Um caso grave

 


“Um caso grave”, foi este o título de uma nota publicada no Jornal do Recife, nº 99, de 2 de Maio de 1886, p.1, narrando o seguinte: “Deu-se anthontem, á noite, um caso grave na rua Nunes Machado, becco do Espinheiro proximo a Encruzilhada, subúrbios desta cidade e a meia hora de distancia. Um grupo de desordeiros assaltou a casa do pastor evangélico, o Sr. James Fanstone, cidadão americano, onde estavam reunidas em oração diversas familias da localidade, e quebrou as vidraças a páo e pedra, e ameaçando botar a baixo a porta da casa, que estava fechada, afim de meterem o páo nos hereges como diziam em grande vozeria, intermedeada de impressões infames. Felizmente não realizaram o seu intento, graças a presença de pessoas de bom senso e morigeradas, que prevendo as consequências de tal procedimento intervieram em favor dos ameaçados. A policia chamada disse, segundo nos informaram, que nada podia fazer por elles, os evangelicos, por estarem offendendo a Constituição que garante a religião do Estado...”

O Reverendo James Fanstone foi para Pernambuco em 1879 para encarregar-se do pastorado da Igreja Evangélica Pernambucana, e ali, sofreu várias perseguições, perseguições estas comuns aos crentes evangélicos daquela época, ainda que a Constituição do Império do Brasil permitisse os chamados cultos acatólicos em ambiente doméstico e impunha que o local de culto não tivesse aparência de templo. Mesmo assim, os crentes evangélicos eram hostilizados e até mesmos as autoridades civis e do judiciário da época não tomavam as providências cabíveis para garantir a liberdade de consciência e de culto prevista na Constituição do Brasil Império.

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