No coração Brasil

 


“O grande estado brasileiro de Mato Grosso, situado no centro da América do Sul, tem uma área igual à área combinada da França, Alemanha e Inglaterra... O Sr. Archibald Macintyre, cujos serviços foram emprestados à Sociedade Bíblica pela South American Evangelical Mission, trabalhou neste Estado por onze meses, no último ano. Ele é um colportor ideal, e tem feito um nobre trabalho para nós. Ele começou o ano em Cuiabá, a capital do Estado, no qual fez muitas expedições, e finalmente atravessou o interior no outono, indo de Cuiabá para Goiás. Os parágrafos a seguir do novo relatório da Agência brasileira da Sociedade Bíblica dá um vislumbre as experiências do Sr. Macintyre durante estas jornadas. ‘Em 1909 partimos para uma viagem entre as montanhas, perto de Cuiabá. Na primeira noite chegamos a uma casa vazia à beira da estrada, e nos apossamos desta casa para passar a noite. Na manhã seguinte fomos visitados pelo dono da casa, que veio saber como foi que passamos a noite na ‘casa assombrada’... O dono da casa nos informou que pegamos a estrada errada. Contudo, avistamos as distantes colinas bem firma em ousado repouso, então rumamos adiante. Quando passávamos por uma casa solitária, fomos convidados a entrar. Todos os moradores ouviram com muita atenção enquanto contei a eles a maravilhosa história do amor de Deus pelos pecadores, e cantamos alguns hinos. Felizmente, um jovem sabia ler, então compraram uma Bíblia. Na partida, explicamos a eles que nossa visita foi o resultado de um engano que cometemos em nossa jornada, pelo que respondera: ‘Deus enviou vocês aqui! Deus enviou vocês aqui!’. Ao pé das montanhas, apeamos, desmontamos as nossas selas, colocamos nossas capas de chuvas, e, levamos nossos animais, começamos nossa subida na chuva. Na metade do caminho, paramos na casa de um fazendeiro alemão, que vivia como um eremita. Atiramos nossas redes debaixo de um galpão de ferro ondulado, e passamos aquela noite muito mal, devido o frio. A névoa da montanha estava muito espessa ao nosso redor, e nossas roupas ficaram úmidas. Tomamos um banho debaixo das quedas d’água, e fizemos o desjejum antes de encarar a parte mais alta da montanha. Depois de muito labor chegamos ao topo, e tivemos uma grande vista da grande planície abaixo de nós. Aqui fomos recebidos com muita gentileza na casa do fazendeiro que sabia da nossa missão. Na vila, vendemos quase todas as nossas Bíblias, para a satisfação de nosso hóspede. Eu lhe presenteei com um Novo Testamento, com o qual o nosso hóspede ficou deleitoso em obter. Ele nos deu um pouco de comida para nossa jornada, dizendo que nossa visita foi muito curta. Densas florestas de seringueiras estendem-se de Diamantino, noroeste de Cuiabá, a muitas centenas de milhas dentro do grande interior desconhecido de Mato Grosso... As regiões de seringueiras são muito insalubres. Além de um tipo muito mal de febre, há uma espécie de doença do sono que é mais receosa que a febre, ainda que curável se tratada a tempo. Encontrei dois homens indo para a cidade fazer tratamento. Um estava muito fraco, e o outro tinha feridas nas pernas, por causa das picadas dos insetos e causavam muito sofrimento. Voltei ao longo da estrada principal para trabalhar uma grande vila chamada Brotas, entre Cuiabá e Diamantino. Cheguei a esta vila por volta do meio-dia, e comecei a oferecer minhas Bíblias. Um oficial de telégrafo comprou uma Bíblia, e demonstrou comigo grande simpatia. Este oficial de telégrafo andou pelos arredores da vila comigo e instamos o povo a comprar Bíblias. Um homem comprou uma Bíblia, dizendo que um missionário o tinha presenteado com uma cópia da Bíblia dez anos atrás, mas o padre queimou esta cópia. Ao partir de Brotas, passei por duas ou três casas onde vendi umas poucas Bíblias, mas ao findar do dia, me vi distante das habitações humanas, então me fixei na floresta para descansar para a noite. Amarrando minha rede entre duas árvores, logo me sentei nela, com um suprimento abundante de matula (comida para a viagem), também ao meu lado. De repente, uma árvore se quebrou, e eu caí, com matula e tudo. Alua nova me ajudou a selecionar uma árvore mais segura. Mas, desta vez a corda partiu, e eu caí de novo. Uma terceira tentativa foi bem sucedida, e terminei minha refeição da noite em paz. A noite nestas regiões é muito fria, então levantei com os primeiros vestígios do amanhecer e segui a minha jornada para Rosário, uma duas léguas de distância... Em Rosário fui bem recebida, e me tornei próximo dos principais líderes do lugar, muitos dos quais comprou Bíblias. De Rosário fui para Diamantino, que fica cerca de quatorze léguas de muito difícil cavalgada... É uma pequena vila dispersa, e gastei só um dia lá, mas vendi todas as Bíblias e Novos Testamentos para um seringueiro. Vi uma Bíblia grande na mesa dele, perguntei o porquê ele estava comprando outra. ‘Oh,’ disse ele, ‘esta Bíblia peguei emprestada de um amigo, e estou ansioso para comprar uma Bíblia para mim mesmo.’ Na minha viagem entre Cuiabá e Goiás, tive um esplêndido tempo em Coxim, e estive presente no primeiro culto protestante que já foi realizado lá. Como S. Paulo em Filipos, encontrei umas senhoras que organizaram uma reunião para mim. Uma delas arrumou sua sala com muito bom gosto, e teve fé o suficiente para colocar bancos do lado de fora, na rua. ‘Veja,’ disse ela, ‘muita gente virá para te ouvir.’ A outra senhora foi pelos arredores e convenceu as pessoas a comparecerem. Uma grande multidão estava me esperando, e cada assento estava ocupado, muitos estavam de pé, e a atenção deles foi tudo o que eu desejava. O seleiro da vila foi muito simpático comigo, e ele permaneceu ao meu lado e me ajudou nos cânticos. Depois que a reunião terminou, fui obrigado a cantar para eles mais uma vez até saberem os corinhos de cor... Muitos me disseram que esta era a boa notícia pela qual estavam esperando, e me deram muito café e muito mate como sinal de sua amabilidade para comigo. Na minha jornada para Coxim, visitei a vila indígena dos Bororós, e dormi a noite inteira na cabana do chefe... Estes índios são completamente desconhecedores do Evangelho... Continuando nossa jornada, foi com muita dificuldade que encontramos uma velha cabana no meio da floresta... No dia seguinte, chegamos ao Rio Corrente. Aqui, dois homens vieram ao nosso rancho para comprar Bíblias de mim, e encontrei um homem trabalhando nas matas que insistiu comigo para ir com ele até sua casa para que pudesse comprar um Novo Testamento grande. No mesmo lugar, vi duas carroças carregadas com sal em sua viagem de retorno para Goiás, distante oitenta léguas... Atravessamos nossos animais pelo Rio Corrente... E então chegamos a S. Luzia. No caminho, vendi alguns Novos Testamentos e Evangelhos... Em Jataí, encontrei dois crentes, um é  turco, que alegava ser um episcopal, e é o principal homem de negócios do local. Ele era um exibidor de cinematógrafo. Certa noite a chuva caiu por cerca de uma hora após a sessão de exibição de cinematógrafo começar. As luzes se apagaram, e houve uma correria da tenda. Eu estava sentado, escrevendo no meu abrigo, um salão de bilhar, quando um monte de pessoas, em sua maioria mulheres da localidade, entraram para se abrigarem. Enquanto esperavam a tempestade passar, me ofereci para cantar para eles, e concordaram. Então cantei em português ‘The Best friend to have is Jesus’, (‘Sei que o amigo melhor é Cristo’). Eles pareceram interessados, e me rogaram para cantar mais uma vez. Fiquei nesta cidade dois dias e vendi um bom número de Novos Testamentos e Evangelhos. Numa pequena casa li e expliquei uma porção da Bíblia para um soldado que esteve na Guerra do Paraguai. Quando fechei a Bíblia, ele disse: ‘Quero ouvir mais! Quero ouvir mais!’. Ele nunca ouvira as boas novas antes. Numa das últimas vilas antes de alcançar Goiás, vendi todo o meu estoque de Bíblias, então cavalgamos muito até chegar à capital.” (Trechos do artigo In the heart of Brazil publicado na Revista The Bible in the World, 1910, p. 305-308)


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