Kalley: médico e missionário

 


“No ano de 1838, o Dr. Robert Reid Kalley, da Igreja Livre da Escócia, estava a caminho da China. Sua esposa ficou muito doente, então desembarcaram em Funchal, na Ilha da Madeira, que nunca fora antes ocupada por missionários protestantes. Guiado pela providência divina, o médico resolveu abrir o trabalho evangélico. Um homem de recursos, ele fora capaz de manter esse trabalho praticando sua clínica. Um hospital foi aberto, e dava tratamento médico gratuito, sob a condição de que todos os pacientes estivessem presentes às nove horas de cada manhã, quando lia as Escrituras e lhes apresentava Cristo. Escolas foram estabelecidas na Ilha, e o médico contratava professores e fornecia-lhes os livros. A maioria dos portugueses era analfabeta. As pessoas reuniam-se nessas escolas noturnas. De uma vez só, oitocentos adultos estiveram presentes. Eram de fácil ensino e gratos. Ele era amigo de todo mundo, pois visitava os prisioneiros e ministrava aos pobres...‘as autoridades municipais lhe ofereceram um voto formal de agradecimento’. Num Sábado de manhã, dois portugueses, tendo renunciado à sua fé anterior, entraram em comunhão na pequena igreja escocesa. A perseguição então irrompeu. Os dois crentes foram excomungados, as escolas foram quebradas e os professores foram presos. Desafiando o tratado de liberdade religiosa, uma de suas enfermeiras foi arrastada para a prisão. Kalley foi apreendido, julgado, condenado e encarcerado durante cinco meses baseado numa antiga lei da Inquisição que não era aplicada há mais de duzentos anos. Foi finalmente liberado, mas teve de fugir para salvar sua vida, com a perda de todos os seus pertences pessoais, incluindo seus livros, que foram queimados. Voltou para a Escócia por um tempo, mas depois visitou a Ilha de Malta e depois foi para o Brasil. Em ambos os lugares, começou um trabalho médico e evangelístico. Seus seguidores perseguidos na Madeira, em número de duzentos e onze, foram expulsos de suas casas e reunidos próximo à praia, onde oraram pela chegada de um navio britânico que pudesse levá-los para longe. A fé deles foi honrada. O navio chegou e, em 23 de Agosto de 1846, navegaram para a Ilha de Trinidad... Outras partidas se seguiram até que quase mil deixaram a Madeira. Mais tarde, houve a imigração de alguns deles, de Trinidad para Jacksonville, Illinois, onde, até hoje, eles têm uma igreja autossustentável e seu próprio pastor. Seu devotado amigo e pai espiritual, visitou-os lá a caminho do Brasil, onde abriu um trabalho evangélico no Rio de Janeiro. O Imperador Dom Pedro, atraído pela sua personalidade e prática médica, visitou-o pessoalmente. Foi discutido no conselho privado e determinado que o Dr. Kalley deveria ter permissão para ficar e continuar seu trabalho. Daí surgiu uma grande igreja central na cidade do Rio, outra do outro lado da baía e uma terceira em Pernambuco. Um convertido, que prosperou muito, depois de aceitar a Cristo, deu $10.000 dólares para ajuntar com uma grande quantia doada pelo Dr. Kalley para a construção da primeira igreja. Além disso, o médico sustentou vários leitores da Bíblia e suas famílias com seus recursos privados. Por anos, esse nobre empreendimento continuou até que se enraizou no solo e pôde ser cultivado por outras mãos. O Dr. Kalley foi um mestre de obras, aprovado por Deus, um dos grandes pioneiros das missões médicas e do trabalho evangelístico.” 

Extraído de: Medical missions: the twofold task de Walter Russell Lambuth (1854-1921). Board of Missions Methodist Episcopal Church South, 1920, p. 114-116)

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