Uma tribo esquecida do Brasil Central

 

Foto: The Christian Herald, 11 de Novembro de 1908, p. 887

"Nas margens do belo Rio Araguaia, que separa os Estados de Goiás e Mato Grosso, vive uma tribo selvagem de índios chamada de Carajás. É estimado que o número dos 'bravos' é por volta de 4.000, ainda que provavelmente o total seja de 10.000, contando homens, mulheres e de crianças. São índios peles-vermelhas puro-sangue, de bom físico e grande agilidade. São caçadores habilidosos com arco e flecha, que, junto com um jacarandá, são suas únicas armas e os meios de ganhar seu sustento. Vivem quase completamente de peixe, que capturam com o arco. Não possuem pertences terrenos além de suas armas, salvo uns poucos colares, uma faca, e um ou dois machados de pedra. A tribo tem o seu chefe supremo, e é dividido em grupos, famílias e vilas, com um 'capitão' ou chefe menor sobre cada um. De cor bronze cobreado e brilhante, com belo cabelo lustroso, negro e bem longo, são uma raça que parece muito impressionante e interessante. Seus olhos são em forma de amêndoa, negros, e há mais de ternura que ferocidade no olhar deles, enquanto cada um carrega nas bochechas a circular marca tribal do Carajá. São muito mais primitivos e menos enérgicos que seus vizinhos, os Chavantes, mas, a respeito de sua indolente disposição há muitos artesões capazes entre eles, e eles mesmos fazem os objetos de arte. Suas lanças e tacos são juntados com tranças de folhas variegadas, na rede e em desenhos uniformes. Também fazem roupas finas de fibra vegetal, enquanto suas cestas elegantemente tecidas figurarão bem entre outros objetos manufaturados na nossa terra natal. É dito que os índios Carajás são muito afetuosos, e que a mãe é muito apegada aos seus filhos. O dia quando um guerreiro índio infantil é nomeado, é uma ocasião de muita festa e regozijo. O bebê é o primeiro consagrado com um tipo de goma vegetal, e então é coberto com penas brancas, pequenas e belas, enquanto sua pequena cabeça é decorada com uma coroa de pena grandes e de colorido alegre. Assim preparado, a criança espera a terrível prova, enquanto a mãe, convulsionada em soluços, é detida nos braços de seu marido. Esta cerimônia se dá só depois do romper da manhã e no ponto mais alto da vila. Pessoas reunidas ao redor cantando uma melodia indígena, e esperando o primeiro raiar do dia. Tão logo os primeiros raios de sol aparecem, 'pajé', um tipo de médico-feiticeiro, começa a pular e gesticular de maneira animada, e, de repente, com um frito alto, ele pronuncia um nome, e no mesmo momento agarra e fura o lábio inferior da pobre criança com um osso pontiagudo usado para este propósito. O nome é escolhido no impulso do momento, e depende de quais chances de chamar a atenção do 'pajé' naquele momento. Pode ser uma nuvem, um pássaro passando, uma folha, uma palmeira vista ao longe contra o céu brilhante, uma estrela sumindo, uma borboleta, ou um pássaro cantando. E todos os índios reunidos repetem o nome escolhido: 'Pio-dudo', e 'Pio-dudo', é ecoado de novo pela vila; e a criança então recebe reconhecimento oficial como membro da tribo. Mais tarde, um ornamento de madeira ou casca é inserido no orifício furado nos lábios do jovem guerreiro. [...] F. C. GLASS, Goiás, Capital. O relato acima sobre os Carajás foi enviado pelo Sr. F. C. Glass, missionário residente na capital de Goiás..."
Extraído de: The Christian Herald, 11 de Novembro de 1908, p. 887

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