O médico e missionário Robert Reid Kalley

Robert Reid Kalley (1809-1888)

Extraída de: The Medical Missionary Record, Vol. I, 1888, p. 304

"Robert Reid Kalley nasceu perto de Glasgow, em 1809. Ele estudou medicina nesta cidade, recebendo seu diploma em 1829, e depois de uma ou duas viagens à Índia, estabeleceu-se como médico profissional em Kilmarnock. Preso por pregar o Evangelho, Dr. Kalley devotou-se às Missões Médicas, e ofereceu seus serviços para este fim. Foi aceito pela Sociedade Missionária de Londres para trabalhar na China. Porém o Senhor tinha uma esfera diferente para ele mui além da China. Madeira, Brasil e Edinburgh viriam a ser seus sucessivos campos de trabalho... I. Madeira. Uma situação de doença em sua família levou-o à Madeira, e foi nesta ilha que a primeira parte de sua carreira missionária foi gasta. Tendo aprendido rapidamente a língua portuguesa, abriu um dispensário em prol dos pobres e para pacientes que vinham de todas as partes da ilha aos quais ele lia e expunha a Palavra de Deus. Um ou dois anos mais tarde o Dr. Kalley abriu um pequeno hospital que aumentou a sua prestação de serviço. “No começo do meu relacionamento com os Madeirenses,” escreveu ele, “Descobri que poucos deles já tinham visto uma Bíblia ou pareciam saber que o Novo Testamento fora escrito por homens que estiveram perto do Senhor Jesus quando Ele viveu na terra... Já no início de 1839 foi demonstrado um pouco de interesse na verdade, e em 1840 o interesse era tão grande que muitos adultos foram para a escola para aprender a ler e assim conseguir ler a Bíblia. Em 1841 este movimento chamou a atenção do Governo português, mas as primeiras tentativas de interferências foram totalmente desaprovadas pelas pessoas que as autoridades decidiram deixar de lado esse assunto. Em 1842, especialmente no verão e outono, as pessoas vieram em grande número ouvir a leitura e a explanação das Escrituras. Muitos caminharam dez ou doze horas e subiram montanhas com cerca de 3000 pés de altura na vinda e na volta para suas casas. Os encontros eram solenes, os ouvintes escutavam com incansável atenção. Mãos eram observadas limpando as lágrimas, e algumas vezes havia expressões generalizadas de espanto. Foi especialmente assim quando o assunto foi o notável amor de Deus quando não poupou Seu próprio filho, mas O deu para morrer pelos pecados do mundo inteiro, e o amor de Cristo voluntariamente levou sobre Ele a ira e a maldição que nós merecíamos. [...]. Em Julho de 1843 o Dr. Kalley foi lançado na prisão em Funchal, a fiança foi recusada com a desculpa que o crime praticado era digno de morte. Um ou dois meses mais tarde uma carta de excomunhão foi publicada contra todos aqueles que continuassem a usar a Bíblia de Pereira editada pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira... Com a interferência tardia do Governo britânico, o Dr. Kalley foi solto da prisão em Janeiro de 1844. Sua prisão foi ilegal... No início de 1845 outra ordem de prisão foi ordenada para prender o Dr. Kalley sob a acusação de que nas reuniões realizadas em sua casa ele falava doutrinas condenadas pela religião do estado. Desta vez, lhe foi permitido pagar fiança, mas foi advertido pelo Secretário do Exterior, Lord Aberdeen, que ele não seria ajudado pelo Governo britânico no tocante aos atos que as autoridades portuguesas pudessem adotar para removê-lo da ilha, caso permitisse que pessoas portuguesas se reunissem em sua casa para ler as Escrituras. O Dr. Kalley foi posto numa posição muito difícil. Se continuasse com as reuniões seria punido com o banimento. Se desistisse, poderia continuar com o trabalho individual, e sua presença encorajaria os crentes... No início de Agosto de 1846, rompeu-se a fúria e no dia 9 de Agosto, na presença do governador, da polícia judiciária e um batalhão de soldados, uma multidão violenta chegou à casa do Dr. Kalley... Disfarçado e escondido numa maca, o Doutor estava pronto a escapar pela baía para salvar a sua vida... A força da perseguição com a conivência das autoridades rompeu-se sobre as pessoas simples. Um foi assassinado, outros foram cruelmente feridos, muitas casas saqueadas... Em 23 de Agosto um pouco mais de 200 refugiados embarcaram e navegaram para a Trindade... em 1849 com a ajuda da “American Christian Union” 600 ou 700 foram removidos para Illinois nos Estados Unidos. Estes se uniram a uns 300 mais, que vieram direto da Madeira... II. Brasil... “Gastei a maior parte dos anos de 1853 e 1854 entre os refugiados, ajudando a aumentar o seu conhecimento, a sua fé e seu amor... Depois disto, fiquei muito impressionado com a deplorável destituição espiritual do Brasil, um império vinte vezes o tamanho da Grã Bretanha e Irlanda, cuja língua é o português, e isto me pareceu que meu conhecimento da língua e das pessoas na Madeira justificava a esperança de ser capaz de engajar sucesso em operações evangelísticas lá. Em Maio de 1855 desembarcamos no Rio... Do Brasil escrevi à várias famílias de madeirenses cristãos em Illinois pedindo que viessem e trabalhassem comigo na pregação do Evangelho neste novo campo... Três famílias responderam ao meu convite... Numa noite no Dia do Senhor em Agosto de 1861 quando a congregação que assistiu o culto da tarde havia dispersado, e antes que aqueles que iriam assistir a reunião da noite tivessem se reunido, uma multidão ajuntou-se ao redor da casa no Rio. Os desordeiros vieram armados com paus e pedras, proferindo terríveis ameaças e gritos de: “Biblia! Biblia!”em tons inimagináveis de escárnio e ira. “Biblia” simplesmente quer dizer “Biblia”, mas este termo há muito tem sido usado no Brasil como aquilo que é completamente odioso e desprezível. As janelas logo foram quebradas e as partes de madeira quebradas... Na hora que a multidão estava tentando correr para subir a escada que dava acesso à porta, uma das vidraças de uma janela da parede que estava perto deles quebrou-se. Quebrou a janela e muitos cacos de vidros foram avistados, então recuaram. Mas perseveraram em gritar, ameaçar e bombardear a casa com pedras por umas três horas antes que a polícia interviesse... Dr. Kalley continuou o trabalho entre os brasileiros até 1875...” (The Medical Missionary Record, Vol. I, 1888, p. 304-309)

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