A Viagem do Peregrino (Adaptação de Pilgrim's Progress de John Bunyan)

 


1Christano cidadão da cidade da Destruição estava em grande Desespero. Curvava-se sobre uma enorme carga, a convicção do pecado, e da qual ninguem o podia livrar. Leu em um livro que sua cidade e todos os seus habitantes seriam destruidos e em sua afflicção clamava em altas vozes: "Que farei?". Veiu então a elle Evangelista e disse-lhe que poderia livrar-se de sua carga fazendo uma peregrinação à Cidade Celestial. A entrada do caminho que para lá conduzia era pela Porta do Proposito. Christiano tentou persuadir sua mulher e sua familia a acompanha-lo, e como recusaram, partiu só. Na sua pressa de iniciar sua peregrinação, Christiano cahiu no grande pantano do Desanimo, que ficava adeante da Porta do Proposito. A carga que levava ás costas, difficultava-lhe sahir do lodaçal e estava quasi a morrer, quando foi salvo pelo Auxilio. Chegou, finalmente, á Porta do Proposito, onde bateu pedindo entrada. O Guarda da Porta deixou-o entrar e mostrou-lhe o caminho, explicando que elle não erraria porque o caminho a seguir differia dos outros por ser sempre estreito e abrupto. Cristiano segui sempre até chegar á casa de Interprete, onde muitas cousas lhe foram reveladas.

2Depois Christiano attingiu a um outeiro, onde uma Cruz erguia-se sobre um Sepulcro, dentro do qual sua carga cahiu por fim. Então tres Fórmas Radiosas vieram a elle, vestiram-n'o de novo, puzeram uma marca luminosa sobre sua fronte e deram-lhe um rolo de pergaminho que elle devia apresentar no Portão Celestial. Christiano seguiu alegremente o seu caminho até que attingiu o outeiro da Difficuldade. O caminho era aspero e ingreme e em meio da jornada desejou repousar em um camaranchão que o Senhor mandara construir para descanço dos peregrinos. Ah! adormeceu e o pergaminho que lhe recommendaram guardar com cuidado, cahiu-lhe das mãos. Quando despertou, seguiu apressadamente para adeante encontraria leões mas Christiano ia prosseguir, quando deu falta do pergaminho. Voltou atraz para o procurar e regressou para enfrentar os perigos de sua jornada. De repente olhou e viu dous leões na sua frente. Christiano hesitou, mas para além dos leões brilhava o Palacio do Bello. O porteiro gritou que os leões estavam presos, e assim o peregrino e foi e bem recebido pela Discreção, pela Prudencia, pela Piedade e pela Caridade. Ahi descançou. As donzellas deram-lhe então uma forte Armadura.

3Christiano vestido com a armadura, desceu ao Valle da humilhação. Ahi encontrou o immundo Demonio Apolyon que o intimou a voltar se não quizesse morrer. Christiano não obedeceu e combateu o monstro, durando a porfia quasi o dia inteiro. Christiano esteve quasi a perecer mas por fim derrotou Apolyon. Depois de ter repensado, Christiano penetrou o Valle da Sombra da Morte. Ahi encontrou innumeros terrores e passou proximo as bocas do Inferno. Ao raiar do dia, porém, os perigos foram diminuindo e Christiano, acompanhado do Fé, a quem encontrara orando durante á noite, seguiu caminho. Mais adeante, Christiano e Fé, encontraram Evangelista. Este os avisou de que estavam proximos da Cidade da Vaidade, onde ha a celebre Feira e que ahi um deles seria martyrisado. Aconteceu como fôra predito. Fé, foi queimado vivo, mas sua alma subiu aos Céos em um carro de fogo. Christiano escapou á morte. Um jovem chamado Esperança alliou-se a Christiano. Ambos perderam-se em um desvio. Cedo, porém, descobriram estarem apartados da estrada, mas chegou a noite antes que pudessem retoma-la. Foram, então, capturados pelo Gigante Desespero que os aprisionou. Escaparam com a chave chamada Promessa.

4 A experiência adquirida nas mãos do Gigante Desespero, fez com que Christiano e Esperança se tornassem mais cuidadosos e assim attingiram facilmente as Montanhas Deleitaveis. Ahi os pastores lhes deram um espelho onde puderam entrever a Cidade Celestial. Ensinaram-lhe tambem o caminho a seguir. Mais uma vez se perderam por não seguirem fielmente as instrucções. Um anjo mostrou-lhes, porém, novamente o bom caminho. Passaram pelos Atheus e pelas Terras Encantadas. Chegaram, finalmente, ao risonho paiz de Beniah, onde o sol sempre brilha, e de onde se avista a Cidade Celestial. Mas entre elles e a Porta corria o Rio da Morte. Dous anjos lhes explicaram que deviam atravessar o rio, o qual se apresentaria raso ou fundo de accordo com a sua fé no Rei. Entraram no rio. A principio Christiano teve medo e afundou. Mas Esperança animou-o e conseguiram atravessar juntos. Foram recebidos na margem opposta por dous espiritos e escoltados até ao alto do outeiro da Cidade Celestial. Deram-lhe as boas vindas alegremente legiões de anjos e ao transporem os portões viram-se vestidos de ouro como os demais.

5 Depois que Christiano attingiu a Cidade Celestial, sua esposa Christiana começou a lastimar-se por o não ter acompanhado. Veiu a ella então um mensageiro do Rei. Atravessaram o Pantano do Desanimo com mais facilidade do que fizera Christiano, pois, o Rei mandara collocar algumas pedras. Christiana, porém, quase cahiu. Deram-lhe as boas-vindas na Porta do Proposito, cujo Guarda deu-lhes de beber e ensinou-lhes o caminho a seguir. No caminho para a casa do Interprete, encontraram alguns homens perversos dos quaes, porém, foram libertas pelo Auxilio que lhes mandou o Guarda. 5Chegavam á casa onde receberam calorosas boas vindas como acontecera a Christiano. Deram-lhes tambem uma Guia chamado Coração Forte porque sozinhas não poderiam enfrentar os perigos do caminho. Coração Forte protegeu-as contra os perigos. Quando encontraram a Montanha da Difficuldade, surgiram-lhes á frente os mesmos leões que ameaçarama Christiano: mas desta vez, os leões vinham acompanhados pelo Gigante Crueldade, que tentou mata-los. Coração Forte, porém, combateu e prostrou-o.

6 Com as difficuldades do caminho aplainadas por Coração Forte, atravessaram o Valle da Humilhação ou da Sombra da Morte. Levaram muito tempo na jornada; e os filhos de Christiano, cresceram e casaram-se. Compaixão, desposou Matheus, o mais velho dos filhos. Quando chegaram, ao Castello da Duvida, propriedade do Gigante Desespero, que havia aprisionado, Christiano e Esperança, resolveram destrui-lo. Os homens da comitiva, cahiram sobre o Gigante e o mataram bem como á sua mulher Desconfiança. Começaram então alegremente derrubar o castello. O resto da jornada, foi tranquillo excepto quanto aos riscos que correram ao dormir na Terra Encantada, que significava Morte. Chegados que foram á Terra de Beulah, recebeu as bôas vindas, e ahi permaneceram durante algum tempo. Então, o mensageiro do Rei, pediu a Christiana que atravessasse o rio, o que ella fez alegremente. Depois de presenciarem Christiana atravessar a salvo o Rio da Morte, os membros mais moços voltaram para os seus lares, onde permaneceram até que, um a um, foram sendo chamados para atravessar o rio. Todos foram bem recebidos ás Portas da Cidade Celestial, onde ninguem pode ser admittido sem porfiada luta.

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1 Jornal do Brasil, nº 299, de 14 de Dezembro de 1928

2 Jornal do Brasil, nº 300, de 15 de Dezembro de 1928

3 Jornal do Brasil, nº 301, de 16 de Dezembro de 1928

4 Jornal do Brasil, nº 302, de 18 de Dezembro de 1928

5 Jornal do Brasil, nº 303, de 19 de Dezembro de 1928

6 Jornal do Brasil, nº 304, de 20 de Dezembro de 1928

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