Viajando com a Bíblia pelo nordeste do Brasil

Foto: Bible Society Record, Dezembro de 1928, p. 195

"Through brazilian jungle land" é o nome do artigo escrito pelo missionário e colportor Frederick Charles Glass (1871-1960), que foi publicado na revista Bible Society Record, Dezembro de 1928, p. 194-197.

"Foi incontestavelmente uma melhoria em nosso cansativo método de viajar de mula, mas até mesmo um carro Ford tem suas limitações, como descobrimos claramente durante o curso da nossa última jornada de 2.500 milhas através das selvas densas e sobre as montanhas rochosas do não mapeado nordeste do Brasil, através de quatro Estados, e dentro de um quinto. 

Partindo de Garanhuns com o Gillanders da Nova Zelândia como companhia, uma boa carga de Bíblias e folhetos, algumas panelas e uma picareta, nosso primeiro objetivo foi Águas Belas, uma cidade a cem milhas de distância. Ali, três boas reuniões foram realizadas e, no encerramento da última, em resposta ao meu apelo, sete homens e mulheres de modo calmo, ficaram de pé, e aceitaram Jesus Cristo como seu único Senhor e Salvador. Também visitamos os índios Carijós na aldeia deles mais próxima, onde nosso obreiro, o senhor Laurencio, está realizando um trabalho muito esperançoso entre esses índios encantadores.

Para meu desalento, eu descobri que um aviso enviado para outro lugar a cerca de setenta milhas além, não foi enviado, de modo que ninguém estaria nos esperando. Para remediar isso um pouco, eu comprei uma dúzia de rojões alto-explosivos em Águas Belas, e, ao cair da noite nos aproximamos da pequena comunidade de Bananeiras, eu soltei meus rojões, que ecoaram e ressoaram sobre os montes cobertos de floresta ao redor, e criaram realmente um abalo, para não dizer um susto, através daquele interior. Resultado: tivemos uma reunião lotada naquela noite, entre os trinta convertidos e suas famílias, e vizinhos; o resultado visível do nosso trabalho de colportagem anterior, e da visita do ano passado. Depois de outra reunião entre essas pessoas agradáveis na manhã seguinte, seguimos em frente, e por mais uma ou duas semanas continuamos na mesma direção, deixando Bíblias e bons folhetos ao longo da trilha, e realizando muitas pequenas reuniões, principalmente em casas de fazenda. Visitamos as maravilhosas quedas d'água de Paulo Afonso, uma das maravilhas menos conhecidas do mundo, e finalmente chegamos à cidade de Juazeiro, no Estado do Ceará.

Juazeiro é uma das maiores cidades do interior do nordeste do Brasil, uma cidade simples de selva com milhares de ranchos barreados. [...]. do Ceará, subimos o grande Planalto do Araripe e continuamos nossa longa jornada do Crato para... o Estado do Piauí. Viajar agora se tornou muito difícil. O país era menos povoado, com cidades a centenas de quilômetros de distância, mas, raramente deixamos de ter algum tipo de reunião ou outra todos os dias, incluindo um momento adorável entre os ciganos, a quem eu mostrei minha lanterna mágica, criando grande espanto e admiração. Usamos esta lanterna com bons resultados de vez em quando, com slides do Peregrino e algumas imagens do Antigo Testamento como temas, que forneceram excelente ocasião para ensinar a verdade, especialmente a imagem final, Moisés e a Serpente, que nunca deixa de levar para casa o plano de salvação de Deus. 

Logo estávamos em terras de floresta e selva [...]. Nosso carro parecia uma máquina de cortar grama por várias centenas de milhas [...]. Viajamos pela fé, pois a trilha estava fora de vista, completamente escondida pela floresta crescida, às vezes tão alto e mais alto que o próprio carro. Muitas noites passamos nessas florestas solitárias e infestadas de onças, embora uma boa fogueira de acampamento garantisse uma noite tranquila. [...].

Por fim, depois de quase 1.300 milhas de viagem, encontramos um pouco de civilização novamente na cidade de Floriano, nas margens do grande Rio Parnaíba, que divide os dois Estados do Piauí e Maranhão. Aqui ficamos encantados em encontrar uma pequena congregação batista de convertidos muito sinceros e bem-educados, embora raramente recebam uma visita pastoral. [...].

Em Floriano, fizemos uma sondagem cuidadosa da cidade, rua por rua, e casa por casa, vendendo cerca de sessenta Bíblias e Novos Testamentos, e muitos Evangelhos, tendo muitas conversas interessantes com as pessoas, que nos receberam bem. [...].

Em nossa viagem de volta, variamos um pouco nosso itinerário para incluir várias outras cidades: visitamos trinta e duas no total, e, considerando a terrível pobreza que abundou após três anos consecutivos de seca, nossas vendas de Bíblias foram boas, com pouca oposição.

Muitas outras reuniões foram realizadas, uma delas ao ar livre, depois do anoitecer, no encerramento de uma feira da vila. Ali, novamente, a lanterna provou ser de grande valor. Um jovem ficou tão impressionado que comprou vários Novos Testamentos para vender novamente em regiões mais remotas que nunca poderíamos esperar alcançar.

Claro que tivemos nossos problemas: molas quebradas, rolamentos queimados, etc., e gastos pesados, mas valeu a pena mil vezes mais.

Esta viagem notável só foi possível pela generosa cooperação da Sociedade Bíblica Americana. Nossas vendas totais foram de cerca de 120 Bíblias, 280 Novos Testamentos, e muitas centenas de Evangelhos. Louvado seja Deus pelo poder de Sua Santa Palavra." (GLASS, Frederick C. Through Brazilian Jungle Land. Bible Society Record, Dezembro de 1928, p. 194-197)

                                                  Foto: Bible Society Record, Dezembro de 1928, p. 195


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