De Maceió a Juazeiro do Norte: uma viagem de dois colportores

 

Antão Pessoa, com sua esposa e sua mãe

Extraído de: GLASS, Frederrick Charles. Through Brazilian junglelands with the book, p. 136

Em Maio de 1917, os colportores Valentim Alves Rodrigues e Antão Pessoa de Oliveira partiram para uma viagem de colportagem, ou seja, uma viagem para vender Bíblias de porta em porta, de vila em vila, saindo de Maceió, capital de Alagoas, e jornadeando até Juazeiro, atual Juazeiro do Norte, Ceará.

Quando chegaram a Garanhuns, se embrenharam pelos sertões, partindo daquela cidade em 21 de Maio de 1917. Nesta jornada, acamparam no povoado de Tavares, no Município de Bom Conselho.

Antão Pessoa e Valentim Alves foram até Carnaíba de Flores, atual Município de Carnaíba, Pernambuco e Triunfo, Pernambuco, onde venderam centenas de Evangelhos.

“Tendo partido de Tavares, onde deixaram cerca de oitenta e tantos exemplares dos Evangelhos, proseguiram viagem a Pombal, no estado da Parahyba, onde venderam muitos livros. Dahi partiram para Souza, no mesmo estado, onde espalharam cento e tantos exemplares dos Evangelhos, e seguiram até Cajazeira, onde fizeram um trabalho regular.” (NORTE EVANGELICO, nº 32, 22 de Agosto de 1917, p. 02)

Chegando a São José de Piranhas, à época, Distrito de Cajazeiras, na Paraíba, em Junho de 1917, Antão Pessoa e Valentim Alves foram vítimas de abuso de autoridade por parte do delegado de polícia que proibiu os colportores de venderem Evangelhos naquela localidade.

Antão Pessoa e Valentim Alves fizeram um requerimento administrativo ao chefe de polícia responsável pelo povoado de S. José de Piranhas, para reclamarem da conduta do delegado, e escreveram o seguinte: 

Levamos ao conhecimento de vossa excellencia que fomos preteridos nos nossos direitos, conspurcados pelo delegado de policia de São José de Piranhas, em prohibindo a venda de evangelhos sob pena de sermos presos e arrastados à cadeia. Ponderamos as garantias dadas pela Constituição da Republica, ao que elle nos respondeu: Aqui não tem constituição. Quem regula é nossa ordem. Pessoa de seu domínio estimulada tomou vários livros de nossa mão e rasgou-os publica e ostensivamente, o delegado intimou a sahirmos immediatamente. Obedecemos e nos retiramos de Cajazeiras.” (JORNAL DO COMMERCIO, nº 4759, 29 de Julho de 1917, p. 01)

De São José de Piranhas partiram para Lavras, atual Lavras da Mangabeira, no Ceará, e pousaram na casa do Sr. João Porfírio. Depois que deixaram Lavras da Mangabeira, eles descobriram que o bispo romano mandou alguém comprar os exemplares dos Evangelhos que foram vendidos por Antão e Valentim.

D’ahi seguiram para o Crato, onde foram vaiados pelo povo, prevenido pelos padres, de modo que só poderam deixar alli poucos exemplares.” (NORTE EVANGELICO, nº 32, 22 de Agosto de 1917, p. 02)

Em Juazeiro do Norte, devido a perseguição que se impunha à Bíblia naquela época, Antão Pessoa e Valentim só conseguiram doar, às escondidas, dois ou três Evangelhos.

“Preteridos em sua missão no Joazeiro, regressaram os colportores por Barbalho, onde não poderam trabalhar. Chegaram a Porteira, pequena villa, onde pouco fizeram. Seguiram até a pequena cidade de Salgueiro, no estado de Pernambuco, vendendo poucos livros. Passaram por Belmonte, onde quase nada poderam fazer devido a estar o povo prevenido pelo vigario. Em Villa Bella fizeram trabalho regular. Á noite, porem, uma horda de desordeiros bateu á porta da casa de hospedagem tentando fazer mal aos colportores, mas foram debandados pela policia. Regressaram até a povoação de Tavares, onde ficou o Sr. Antão Pessoa, e continuou viagem por Garanhuns, o sr. Valentim, que chegou a Maceió, na noite de 12 de Agosto. Foi uma viagem longa, 250 leguas, metade a pé, cheia de peripecias, de grandes perigos, mas um trabalho no qual a semente da verdade foi espalhada em logares onde ainda não havia chegado...” (NORTE EVANGELICO, nº 32, 22 de Agosto de 1917, p. 02)

Comentários