O HOMEM QUE NÃO ORAVA
(Daiane Firme Cavalcante)
I
PARTINDO PARA SÃO PAULO
“Caro amigo João Silveira, te escrevo de uma hospedaria aqui na cidade do Rio de Janeiro, capital do Império do Brasil. Cheguei aqui em Maio de 1872, com o intuito de trabalhar na loja de um amigo que também veio da Inglaterra, mas quando cheguei aqui, me deparei com a triste notícia do falecimento do meu amigo John Scott. Quero pedir-lhe um favor, velho amigo: deixe-me ficar em sua casa para ver se consigo um emprego na cidade de São Paulo. Aguardo sua resposta, caro amigo. – Rio de Janeiro, 31 de Julho de 1872, Assinado: William Tiger.”
- Papai, este telegrama que acabaste de ler é daquele seu amigo inglês que era marinheiro?
- Sim, minha filha Sara, este homem é William Tiger. Há tempos não recebia nenhuma carta sua, mas pretendo ajudá-lo. Informe sua mãe, querida filha.
- Sim, papai, eu farei isto.
A pequena Sara foi correndo avisar sua mãe que logo estaria na casa delas um amigo de seu pai vindo da Inglaterra.
João Silveira logo foi enviar outro telegrama avisando ao seu amigo que ele poderia vir para São Paulo e ficar em sua casa, e logo lhe arranjaria um emprego.
Quando William Tiger recebeu o telegrama de João Silveira, logo fez as malas e partiu rumo a São Paulo.
Na estação de trem, ele foi surpreendido por um homem que gentilmente lhe ofereceu um Novo Testamento. William comprou-o por cortesia, pois não gostava muito de falar sobre fé. Fora criado por tios impiedosos e avarentos e Deus para eles era algo distante. Mas, aquele homem vendedor de Bíblias mostrou-se tão simpático, que ele não pôde recusar a oferta que lhe fizera. Era uma porção da Bíblia, que ajudaria a dar início a uma nova história em solo brasileiro.
II
UM RAIO DE LUZ
Durante a viagem William aproveitou para folhear aquele livrinho que comprara na partida para São Paulo. Seus olhos se debruçaram sobre o Evangelho de João e um versículo lhe chamou a atenção: “Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por Mim.” João 14:6. “Essas palavras, o que significam?”, pensou William.
Sempre ouvira falar daquele livro santo, mas não tinha o hábito de lê-lo. E, de repente, num simples folhear daquele livro, as palavras do versículo lhe soaram como a mais bela música que já escutara em toda a sua vida.
“Algum dia saberei”, pensou ele. Enquanto isso a viagem prosseguia na mais pura tranquilidade.
III
A CHEGADA
“Como vai velho amigo, quanta saudade!”, disse João Silveira a William Tiger.
“Pois é velho amigo, aqui estou eu!”
“Vamos entrando que o nosso jantar já está na mesa.”
“Muito obrigado!”
“Aqui em minha casa sempre antes das refeições oramos em gratidão a Deus pelo nosso alimento.”
“Silveira, que mudança! Você era um homem avesso às orações e à religião. Vivia dizendo que orar era coisa de protestante. O que aconteceu contigo, amigo!”
“Bem, certa vez fui ao Rio de Janeiro e na estação de trem havia um vendedor de Bíblias sendo acuado por um bando de pessoas intolerantes que achavam que não era certo vender Bíblias protestantes na estação de trem. Chamaram o Delegado Francisco Lopes que queria levar preso aquele vendedor de livros que era empregado da Sociedade Bíblica Britânica de Londres. Quando vi aquilo tudo achei injusto e de grande ignorância proibir alguém de comprar um livro, ainda que fosse a Bíblia protestante. Cheguei perto do tumulto, e, como conhecia o Delegado, disse-lhe que a Constituição do Brasil não impedia isto e, que se aquele cidadão inglês reclamasse ao seu consulado, a imagem de nosso País não ficaria bem perante o governo inglês. O Delegado me deu razão e apaziguou a multidão. Comprei dois livros do protestante: a Bíblia e “A Viagem do Christão”, escrito por um tal John Bunyan. Li ambos e depois de ler procurei unir-me à Igreja Protestante aqui perto de casa onde fui batizado por um pastor e hoje faço parte do corpo de Cristo.”
“Quanta novidade, meu amigo! Eu nunca esperava que algum dia você seria um homem de fé!”
“Fui transformado pelas belas palavras contidas no Livro Sagrado, amigo Tiger. Espero que você trilhe este caminho de esperança, também!”
IV
O OUTRO DIA
João Silveira convidou seu amigo William Tiger para ir junto com ele ao interior visitar amigos que estavam comemorando suas bodas de casamento.
No caminho, um imprevisto: o Delegado Siqueira, conhecido nos arredores pela perseguição à Bíblia, apareceu destilando raiva.
-Como vai, forasteiro protestante? Vieste trazendo mais um pouco de seus livros santos? Vejo também que trazes um novo amigo.
- É meu amigo inglês, William Tiger.
-Ora, ora! Passe-me a sua sacola de livros santos.
-Não posso entregá-la, senhor delegado!
“Por que ages assim, Sr. Delegado?”, perguntou William Tiger.
-Nesta terra, estrangeiro, não gostamos dos protestantes e dos seus livros santos!”
“Ora, ora! Quanta estupidez senhor Delegado!”, respondeu Tiger.
-Estrangeiro, não se intrometa em questões desta terra. Aqui a lei sou eu. Não me importa o que diz a Constituição do Imperador. Eu não quero Bíblias nestas cercanias.
-Senhor Delegado, reclamarei ao cônsul do meu país neste Império e pedirei a ele que denuncie a sua pessoa ao Imperador e ao Ministro da Justiça.
-Desculpe-me estrangeiro, mas teria essa coragem?
-Sim, farei isto.
-Estrangeiro audacioso! Sendo assim, pode ir com seu amigo, mas se sofrerem qualquer ato injurioso, não se queixem comigo.
“Passe bem, senhor Delegado!”, respondeu João Silveira.
William Tiger não se conformava em ver tamanha violência contra as Escrituras Sagradas. Então João Silveira lhe explicou que isto era frequente no Brasil, mas a causa da Bíblia tinha progresso, mesmo sofrendo severas perseguições.
V
Uma emboscada
“Protestantes! Protestantes!”, gritavam pessoas com paus e pedras, arremessando tudo o que tinham na mão contra João Silveira e William Tiger. O cavalo de João Silveira se assustou e o derrubou no chão, deixando-o desacordado.
As pessoas que cometeram tal ato fugiram, pensando que João Silveira estava morto, mas seu amigo William Tiger checou-lhe os sinais vitais, e, ele estava bem.
“Amigo João”, disse William, “vamos seguir viagem, pois o perigo já passou!”
- Como se sente, amigo Silveira?
-Sinto-me bem. Já sobrevivi à coisa pior.
-Então, amigo Silveira, o que te faz continuar com essas aventuras com a Bíblia por esses sertões selvagens?
-É a fé no Salvador Jesus, amigo Tiger. Quem ama a Jesus de verdade não mede esforços para ver a Bíblia nas mãos e nos corações de cada ser humano.
- Sabe amigo, eu sempre fui um cidadão que não gostava de igreja e da Bíblia, pois refletem oposição ao meu modo de viver. Certa vez comecei a ler a Bíblia e me deparei com as palavras de Jesus, que disse: “Nenhum servo pode servir dois senhores...” (Lucas 16:13). Senti-me arrasado com estas palavras, pois eu queria viver de acordo com o que eu achasse melhor para mim.
- Amigo Tiger, querer viver de acordo com o que pensamos ou sentimos ao invés de vivermos de acordo com a Palavra de Deus, é puro egoísmo!
-Hoje percebo que sim, caro amigo. Vendo o seu modo de viver e o seu amor pela Bíblia, vejo realmente que a Bíblia funciona para qualquer um. Você era um beberrão, que perdeu grande fortuna com mulheres e jogatinas, e, hoje, veja só, você tem um lar, é um homem sóbrio, de respeito, e ama a Bíblia.
-Isto tudo é o Deus da Bíblia que operou no meu coração esta maravilhosa obra de redenção, Tiger.
-Pois é, Silveira. Sinto dentro de mim uma vontade enorme de me arrepender de meus pecados e receber Jesus como meu Salvador, mas me sinto tão pecador que não tenho coragem de me ajoelhar e pedir perdão dos meus pecados.
-Tiger, hoje Deus te dá a graça de ser salvo. Vamos descer desse cavalo, e vamos orar para que Deus opere em seu coração a maravilhosa graça da salvação. Oremos assim:
Pai, eu sou um grande pecador que neste instante recebo a Jesus como meu grande Salvador! Faça de mim uma nova criatura e que tudo se faça novo em minha vida.
Te amo, Salvador!
- Obrigado, Silveira. Deste momento em diante serei um novo homem e me dedicarei à causa da Bíblia!
Assim termina a história de alguém cuja vida a Palavra de Deus transformou!
FIM
O HOMEM QUE NÃO ORAVA by Daiane Firme Cavalcante is licensed under CC BY-NC-ND 4.0
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