Orfanato Betel. Foto: A Gazeta, 18 de Abril de 1927, p. 08
O Orphanato Bethel, como era escrito à época, estabelecido em 1922, em Campinas, interior do Estado de São Paulo, foi idealizado pelo reverendo presbiteriano Othoniel Motta (1878-1951).
Inicialmente, o Orfanato Betel funcionava em Campinas, na antiga Fazenda do Quilombo, que foi propriedade do Barão Francisco Antônio de Queiroz.
Numa carta escrita por Othoniel Motta, que foi publicada no jornal paulista A Gazeta, 20 de Abril de 1927, p. 05, o reverendo assim narra um pouco do difícil começo do Orfanato Betel:
“O Orphanato é da Egreja Presbyteriana Independente... Como presidente da Commissão de Beneficencia, a nós nos coube a incumbência, ou antes o privilegio, de iniciar a compra do local – o casco de uma fazenda de terras fertillissimas – e alli installar aquella instituição de caridade. A Egreja tinha em caixa 62 contos apenas. O casco da fazenda custou-lhe 60. De fórma que não tínhamos dinheiro nem siquer para pagar a cisa.... A propria pessoa que nos vendeu a propriedade, mui generosamente nos emprestou o dinheiro necessario para ultimarmos o negocio, a juros de caixa econômica, generosidade que mais uma vez agradecemos em nome dos orphams. Ficavamos nós, com dois contos em caixa para mobiliar o casarão, reforma-lo no que era mais urgente, comprar instrumentos e animais para a lavoura, pagar o pessoal administrativo e o auxiliar, manter os orphams que viessem chegando e mil outras necessidades que estão fatalmente alinhadas a empresas desta ordem. Bem póde o sr. redactor apreciar as horas de terrivel insomnia e angústias que passamos nesse período inicial de organização, em taes aperturas pecuniarias. Não tinhamos para quem apellar senão para a communidade religiosa, cuja sympathia em favor da obra era preciso ainda despertar, porque para grande maioria a empresa era arrojada, destinada a fracasso certo. Como alcançar recursos numa atmosphera assim pessimista? Com o elemento official não podiamos contar por varios motivos, entre os quaes a falta de amigos dentro do Congresso. Tomamos então a penna e escrevemos, com tudo o que de paixão a nossa alma podia pôr na causa sagrada, algumas dezenas de artigos, que Deus abençoou mais do que nos era dado esperar. A sympathia veiu e a obra proseguiu. A moedinha da viuva choveu de todos os lados e os recursos maiores tambem não se fizeram esperar: hoje uma offerta de 7 contos, logo mais outra de 7 contos e quinhentos, e afinal uma de 25 contos nos habilitaram a dotar a instituição com agua encanada, esgottos, luz e força. Plantou-se um rico pomar... Fez-se um appello aos fieis que eram fazendeiros, para que enviassem vaccas e outros animaes, e desta forma se congregou logo um numero de cabeças mais que sufficiente para que em pouco tempo se tivesse ... gado sadio e leite abundante. Plantamos um pequeno cafezal e arvores de amora para a cultura do bicho da seda. Ajardinamos a frente da casa e semeamos arvores de flores por toda parte, não só para embellezamento e educação das crianças, mas ainda para garantir a cultura de abelhas, que já está iniciada. Tratamos de criar uma escola e um pequeno collegio. A escola dependia de empenhos junto dos elementos officiaes, e lá não tinhamos portas abertas. Por felicidade nossa, uma professora desejou transportar-se para alli, com a sua escola rural, desde que tivéssemos numero suficiente de alumnos naquella zona. Isso não faltava. E assim, com um simples movimento operado junto dos paes e um requerimento que poderia ser encaminhado por um inspector escolar, conseguimos a creação da escola publica que alli funcciona...”
Crianças do Orfanato Betel
Foto: Diario Nacional, nº 1.299, 03 de Novembro de 1931, p. 01
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