O Evangelho em Cacaria, Rio de Janeiro

 

Revista All Nations, Outubro de 1904, p. 182

“O nome Cacaria, que em português, literalmente significa um monte de cacos de cerâmica, pois a vila foi construída no local de um antigo cemitério indígena... Numa velha casa 1pintalgada, atrás de uma cerca alta de bambus, a cerca de duas milhas da vila, morou por algum tempo um brasileiro de nome Manoel Theodoro. Embora rodeado por vizinhos típicos do ‘oeste selvagem’, ao considerar o seu desprezo por qualquer coisa como disciplina ou contrição moral, foi reconhecido como chefe em ousadia, passando as noites numa longa série de jogos de azar e dissipação. Estas noites frequentemente terminavam em lutas livres, quando revólveres e facas eram considerados o melhor meio de levar para casa discussões desagradáveis... Seja como for, no momento em que o escritor o conheceu, estava pronto para admitir a veracidade da reputação acima. Continuando, em suas próprias palavras, relatou: ‘Naquele tempo, um missionário inglês, o Rev. Joseph Orton, da ‘Help for Brazil Mission’, estabeleceu uma ‘Casa de Oração’ na vila. Com frequência o encontrava montado em sua mula na propagação do Evangelho, e dizia para mim mesmo: ‘Quão tolo este inglês é! Cavalgando direto no sol quente brasileiro ou ficando encharcado nas chuvas tropicais. Ele pensa que fará o  nosso povo abandonar a fé dos seus pais e aceitar seus ensinos heréticos, mas ele está muito enganado.’ Contudo, com o passar do tempo, senti que não havia nenhum mal em saudar o missionário quando passasse com um amistoso ‘Bom dia’, e, mais tarde, por ocasião de uma festa de Ano Novo, o Sr. Orton me convidou para comparecer, achei que ele era tão educado, e falava nossa língua com tanta fluência, que não tive coragem de recusar. Então, aconteceu que na hora anunciada, vesti meu casaco preto e me misturei com a pequena multidão adentrando no salão da Missão. Uma vez do lado de dentro, o que mais me impressionou foi o espírito de reverência e atenção sincera por parte do público. As pessoas pareciam estar esperando alguma aparição sobrenatural, e isso era algo tão diferente do tipo de coisa que eu estava acostumado... Então o missionário, que estava falando, leu uma parte das Escrituras, e eu fiquei igualmente surpreso, pois éramos frequentemente advertidos contra a Bíblia, ouvindo que ela é um livro falso e impróprio para leitura em geral, e agora parecia que tudo o que este inglês havia dito sobre ela ser a Palavra de Deus era verdade. No final do culto, consegui uma cópia do Novo Testamento e, levando-o para casa, comecei a lê-lo cuidadosamente. Também continuei a frequentar a ‘Casa de Oração’, e daquele momento em diante um novo dia amanheceu na história da minha vida, pois Deus falou comigo e me tornei obediente à Sua voz. Abandonando meus antigos vícios e superstições, aceitei Jesus Cristo como meu único Mediador e Salvador, e Nele está toda a minha confiança.’ O resultado da conversão desse homem foi notável, e toda a vizinhança aonde ele era tão conhecido, teve que admitir que uma nova influência, até então desconhecida, estava em ação, até mesmo o poder de Deus... O missionário foi removido para outra esfera de trabalho e seu lugar é ocupado por um pastor brasileiro, mas a cada vez que ocorre a Santa Ceia mensal, a ‘Casa de Oração’ fica lotada a ponto de transbordar de adoradores e novos membros estão sendo acrescentados à igreja. Um espírito de inquirição se espalha e multidões se aglomeram para ouvir a pregação simples do Evangelho.” 

Trechos do artigo The Gospel in South America do Reverendo Jabez H. Wright, publicado na Revista South America, nº 23, Março de 1914, p. 258-259

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1Pintalgada: pintada de várias cores

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