Martinho Luthero

 

                                                           Martinho Lutero (1483-1546)

      Em uma noite fria e escura, quando o vento assoprava asperamente, e a neve cahia com rapidez. Conrado, um digno cidadão d’ uma pequena villa da Allemanha, tocava sua flauta, emquanto Ursula, sua mulher, preparava  a cêa. N’isto elles ouviram uma voz melodiosa cantando da parte de fora. As lagrimas cahiam dos olhos do bom homem quando disse: “Que voz sublime e agradável! Que pena arriscar estraga-la cantando em um tal  tempo!”

     “Parece-me a voz d’ uma criança. Abramos a porta e vejamos:” disse sua mulher, que tinha perdido um menino não muito antes, e cujo coração estava aberto para se compadecer do pequeno desamparado.

     Conrado abriu a porta, e viu um menino esfarrapado, que lhe disse: “Caridade, bom senhor, por amor de Christo!”

    “Entrai, meu pequeno, disse elle. Vós passareis esta noite em minha casa.”

    O rapaz disse: Graças a Deus, e entrou. O calor da sala o tornou languido, mas o cuidado bondoso de Ursula logo o fez reviver. Deram-lhe alguma cousa de cear; e então elle lhes contou que era filho d’um pobre mineiro e desejava ser padre. Elle andava de lugar em lugar cantando, e vivia do dinheiro que o povo lhe dava. Seus caritativos hospitaleiros não o deixaram fallar muito, mas mandaram-no deitar. Quando estava dormindo, elles foram ve-lo e ficaram tão alegres com o seu semblante placido que determinaram te-lo comsigo, caso elle quizesse.

   Pela manhã acharam que elle estava muitíssimo alegre por ficar com elles.

   Mandaram-no para a escola; e depois elle entrou para um convento. Ahi achou uma Biblia que leu e onde aprendeu o caminho da vida. A melodiosa voz d’este pequeno cantor tornou-se em um poderoso echo das boas  novas — “Justificados pela fé, temos paz com Deus por meio de Nosso Senhor Jesus Christo.”  Conrado e  Ursula, quando receberam este pequeno cantador em sua casa, mal pensavam que estavam sustentando o grande campeão da Reforma. O pobre menino era Martinho Luthero! “Não vos esqueçais da hospitalidade, porque por esta alguns, sem o saberem, hospedaram anjos.”

Extraído de: Imprensa Evangelica, Vol. VII, nº 13. Rio de Janeiro-RJ, 1 de Julho de 1871, p. 102

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