Extraído de Revista South America, Vol. III, nº 4, Agosto de 1914, p. 94
“O pastor Bryce W. Ranken, director da Missão Evangelica da America do Sul, tendo estabelecido a séde do seu trabalho na rua da Liberdade, n. 33, julgou conveniente adoptar aqui o methodo de propaganda muito commum nas cidades da Inglaterra, da America do Norte e em quasi todos os paizes da Europa. De accordo com este methodo, sae elle aos sabbados de noite com sua senhora e outros membros da sua congregação, e ao ar livre, nos logares retirados de alguma praça ou rua desta cidade, canta uns hymnos religiosos, acompanhados com instrumentos musicaes e, em seguida ao povo que se reúne, dirige algumas palavras do Evangelho, dá algum testemunho de pessoas regeneradas pelo Espirito Sancto e convertidas a Christo, e termina, convidando os que quizerem assistirem francamente ao culto evangelico celebrado no domingo seguinte. Nesse seu methodo de trabalho tem sido elle systematicamente perseguido por uma aggremiação de pessoas que se intitula Legião de S. Pedro. Sabbado atrazado, dia 8, porém, subiu de ponto a violência, como v. exa. pôde ver da seguinte petição dirigida ao dr. chefe de policia: 'O abaixo assignado, ministro do Evangelho, embora estrangeiro, julga de seu dever dirigir-se a v. exa., afim de expor a violência de que foi victima nesta cidade, e respeitosamente solicita de v. exa. medidas que garantam os direitos que lhe são conferidos pelas leis deste paiz. O caso deu-se do seguinte modo: 'Pelas 7 horas e meia da tarde de sabbado proximo passado, depois de avisar o cabo de ronda, comecei, juncto, com alguns companheiros, a conferencia religiosa, perante um numeroso auditorio respeitoso, na praça da Republica; apenas começado, um pequeno grupo de pessoas principiou a perturbar, gritando: – Viva o Papa! Viva a Egreja Romana! Viva a Legião de S. Pedro! ‘Calei-me, e continuando a gritaria, pedi aoguarda presente que mantivesse o meu direito. ‘Nisto chegou o dr. delegado do Posto Policial da ua Ypiranga, e perguutou-me si eu ia acabar com ‘isso’, respondendo eu que estava dentro da lei, elle chamou um soldado e o mandou acompanhar-me ao Posto Policial. Obedeci a violência. Na mesma ocasião o meu companheiro, o sr. W. Carl Cooper, foi intimado pelo mesmo delegado a ‘acabar com isso’; tendo o sr. Cooper respondido que elle tinha o direito de pregar o Evangelho alli, o delegado chamou um soldado e mandou leva-lo ao Posto Policial. ‘Levados ao Posto Policial, fomos acompanhados por minha senhora, mas duas senhoras, e três irmãos que estavam presentes, e quizeram participar cominosco desta violência policial. Ficamos ahi detidos até ás 10 horas e 20 minutos da noite, tempo em que um soldado veiu nos dizer que podíamos sahir. ‘Nem a nossa entrada, nem á nossa sahida, nos pediram ou deram a minina explicação. ‘Expondo estes factos, exmo. sr., só pedimos que tomeis as devidas providencias para que nos sejam garantidos os direitos que nos conferem as leis da Republica. ‘Já não é a primeira vez que o abaixo assignado tem soffrido vexame por parte dos mesmos indivíduos, que constam pertencerem á Legião de S. Pedro, e que parecem decididos a privarem o abaixo assignado do seu direito, o qual o abaixo-assigunado está, por sua vez, resolvido a manter. ‘Neste intuito, toma elle a liberdade de comunnicar a v. exa. que, no proximo sabbado, á mesma hora, isto é, ás 7 e meia horas da noite, e no mesmo logar, isto é, na Praça da Republica, irá novamente dirigir, como de costume, as suas pacificas conferências, e espera que desta vez possa encontrar da parte da policia a proteção a que julga ter direito. – E.R.M. – São Paulo, 10 de setembro de 1906. – Bryce W. Ranken”.
Extraído de: O Puritano, nº 361, 11 de Outubro de 1906, p. 1-2
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