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A jornada de um colportor pelo interior do Brasil
Foto: The Assembly Herald, nº 06, Junho de 1909, p. 248
Viagem narrada
por H. Glany, que em companhia do irmão Frank, fizeram uma viagem de
colportagem pelo Espírito Santo e Minas Gerais, viagem esta com início em 07 de
Fevereiro de 1899.
“O irmão Frank e
eu, deixamos Vitória em 07 de Fevereiro. Nosso equipamento consistia de dois
bons animais selados, e dois animais de carga para carregar nossas Bíblias e
Novos Testamentos, um dos quais foi gentilmente emprestado a nós pelo
representante da Sociedade Bíblica Americana. Estamos, pois, gratos por este
empréstimo, pois desejamos espalhar as Escrituras tanto quanto possível, e
poderíamos carregar apenas a quantidade de livros em nossos próprios animais...
Os primeiros poucos dias de viagem foram muito devagar, e só chegamos à Serra
ao meio-dia do segundo dia. Esta é uma cidade antiga de cerca de dois mil
habitantes que depende, para subsistência, das plantações de café nas
cercanias, e compartilham da depressão e pobreza agora tão prevalentes no
Brasil. Vender era um trabalho duro. As pessoas eram frias e indiferentes, e
quando qualquer interesse se levantava, tínhamos que combater as falsidades dos
sacerdotes, que iam para todo canto, ansiosos para manter a Bíblia longe do
povo... Contudo, apenas doze Bíblias e Novos Testamentos foram vendidos, e
aproximadamente cem Evangelhos foram dispensados, o Evangelho de acordo com
João sendo o favorito. Estes atrativos livrinhos, encadernados de
tecido, em cores vivas, e em preço baixo, são sempre bons para vender... Na próxima cidade, Cachoeira, devido às frequentes visitas dos colportores,
tivemos menos sucesso, e somente quarenta e oito livros foram dispensados, um
resultado pobre considerando o tamanho da cidade. Aqui, fomos duramente
multados por vender sem uma licença, e a multa foi maior do que três vezes as
vendas procedidas no dia. Em Cachoeira, achamos necessário economizar em nossas
despesas, e decidimos reduzir nossos gastos, mudando por completo nosso estilo
de vida. Compramos uma caldeirão de ferro, duas colheres de ferro, e um prato
de lata, e estocamos feijões pretos, arroz, farinha, e carne seca, e nos
determinamos a viajar sem depender de hotéis. A experiência era nova, mas
logo nos acostumamos a ela, e até mesmo desfrutamos dela... Nos levantamos
cerca de 3 horas da manhã, duas horas antes do romper do dia, e pela luz
captada da lua e das estrelas, selamos, carregamos nossos animais, e pelas 5
horas da manhã ou antes, partimos, levando a vantagem das horas frias do dia.
Às 10 horas paramos para o café da manhã. Depois de descarregar os animais, o
irmão Frank preparou um tripé ou outros meios de suspender o caldeirão no qual
cozinhamos nossa comida, enquanto eu preparava um pouco de feijão, e arroz para
a nossa refeição... À noite pudemos arranjar pasto para os animais em alguma
sede de fazenda, cozinhar nosso jantar da mesma maneira, e nos deitamos em
qualquer canto para dormir. Um antigo telhado de palha de milho foi como uma
cama de penas, mas nem sempre tivemos a sorte de encontrar tanto luxo, e nossa
cama normalmente consistia de um couro de boi, esticado no chão limpo, com umas
poucas telhas suportadas em quatro pedaços de pau, como única cobertura. O
interior que passamos é muito fértil, especialmente em Minas, os rios têm
considerável ouro em pó, e várias vilas subsistem do ouro obtido desta origem.
Depois de alguns dias de viagem, chegamos à fazenda do Barão de Itaperuna, onde
passamos o Domingo. O velho Barão, completamente um marco histórico nestas
partes, nos deu um hospitaleiro bem-vindo. Ele está muito idoso, e, por
conseguinte febril, mudo, e completamente cego, mas pareceu apreciar a Bíblia
que demos a ele, que, sem dúvida, seus filhos crescidos, ficarão alegres em ler
para ele. No Porto de Macarenas no Rio Doce, o povo avidamente comprou nossos
livros... A mesma coisa ocorreu um pouco mais adiante, na vila pobre e pequena
de Barra de Manchassa, onde seis Bíblias e Novos Testamentos, e dezoito
Evangelhos foram vendidos, e de novo, em Parragon, dez Bíblias, e doze
Evangelhos foram vendidos, somando vinte e dois volumes ao todo, ou mais livros
do que as casas que existiam no lugar... No segundo Domingo estávamos em um
lugar chamado Barra, onde durante a noite, cantamos hinos evangélicos, e o
irmão Frank falou para uma audiência atenta, esclarecendo vários mal
entendidos, reforçando a necessidade de se ter o Livro dos livros com uma
companhia diária. No tempo devido chegamos à nova cidade de Caratinga, que está
crescendo rapidamente. Ali nosso sucesso
foi grandioso, assim logo dispensamos dezessete Bíblias e Novos Testamentos,
bem como vários Evangelhos... Por fim, as torres da igreja de Ouro Preto
satisfizeram nossos olhos, estávamos perto de casa, tendo viajado cerca de
cinco semanas, sem acidente ou doença, desfrutando de clima esplêndido, e
excelentes estradas em todo o caminho. Em tudo isto demos graças ao nosso Pai
Celeste, e mais particularmente porque, por meio de Sua bênção fomos capazes de
espalhar mais de seis mil Bíblias, Novos Testamentos, e Porções entre o povo
que, de outro modo, nunca teriam ouvido as boas novas de salvação. – H. Glany”
(Bible Society Record, Julho de 1899,
p. 101-102)
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