Após uma temporada nos Estados Unidos entre os refugiados evangélicos da Ilha da Madeira, que fugiram da ilha por causa da ferrenha perseguição que se irrompeu contra a fé evangélica naquela localidade, o missionário e médico escocês Robert Reid Kalley (1809-1888), que também teve que fugir da Ilha da Madeira devido às perseguições à fé evangélica, vem para o Brasil e aqui começa uma jornada de fé pelo Brasil Império, que levou à fundação da Igreja Evangélica Fluminense, ao batismo do primeiro brasileiro nato, o Sr. Pedro Nolasco de Andrade, bem como ao fato histórico do Dr. Kalley, de sua esposa Sarah P. Kalley (1825-1907) e sua congregação serem os primeiros a realizarem culto evangélico em língua portuguesa no Brasil, no Morro da Saúde, Rio de Janeiro, contrariando a Constituição da época que permitia os chamados cultos acatólicos apenas em ambiente doméstico, desde que o local não tivesse exterior de templo, e que não fosse realizado o culto em língua portuguesa.
Aqui no Brasil, o Dr. Kalley também teve que enfrentar perseguições ferrenhas contra a fé evangélica, perseguições estas que partiam de autoridades civis, judiciárias e eclesiásticas, além da imprensa secular que ajudava a propagar preconceito contra a fé evangélica.
O periódico presbiteriano Pulpito Evangelico, Março de 1874, p. 29, traz um fato ocorrido envolvendo Robert Kalley em Niterói, Rio de Janeiro, fato este que o chefe de polícia local, Hollanda Cavalcanti, considerou o culto evangélico realizado por um grupo pastoreado pelo Dr. Kalley como ajuntamento ilegal.
"Nitherohy. – O chefe de policia de Nitherohy, em seu despacho a um requerimento que lhe fiz em 27 de Dezembro de 1873, recusou-se a dar passo algum para defender de violencia e insultos os que assistem ás reuniões do culto evangelico, allegando que o direito de fazer taes reuniões dependia da vontade delle. Na convicção de que esse despacho era opposto á carta constitucional deste Imperio, e podia ter resultados funestos, procurei uma decisão superior. Estou informado, por autoridade incontestavel, que s. exc. o presidente da provincial fôra officialmente avisado pelo governo imperial, de que taes ajuntamentos evangelicos não podem ser prohibidos, e hão de gozar da competente protecção. ROBERT REID KALLEY, Pastor da Igreja evangelica fluminense."
Robert Reid Kalley assim relatou a sua chegada ao Brasil:
“Gastei a maior parte dos anos de 1853 e 1854 entre os refugiados, ajudando a aumentar o seu conhecimento, a sua fé e seu amor... Depois disto, fiquei muito impressionado com a deplorável destituição espiritual do Brasil, um império vinte vezes o tamanho da Grã Bretanha e Irlanda, cuja língua é o português, e isto me pareceu que meu conhecimento da língua e das pessoas na Madeira justificava a esperança de ser capaz de engajar sucesso em operações evangelísticas lá. Em Maio de 1855 desembarcamos no Rio... Do Brasil escrevi à várias famílias de madeirenses cristãos em Illinois pedindo que viessem e trabalhassem comigo na pregação do Evangelho neste novo campo... Três famílias responderam ao meu convite... Numa noite no Dia do Senhor em Agosto de 1861 quando a congregação que assistiu o culto da tarde havia dispersado, e antes que aqueles que iriam assistir a reunião da noite tivessem se reunido, uma multidão ajuntou-se ao redor da casa no Rio. Os desordeiros vieram armados com paus e pedras, proferindo terríveis ameaças e gritos de: “Biblia! Biblia!”em tons inimagináveis de escárnio e ira. “Biblia” simplesmente quer dizer “Biblia”, mas este termo há muito tem sido usado no Brasil como aquilo que é completamente odioso e desprezível. As janelas logo foram quebradas e as partes de madeira quebradas... Na hora que a multidão estava tentando correr para subir a escada que dava acesso à porta, uma das vidraças de uma janela da parede que estava perto deles quebrou-se. Quebrou a janela e muitos cacos de vidros foram avistados, então recuaram. Mas perseveraram em gritar, ameaçar e bombardear a casa com pedras por umas três horas antes que a polícia interviesse... Dr. Kalley continuou o trabalho entre os brasileiros até 1875...” (The Medical Missionary Record, Vol. I, 1888, p. 304-309)
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