O início de uma missão evangélica numa mina de ouro


  Foto: Revista South America, Vol. III, nº 10, Fevereiro de 1915, p. 232 

“Pelo fim do ano de 1897, num pequeno cômodo de uma casa, parcamente mobiliado, duma grande e célebre mina inglesa de ouro estabelecida no Brasil Central, três homens jovens se consultaram sobre a possibilidade de abrir um trabalho evangélico naquele grande país. Eram respectivamente o datilógrafo, o assistente elétrico, e o oficial de ensaio da mina, e os dois últimos ficaram um pouco nervosos sobre o empreendimento. O oficial de ensaio era convertido, mas há poucos meses, em consequência de um providencial escape da morte e o testemunho fiel do datilógrafo, um homem de sólida experiência cristã, a quem o terceiro homem, um apóstata restaurado, também deve sua recuperação. Aqui foi concebida a ideia que tão cedo e inesperadamente germinou para a vida. Os três homens deixaram o campo de mineração dentro de poucos meses de diferença um do outro. O datilógrafo foi expulso sem cerimônias com menos de vinte e quatro horas de aviso, por causa de seu testemunho fiel. O oficial de ensaio escapou com dificuldade, mas honradamente, e só o terceiro homem foi embora em paz. Logo depois se encontraram numa cidade circunvizinha,  cada um virou seus bolsos do avesso, e, em um dos casos, representava muitos anos de economia, e ao todo, uma soma cerca de mil libras estava lá e então foi dedicado ao Senhor para o início de uma nova aventura, onde Ele pudesse guiar. O primeiro salão de reunião foi aberto na antiga cidade de Ouro Preto, capital do Estado de Minas e um grande centro educacional. O datilógrafo ficou como encarregado, enquanto os dois outros homens fizeram longas jornadas de características evangelísticas e de colportagem pelo país: quatro viagens, sendo cada uma cerca de 400 milhas a cavalo. Logo depois, um segundo trabalho foi iniciado na cidade costeira de Vitória, com o ex-eletricista como encarregado. O membro remanescente do grupo tinha, entretanto, desenvolvido considerável aptidão como colportor, e isto o ajudou bastante, e provou ser uma fonte constante de renda. Em 1900, depois de um tempo difícil em Ouro Preto e ao redor, e o encerramento das atividades de Vitória, não, pois, sem alguma medida de bênção e experiência muito valorosa, a sede do trabalho foi transferida para a grande e próspera cidade e São Paulo. O trabalho corria ativamente, e dentro de três anos uma congregação de cerca de 150 convertidos, ex-romanistas, em sua maioria, foram salvos do pecado e vieram para Deus através de Jesus Cristo. O ex-datilógrafo se encarregou por completo do trabalho aqui, o qual dirige com grande habilidade. O eletricista logo depois se retirou do empreendimento, e o tempo do oficial de ensaio foi principalmente ocupado em longas jornadas evangelísticas e de colportagem nas regiões distantes e pouco conhecidas do Brasil, tendo como principal resultado a formação de uma linha de estações de missão com congregações pelo Brasil, como até Cuiabá, a cidade mais central da América do Sul. Neste tempo havia nove estações estabelecidas com obreiros encarregados, e do nosso próprio povo, oito pastores nativos foram treinados, entre eles, um dos mais notáveis evangelistas que o Brasil já viu, o falecido Samuel Mello, de Paranaguá. Então veio tempos de provação, equívocos e tentação, e o oficial de ensaio teve que retornar repentinamente de uma cidade muito distante do interior do Goiás, chegando a São Paulo em tempo de oferecer uma despedida a seus colegas remanescentes, e então se viu sozinho e responsável por todo o trabalho no Brasil, sem um único laço doméstico ou conexão de qualquer descrição do qual pudesse esperar ajuda futura. Que o trabalho não podia continuar daquela maneira era muito evidente, e os recursos estavam se exaurindo rapidamente, mas o oficial de ensaio provou Deus no passado, e creu completamente que Ele proveria alguma forma de escape, e houve provisão. Poucos meses depois foi bastante surpreendido ao encontrar um casal de missionários recém chegados da Inglaterra com a expectativa de estabelecer um trabalho no Brasil em conexão com a Sociedade deles, a Missão Evangélica da América do Sul, que já havia realizado algum trabalho no norte da República e na Argentina. Era algo natural dar as boas vindas e oferecer hospitalidade enquanto eles procuravam um centro futuro para o seu trabalho, e era natural que dessem uma mão amiga e muito necessária ao oficial de ensaio muito pressionado...no fim do ano de 1905, o trabalho foi amalgamado com a referida Missão. Um dos recém chegados tornou-se diretor do campo, e o oficial de ensaio retornou de licença ao lar após uma ausência de quatorze anos. Sob a nova direção, o trabalho se desenvolveu e foi aprofundado: novas estações foram abertas, a tipografia foi organizada, e mais métodos introduzidos ao trabalho em geral. Depois de retornar de novo ao Brasil, uma viagem pioneira aos índios Carajás foi feita pelo oficial de ensaio em 1909, e, então, como em outras ocasiões, as fundações foram postas para um extensivo avanço no futuro... Durante os últimos dois anos, uma característica marcante do trabalho no Brasil tem sido a maravilhosa bênção ligada à circulação da Bíblia. Seis obreiros nativos estão agora constantemente empregados neste esplêndido ministério, viajando por toda parte, por milhares de milhas, de trem, a cavalo e a pé, as vendas mensais agora somam 2.000 cópias da Bíblia e porções da mesma. A principal necessidade atualmente é por uma nova sede em São Paulo, envolvendo uma grande economia de aluguel e maior facilidade para o trabalho crescente de administração deste grande campo.”

Trechos do artigo Launched in a Gold Mine: the origin of the Brazil Section of the E.U.S.A. de Frederick C. Glass, publicado na Revista South America, Vol. III, nº 10, Fevereiro de 1915, p. 232-233

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