Ana Hasseltine: uma heroína da fé

  

Ana Hasseltine (1789-1826)

A Casa Publicadora Batista publicou no Brasil a biografia Ana de Ava (Ann of Ava) de autoria de Ethel Daniels Hubbard, com tradução de Emma Morton Ginsburg, narrando a história de vida de Ana Hasseltine, esposa do missionário batista Adoniram Judson, até seu falecimento. Missionários evangélicos pioneiros no país da Birmânia, atualmente país do Myanmar, o jovem casal de missionários passaram por dificuldades tamanhas que só mesmo a fé em Jesus os fez suportar com altruísmo.

“Ana Hasseltine nasceu em Bradford, Massachusetts, em 1789. Quando tinha vinte e um anos de idade, conheceu Adoniram Judson... Eles se casaram em 1812 e partiram no dia seguinte para a Índia. Eles foram os primeiros americanos a estabelecer uma missão no Extremo Oriente... Seus diários e cartas e seus registros da missão da Birmânia testemunham que de fato ela andava muito perto de Deus. Pouco depois da chegada deles à Índia, descobriram que a Companhia das Índias Orientais desconfiava dos missionários, e foi ordenado a eles que retornassem à América. Após vários meses cansativos de indecisão, decidiram tentar estabelecer uma missão em Rangoon, Birmânia, então governada por um déspota que se opunha a todas as formas de ensino missionário. Ana adotou o costume birmanês e começou a estudar birmanês, mas logo descobriu o quão difícil seria pregar o cristianismo em uma língua sem as palavras ‘Deus’, ‘Céu’ e ‘eternidade’. Oito meses após o nascimento, seu filho morreu de febre da selva e foi enterrado num pequeno cercado no jardim da missão. A coragem de Ana nesse momento foi exemplar. Ela agora começou a ajudar Adoniram a traduzir as Escrituras para o birmanês. Primeiro ela traduziu o Livro de Jonas, que especialmente apelou à mente birmanesa. Ela também abriu uma escola para meninas birmanesas. Em 1816, a primeira impressora e tipografia foram trazidas para a Birmânia para produzir folhetos para os Judsons usarem no ensino. Alguns anos depois, Ana ficou tão fraca por causa de uma doença tropical que teve que retornar à América para recuperar as forças, e descobriu que era preciso mais coragem para deixar o marido na Birmânia do que para sair de casa dez anos antes. ‘Rangoon tem sido o local no qual muito da fidelidade, poder e fé em Deus foram demostrados’, ela escreveu enquanto seu barco navegava para o oeste. No caminho para a América, ela visitou a Inglaterra e a Escócia, e conheceu o filantropo William Wilberforce e defensor da abolição do tráfico de escravos, bem como outras pessoas conhecidas que lhe fizeram muitas perguntas sobre a missão birmanesa. No final do verão de 1823, ela partiu para a Birmânia. Quando Adoniram a encontrou no cais de Rangoon, regozijou-se por ela ter ficadomais forte durante seus dois anos e meio de ausência. Ele havia terminado sua tradução do Novo Testamento para o birmanês e havia escrito um sumário do Antigo Testamento em doze seções. Sua tradução de toda a Bíblia para o birmanês requereu vinte e quatro anos. Durante seus primeiros nove anos na Birmânia, Ana e Adoniram fizeram apenas dezoito nativos convertidos. Eles agora subiram o rio Irrawaddy até Ava, a capital da Birmânia, esperando estabelecer uma missão lá. Quando chegaram, a guerra entre birmaneses e ingleses estava ameaçando. Em junho, eles estavam cercados pelo barulho e confusão de batalhas, e durante os dois anos seguintes experimentaram sofrimentos e perigos que tiveram poucos paralelos na história missionária. Logo depois que a guerra foi declarada, Adoniram foi capturado por um grupo de homens e, apesar das súplicas e ofertas de dinheiro por parte de Ana, foi levado ao tribunal. Ela foi informada mais tarde que ele havia sido lançado na prisão da morte. Uma guarda de dez rufiões foi postada diante da casa dos Judson. Os empregados de Ana foram aprisionados. Com quatro de suas alunas birmanesas, Ana era uma virtual prisioneira no quarto interno de sua própria casa. Durante os sete meses seguintes, enquanto esperava o nascimento de seu segundo filho, Ana foi cercada por muitos perigos, mas pediu forças a Deus. Apesar de vigiarem de perto sua casa, conseguiu escapar ou enviar amigos birmaneses até seu marido e companheiros ingleses com suprimentos de comida e roupas. Ela todos os dias passava horas diante das autoridades governamentais implorando pela vida de seu marido. Após anoitecer, ela ia à prisão com comida. Ela escondeu sua tradução do Novo Testamento num travesseiro e conseguiu esconder suas anotações pessoais para o marido no bico de um bule de chá. Quando a bebê doente e franzino tinha vinte e um dias de nascido, Ana a levou até a porta da prisão para seu pai vê-la. Adoniram estava com cem outros prisioneiros trancados num quarto onde não podia entrar ar, exceto por rachaduras nas tábuas. Da transpiração incessante e da falta de comida, ele parecia mais perto da morte do que da vida. Depois foi acometido de febre tropical e sua morte parecia iminente. Obtendo permissão das autoridades para cuidar dele numa cabana num recinto do governador, em frente ao portão da prisão, Ana deixou sua própria casa para cuidar dele. Adoniram, porém, foi secretamente removido pelas autoridades para outra prisão. Sem saber para onde tinham levado Adoniram, Ana pegou sua filha de três meses de idade, levando também duas crianças birmanesas adotadas, se prontificou a encontrá-lo. Ela fez parte da viagem num barco coberto, outra parte numa carroça, sacudindo-se pelo calor e pela poeira. Em Amarapura, Ana soube que justamente duas horas antes de sua chegada, Adoniram fora enviado para Oung-pen-la. Exausta como estava, seguiu a pé e o encontrou preso num prédio sem teto, acorrentado a outros prisioneiros, e quase morto de fadiga. As solas de seus pés estavam em carne viva depois de caminhar oito milhas sobre cascalho de areia ardente. Como estava sem comida ou abrigo para si mesma e as crianças, Ana não teve outra escolha senão aceitar a sugestão do carcereiro de dividir sua cabana de dois cômodos, que já abrigava ele e sua família. Nos seis meses seguintes, ela, a bebê dela e as duas crianças birmanesas dormiram em esteiras espalhadas no chão num cômodo sujo meio cheio de grãos e sem ao menos uma cadeira para sentar. Mas Ana mal tinha consciência de suas próprias privações. Seus pensamentos estavam preenchidos pela situação de seu marido. Ela foi assistida neste momento por um cozinheiro bengali que já tinha ajudado ela antes em Ava. Durante a primeira semana no cômodo do carcereiro de Oung-pen-la, uma das crianças birmanesas, que ajudava Ana a cuidar da pequena Maria, contraiu varíola. Não demorou muito, e a segunda criança birmanesa, a bebê e, finalmente, a própria Ana desenvolveu a doença. A saúde de Adoniram e da família foi finalmente restaurada, mas Ana foi acometida de uma doença tropical quase sempre fatal para os estrangeiros. Ela estava tão magra que o seu ex-cozinheiro bengali, que a ajudara em muitas provações, irrompeu em lágrimas quando a viu naquele estado. Ela recordou que ela e seu marido teriam morrido se não fosse pelo cuidado fiel daquele homem. Quando a guerra terminou, os Judsons estavam mais uma vez sob a proteção dos britânicos... Em 1826 os Judsons deixaram cheios de alegria a cena de seus sofrimentos em Oung-pen-la e voltaram para Rangoon. Logo foram para Amherst, na Baixa Birmânia, para estabelecer outra missão lá. Não muito depois da chegada deles, Adoniram foi chamado de volta a Ava para ajudar como tradutor nas negociações de paz. Ele foi, em grande parte, com a esperança de obter tolerância religiosa na Birmânia, e ele e Ana se separaram com corações alegres. Eles foram salvos de muitas provações e infortúnios, que uma separação de poucos meses parecia trivial. Mas, dentro de três meses Ana foi acometida de uma violenta febre e morreu com a idade de trinta e sete anos. Ela foi sepultada em Amherst debaixo de um pé de hopia, enquanto seus convertidos birmaneses choravam sobre seu túmulo. Ainda que Ana Judson não viveu para ver a realização de todos os seus sonhos, a tradução da Bíblia feita pelo marido dela para o birmanês tornou-se a pedra fundamental do Cristianismo na Birmânia. Após a morte dela, o movimento cristão na Birmânia tinha sessenta e três igrejas sob a liderança de 163 missionários, ministros nativos e assistentes.” (The War Cry, 22 de Janeiro de 1966, p. 6-7)

 

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