Frederick C. Glass e seu livro “A thousand Miles in a dug-out”

 

Foto da Rua principal de Santa Leopoldina, Goiás 

Extraída de:  “A thousand Miles in a dug-out", Frederick C. Glass, 1911, p. 2


“O Rev. Frederick C. Glass emprehendeu em 1909 uma viagem pelas regiões do Araguaya com o nobre intuito de descobrir as possibilidades do estabelecimento de uma missão da igreja evangélica, a que pertence, entre os índios Carajós, até agora abandonados. O resultado dessa santa inspecção foi agora publicado neste livro interessante, que, apezar de sua preocupação religiosa, não deixa de ser um formoso repositório de factos, anecdotas e commentarios sobre os descendentes dos primitivos habitantes do Brasil!. O Sr. Glass desceu o Araguaya e esteve na Ilha do Bananal, onde se esconderam as tribús carajós. Na introducção, o autor dá rápidas noções sobre Goyaz, cujo estado de decadência o impressiona. A cidade é iluminada a kerozene e isso mesmo nas noites sem luar. Tudo é primitivo e o viajante se espanta por encontrar tanto atrazo numa região que foi aberta ao mundo civilizado há mais de duzentos annos. O Sr. Glass deixou Goyaz e foi até Santa Leopoldina de Araguaya, um logarejo de 250 habitantes, de onde partto de Dug-out (igaraté) pelo Araguaya abaixo. No arraial, o Sr. Glass foi muito bem recebido pelo Sr. Paes Leme, agente do Correio, cuja esposa é uma índia chavanti. A vida nas regiões do Araguaya não lhe pareceu desagradável. Os repastos de carne e ovos de tartaruga não são de todo desprezíveis; e se não fosse a maneira rude de preparar esses alimentos, muito homem branco gozaria o prazer de saboreal-os à moda dos areaes do Araguaya. O autor só não pode concordar com o methodo bárbaro com que os indígenas preparam seu petisco predilecto. A tartaruga viva é collocada de ventre para o ar sobre duas pedras distantes. Fica a mexer com os membros sem se poder deslocar. Então, accendem o fogo em barro... Em pouco tempo o Sr. Glass se habituou àquella vida de aventuras e de manhã já não podia passar sem o café – “que todo o Brasileiro não dispensa”. Os pássaros do Araguaya são de numerosas e variadas espécies. Há muitos de mais de oito pés de altura. Todas as tribus selvagens que ia encontrando tinham chefes que fallavam portuguez. Foi bem recebido em toda a parte, principalmente entre os Carajós Tarirapés. A gente é boa, o clima ameno, o peixe abunda no rio e se os crocodillos pullulam, as tartarugas andam por todos os lados. Um dos perigos do Araguaya é a banzeira, um terrível vento que vem quando menos se espera. O Sr. Glass assistio, numa tribu carajó, a uma curiosa operação. Um rapaz fincou na areia um pao pontudo e depois segurou com ambas as mãos aquelle apoio. Quando isso fazia, appareceu outro rapaz e começou a arranhal-o, a coçal-o com um filete feito de espinhas de peixe. A operação durou uns cinco minutos e foi supportada com calma pelo paciente, que depois foi banhar-se no rio. As marcas desses desenhos diabólicos podem-se ver nas pernas da maioria dos Carajós... Essa operação é, para elles, uma espécie de methodo preventivo, porque dizem que preserva de moléstias e dores moraes. As margens do Araguaya são habitadas por indigentes de varias origens. O Sr. Glass encontrou muitos indivíduos, que, comparados com os Carajós, eram pobres especimens da humanidade. [...]." (Jornal do Commercio, nº 355, 22 de Dezembro de 1911, p. 03)

Comentários