Viajando com a Bíblia pelo Rio Gurupi

 


Trechos do artigo "On a river in Brazil" do colpotor  da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, Sydney W. Smith, narrando sua viagem de colportagem pelo Rio Gurupi, no Pará, nos meses de Maio e Junho de 1913

 

“O novo subagente da Sociedade Bíblica para o Vale do Amazonas fez sua sede no Pará... Escrevendo em meados do verão, o Sr. Sydney Smith reporta que o trabalho de distribuição da Bíblia no Pará está agora bem organizado. Três colportores estão regularmente empregados: um na própria cidade, enquanto dois estão constantemente viajando. Ademais, dois outros ocasionalmente tomam jornadas no interior do país. O Colportor João Ferraz, que esteve trabalhando no Baixo Amazonas, alcançou Manaus, a principal cidade no Vale do Amazonas. Ali, provavelmente ele ficará por alguns meses, visitando de casa em casa, oferecendo a Bíblia aos 80.000 habitantes desta capital do Estado, que ainda está infestada com febre amarela. Em Maio e Junho, o próprio Sr. Sydney Smith fez uma viagem de colportagem que ocupou um mês. Mas as distâncias são tão enormes e os obstáculos para viajar, tão grandes, que, naquele tempo ele não poderia ascender um quarto da extensão do Rio Gurupi, que, comparada com os tributários do Amazonas, é completamente um pequeno córrego. Este rio toma um curso em direção ao norte, para o Atlântico, e forma a linha divisória entre os estados do Pará e Maranhão. Somos capazes de fornecer algumas das experiências do Sr. Smith com suas próprias palavras. ‘No dia 13 de Maio, deixei o Pará de trem às seis horas da manhã por Bragança, em rota para o Rio Gurupi. Esta é a única linha férrea neste enorme Estado do Pará, e Bragança, o término desta linha férrea na costa do Atlântico, fica cerca de 150 milhas de distância. O dia é um feriado nacional, sendo o aniversário da proclamação que aboliu a escravidão no Brasil em 1888... Por ser um feriado, o trem estava cheio de pessoas. Depois de cerca de uma hora de viagem, quando o pessoal se sentou, andei entre eles oferecendo Bíblias para venda. Cada vagão é um longo compartimento aberto, que facilita o trabalho de vendedor de Bíblias. Tentei quanto pude, contudo, não vendi nada. O primeiro senhor recusou, e então todo mundo seguiu o exemplo dele... Esperei até depois do café da manhã, e então tentei de novo, desta vez com mais sucesso... Chegando a Bragança, meu companheiro de viagem e eu, fomos convidados à casa de um crente brasileiro, que publicamente confessou a Cristo desde que o Colportor Berg esteve trabalhando na cidade seis meses atrás. Depois de um mergulho num córrego vizinho para nos limpar da poeira da viagem, fizemos inquirições por um bote ou canoa para Viseu. Encontrando, teríamos que esperar quatro dias pelo navio a vapor. Decidimos realizar algumas reuniões evangélicas enquanto esperávamos. Desde o estabelecimento de nossa subagência no Pará, sete meses atrás, Bragança, e a linha férrea inteira tem sido visitada por nossos trabalhadores, e muitas Bíblias tem sido postas em circulação. Na cidade de Bragança há agora uma pequena congregação de sete ou oito convertidos e um número de outras pessoas interessadas no Evangelho. Como resultado de vender a Palavra de Deus entre eles, há reuniões regulares que ocorrem toda semana... O navio a vapor chegou Sábado de manhã, e pelas 4 da tarde, estávamos deixando o rio para o mar aberto... A distância para a foz do Rio Gurupi é comparativamente curta... Na manhã seguinte aterramos em Viseu, desembarcando em uma pequena canoa... Viseu é uma cidade de apenas duas ruas principais com várias casas espalhadas ao redor, mais ou menos numa ordem regular. As casas são construídas, na maior parte, de paredes de barro... Muitas, que pertencem às pessoas mais pobres, são simplesmente feitas de folhas de palmeiras. As ruas são cobertas de ervas daninhas... esta cidade é o centro de um território muito rico onde ouro, ferro, e outros minérios abundam, com um clima e solo que rendem prolíficas colheitas de algodão, arroz, e milho. Os próximos dois dias, eu passei com o colportor Berg visitando a cidade de casa em casa, para que todos pudessem ter a oportunidade de possuir uma cópia da Palavra de Deus. Pequeno que era o lugar, e pobre como as pessoas eram, vendemos o valor de 5 libras de Bíblias entre eles. Ouvindo de uma vila chamada Limondeua, nove ou dez milhas de distância, decidimos visitar esta vila entes de ascender o rio. Saímos bem cedo, numa manhã por uma trilha pela floresta, com um jovem lojista sírio como nosso guia. Perguntei  ao nosso companheiro, se ele possuía uma cópia da Palavra de Deus. ‘O que é?’, ele perguntou. ‘A Torah (i.e. Lei),’ respondi. ‘e também o Injîl (i.e. Evangelho)’. ‘Se você tem a Torah em árabe, eu comprarei uma,’ ele respondeu com ânimo. Eu tinha uma Bíblia árabe em minha caixa. Ele ficou satisfeito com esta compra, e me contou como no Monte Líbano e em Beirute alguns senhores ingleses vendiam os mesmos livros. Então, eu expliquei a ele o trabalho da Sociedade Bíblica.  Um pequeno caminho fora da cidade, entramos em um lodaçal. ‘Daqui em diante,’ disse o sírio, ‘devemos enrolar bem nossas calças sobre os joelhos, e caminhar descalço.’ Não havia outro jeito, cada um, com uma bolsa de Bíblias pendurada sobre o ombro, botinas em uma mão, e guarda-chuva na outra, nós passamos sobre barro, lodo, e água, pelas próximas oito milhas. Às dez horas, nos encontrávamos em Limondeua. No último córrego  que cruzamos, lavamos o barro de nossos pés e pernas, e colocamos nossas botinas mais uma vez. Depois de um café da manhã com pão e queijo, visitamos todas as cabanas do povo, oferecendo Bíblias para venda. Isto levou várias horas, mas nós deixamos cerca de 30 volumes na vila. A maioria do povo era miseravelmente pobre, então onde encontramos o anseio de ler a Palavra de Deus, mas a pessoa era muito pobre, para comprar, demos a ela um Evangelho, recebendo em troca seus agradecimentos: ‘Deus lhe pague. Paz, felicidade, e saúde pra você! Adeus.’ Retornamos para Viseu na mesma tarde com fardos mais leves, e corações mais leves, ainda pela alegria de ter levado a Palavra de Deus para alguns que nunca tinham visto antes a mensagem de Deus impressa... Sabendo da nossa intenção de ascender o rio, nosso bondoso hospedeiro fez todas as preparações, e colocou sua canoa com três de seus homens à nossa disposição. Embarcamos e partimos na manhã seguinte às 6 horas da manhã com a maré alta. Em vão tentei descobrir o quão longe estava a vila de Gurupi, nosso destino... Em cada casa ao longo das margens, paramos e oferecemos nossas Bíblias para as pessoas... A monotonia de nossa jornada era aliviada quase todo dia por uma das tempestades usuais... A pequena cobertura que fizemos para a canoa só foi o suficiente para nossas roupas e Bíblias... Foi no meio de uma destas tempestades que nós finalmente chegamos à vila de Gurupi, o ponto alto da nossa jornada... Apesar da pobreza do povo, contudo, fomos capazes de vender um bom número de Bíblias, Novos Testamentos, e Evangelhos. Também doamos uns poucos Evangelhos para as pessoas mais pobres que sabiam ler. Devido à condição de inundação da região, fomos incapazes de fazer algumas jornadas para o interior, e, por conseguinte, passamos outro dia em Gurupi, assim nos propusemos voltar mais uma vez para Viseu... Depois do nosso retorno para Viseu, visitamos o povo novamente, e vendemos um pouco mais de Bíblias... Antes de retornar para casa, no Pará, fizemos outras excursões para lugares próximos, no Estado do Maranhão, para dispor do restante das Bíblias que trouxemos conosco. Toda esta viagem foi feita por água, em canoas...” (The Bible in the World, Outubro de 1913, p. 317-318, e Novembro de 1913, p. 347-349)


 

Comentários