o teu fardo cahirá das costas e ficarás livre. “Vinde a mim todos os que andais em trabalho, e vos achais carregados, e eu vos alliviarei.

     “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim que sou manso e humilde de coração: e achareis descanço para as vossas almas.” S. Math.11: 28, 29.

Extraído de: Imprensa Evangelica, Ano VIII, nº 11, 1 de Junho de 1872, p. 85

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