O escritor Graciliano Ramos e um livrinho protestante

 


Graciliano Ramos (1892-1953), um dos maiores nomes da literatura brasileira, quando criança, na loja de seu pai, viu um livreto amarelo sobre o balcão, e começou a folheá-lo e a ler suas páginas. Era um título diferente: “O menino da mata e o seu cão Piloto”. 


Ao chegar em casa, com o livreto amarelo escondido no paletó, o pequeno Graciliano mostra a  sua prima Emília o livrinho. Sua prima Emília, olhou com espanto para o livreto amarelo, e aconselhou o menino a não ler aquele livreto, pois era pecado.

O menino Graciliano perguntou o porquê ser pecado ler aquela belíssima história de “O menino da mata e o seu cão Piloto”. Emília lhe respondeu que aquele livrinho fora escrito por um protestante para enganar os inocentes que o lessem.

O menino Graciliano argumentou que o menino e o cachorro se comportavam como cristãos, mas sua prima Emília continuava a afirmar que, por ser literatura evangélica, aquele livrinho não deveria ser lido.

O pequeno Graciliano ficou triste, e no dia seguinte teve que se desfazer do livrinho de capa amarela, “O menino da mata e o seu cão Piloto”. Graciliano Ramos relatou deste episódio: “Chorei muito, E não me atrevi a ler O MENINO DA MATTA E O SEU CÃO PILOTO.” (Diário de Pernambuco, nº 22, 2ª Seção, 04 de Dezembro de 1938, p. 02)

O menino da mata e o seu cão Piloto é uma publicação evangélica de Autoria Desconhecida. Em 1838 teve edições publicadas pela Typographia Commercial Portuense de Portugal.

“O menino da mata e o seu cão Piloto” narra a história de Guilherme, o filho mais novo do lenhador Antônio. Guilherme era pequenino quando sua mãe faleceu, ficando seu pai viúvo com ele e seus seis irmãos mais velhos. Um dia uma árvore caiu sobre Antônio e ele quase faleceu. Ficaram sequelas que o impediram de trabalhar. Nesse tempo de aflição o lenhador se lembrou de ensinar a Guilherme sobre a bondade de Deus e o perdão dos pecados. Os seis irmãos mais velhos de Guilherme não queriam saber da Palavra de Deus.

Quando Antônio faleceu os irmãos de Guilherme tiveram a infeliz ideia de abandoná-lo na mata, deixando para trás o cão chamado Piloto, que era o animalzinho de estimação de Guilherme. Guilherminho pensava que os seus irmãos iriam caçar, mas quando adormeceu os seus perversos irmãos foram embora e o deixaram na mata com fome e sem auxílio.

Deus cuidou de Guilherme no meio de sua aflição. “Meus queridos meninos, quando Deus vos enviar pequenas felicidades, sede agradecidos. Deus gosta de uma disposição agradecida, pois ella é signal de um espirito humilde, e Deus gosta de um espirito humilde, porque está escripto na Biblia: Deus resiste aos soberbos, e dá a sua graça aos humildes. (1.ª epistola de S. Pedro v, 5.). (Trecho de O menino da mata e o seu cão Piloto, Livraria Evangelica, Lisboa, 1920, p. 13).

 

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