Rev. Bryce W. Ranken e a mula Felicidade
Foto: South America, Junho de 1914, p. 37
No ano de 1913, o missionário Bryce W. Ranken fez viajou pelo interior de Goiás, até chegar à Convenção de Gameleira. Gameleira atualmente é o Município de Cristianópolis, no Goiás.A jornada do missionário Bryce W. Ranken foi narrada num artigo de sua autoria, intitulado Through our field in Goyaz, e este referido artigo foi publicado na revista South America, Junho de 1914, p. 37-45, do qual se extrai os seguintes relatos desta viagem:
"[...]. Na manhã seguinte, partimos na nossa marcha de dois dias para a capital. Nós passamos nossa primeira noite em uma fazenda chamada Sobradinha, mas tivemos um mau tempo, chegando muito tarde para jantar. Nossos quartos de dormir ficavam no que pode ser chamado de quarto de arreios. Eu acho que todos dormimos muito mal e ficamos felizes em estar de pé às 4 e meia da manhã. No dia seguinte, trazendo nossos animais do pasto antes do amanhecer, e depois de fazer um cházinho, e terminar a comida que tínhamos, nos pusemos a caminho por volta das 6 da manhã, chegando à capital pela manhã. A Sra. Macintyre parece um pouquinho mudada, apenas um pouco mais magra, e ficamos felizes ao descobrir que ela conseguia se movimentar novamente após seu recente acidente. Ela ainda está muito fraca, mas cheia de coragem e energia. Umas quarenta pessoas estavam presentes na recepção que eles tinham arranjado para mim naquela noite, a maioria delas eram convertidos. O salão é pequeno e não comportaria mais de oitenta ou noventa, quando estivesse completamente cheio. [...]. Na noite seguinte, o pequeno salão estava cheio, muito quente, e a audiência um tanto inquieta. Eu, também, estava extremamente cansado, depois do trabalho de seleiro dos dias anteriores, de modo que foi fisicamente um alívio quando a reunião terminou. Na noite seguinte, cerca de 115 pessoas lotaram o salão, e a reunião foi mais tranquila e com mais atenção. No dia 17, Domingo, um dos convertidos, Sr. Aureliano, veio do interior, trinta milhas de distância. Ele tinha cavalgado a noite toda, para chegar em tempo para o batismo, e durante a manhã foi batizado, juntamente com outros dois convertidos. Por volta das 7 da manhã, nós fomos à prisão e tivemos uma reunião informal. [...]. O Sr. Macintyre realiza essa reunião na prisão todo Domingo de manhã, algumas vezes em uma parte, algumas vezes em outra. [...]. Um de nossos animais, minha mula de sela, tinha se perdido e, até então, tinha sido impossível rastreá-la. Na Segunda-Feira, nós fizemos esforços especiais, mas sem nenhum efeito. Eu também paguei algumas visitas com o irmão Macintyre, entre os convertidos. Uma delas, a Dona Benta, é um caso interessante. Ela era empregada da casa adjunta ao salão de pregação e costumava ouvir as pregações através da parede divisória, até que, finalmente, plenamente convencida da verdade, ela tomou coragem para entrar no salão e declarar a si mesma, uma crente. [...]. Nós tivemos uma importante reunião de pregação à noite, bem atendida e com um sentimento de liberdade e bênção. Eu deveria ter partido na manhã seguinte, e quase todas as pessoas disputaram entre si para trazer doces e bolos como presentes de despedida, até que eu fiquei quase sobrecarregado de provisões. Infelizmente, porém, minha mula ainda estava perdida, e nenhum sinal dela foi encontrado. Entretanto, foi só dois dias depois que ela foi descoberta em Curralinho, aproximadamente trinta milhas de distância, no caminho de volta para Gameleira. [...]. Era meio-dia, no dia 21 de Agosto, quando finalmente fomos embora da capital. O irmão Macintyre e sua filhinha Isa vieram comigo na a primeira légua. Há uma longa subida de pelo menos duas léguas da capital até o topo da serra. Nós tínhamos justamente chegado a esse ponto, quando um dos animais de carga, se assustou e disparou, espalhando sua carga e se ferindo gravemente. Nós tivemos que recolher nossas provisões da poeira assim que as reunimos. Isso nos atrasou, e tivemos que seguir em frente até o anoitecer e, sem conseguir enxergar para armar nossa barraca, nós simplesmente empilhamos nossos pertences e dormimos do lado de fora, ao lado deles. Por volta das 2 da manhã, nós fomos acordados por uma tempestade, e tivemos que nos levantar, e estender a barraca sobre a bagagem e nós mesmos. [...]. Nós acordamos com o amanhecer, e fizemos uma longa marcha para garantir chegar a Jaraguá a tempo para o Domingo. A maior parte da viagem foi por um caminho muito acidentado ao lado da linha telegráfica, e a noite se aproximava, antes que pudéssemos encontrar um local adequado para acampar, nós tivemos de continuar a avançar até escurecer, e então dormimos do lado de fora, como antes. [...]. Novamente nos levantamos ao romper da manhã [...]. Paramos para o café da manhã bem cedo naquela manhã, tendo encontrado um local extremamente agradável, com boa água, sombra e pasto. Era Sábado, e nós passamos o Domingo no Jaraguá, e realizamos uma reunião. [...]. Uma longa marcha de quase quatro horas nos levou a Jaraguá [...]. Nós tínhamos o nome de um comerciante amigo e tivemos a sorte de encontrá-lo sem dificuldade. Ele arranjou para nós ficarmos em uma casa vazia, perto da dele, e se comprometeu a nos levar ao teatro local para a reunião do dia seguinte. [...] O teatro pertencia a três donos, e um deles se opôs à nossa presença. De fato, ele mandou colocar um cadeado na porta, e foi só com muita negociação que finalmente conseguimos a chave. Só houve tempo de preparar nossos convites e andar pela cidade com eles antes da hora da reunião. O teatro era um grande celeiro com piso de terra e sem assentos, de modo que todos tiveram que ficar em pé ou sentados no chão [...]. Foi a primeira reunião evangélica que já aconteceu ali, e somente cerca de quarenta ou cinquenta homens compareceram, com uma ou duas mulheres espiando pela porta. [...].[...]. Às 10 da manhã do dia seguinte, entramos em Pirenópolis [...]. Ali, novamente,nós conseguimos arranjar o teatro para uma reunião, e tínhamos os nossos convites todos prontos para circular, quando descobrimos que forças estavam agindo contra nós. O teatro foi retido com a desculpa que a chave não pôde ser encontrada, mas finalmente a sala, na Prefeitura, foi garantida a nós. Os convites foram bem recebidos e, ainda que, alguns disseram que poucos ousariam comparecer, tivemos a sala lotada até exceder, com cerca de oitenta homens e várias mulheres. A atenção foi distintamente boa, e Deus me ajudou muito a falar. Esta foi a primeira vez que o Evangelho tinha sido pregado nesta cidade, também. [...]. [...]. Nosso próximo ponto foi a cidade de Antas, umas quarenta e cinco milhas de distância. [...]. [...]. A distância até Antas variava de forma considerável de acordo com cada pessoa que perguntávamos, mas finalmente chegamos, pouco depois das 3 da tarde, temendo que todas as chances de uma reunião tivessem passado, visto que era muito tarde e os arranjos geralmente são muito difíceis. No entanto, o inesperado aconteceu. Todos estavam ansiosos para ajudar e, dentro do tempo de uma hora, tínhamos a Prefeitura à nossa disposição e alguns garotos circulando pela cidade com convites. Começamos às 7 da noite, e logo o salão estava lotado, até mesmo os lugares em pé já estavam ocupados. Um bom número de mulheres também vieram, o que é bastante incomum em um novo trabalho. Até onde pudemos saber, esta foi oa primeira reunião evangélica realizada na cidade. Deus realmente trabalhou por nós naquele dia. Na manhã seguinte, partimos para o Bomfim, tendo que recusar vários convites para ficar mais um dia em Antas. [...]. Nós alcançamos Bomfim no dia seguinte, um pouco depois do meio-dia, e encontramos nosso amigo Sr. Nestor com sua casa cheia de crentes, que ele havia convidado do interior, esperando-nos. As coisas mudaram maravilhosamente aqui desde minha última visita, quatro anos atrás. Então, com grande dificuldade, conseguimos uma audiência de doze ou quinze pessoas das mais pobres. Nesta noite, a casa não comportaria aqueles que atenderam ao nosso convite, de modo que a reunião teve que ser realizada no quintal ou jardim. O dia seguinte era Domingo e, ao final das reuniões do meio-dia, uma alma foi trazida a Cristo. À noite, umas 120 pessoas se reuniram novamente no jardim, uma audiência muito atenta, com promessa de muito fruto. [...]. Estávamos agora a dois dias de Gameleira e, na Segunda-Feira de manhã, a casa foi movimentada às 3 horas, a fim de ter todos prontos para uma partida antecipada, com o irmão Nestor e um grupo de pessoas vindo conosco para a Convenção. Infelizmente, os cavalos de Nestor dispararam no caminho do pasto, e isto atrasou a partida um pouco mais do que pretendíamos, de modo que tive que seguir em frente. Foi um longo dia de marcha, e nós só paramos depois de escurecer, a três léguas e meia de Gameleira, dormindo do lado de fora, e estendendo nossa barraca sobre a bagagem. No dia seguinte, nós chegamos a Gameleira por volta das 10:30 da manhã, e encontramos os convidados já começando a se reunir. Contingentes vieram naquele dia, de Catalão, Pouso Alto, Andorinhas, Bomfim, Pirenópolis e da capital, de modo que a pequena vila estava um lugar movimentado. A reunião de abertura da Convenção foi realizada naquela noite, com cada um dos pastores de Goiás tomando parte. Nós sentimos que o Espírito de Deus estava presente, e a esperança era grande, de uma Convenção totalmente boa. [...]. Nós começamos com uma reunião de oração às 7 da manhã; leitura bíblica às 10 da manhã; reunião à tarde às 2:30; e reunião à noite às 7 horas, todos os dias, com duas reuniões infantis intercaladas entre elas. O comparecimento, que era de cerca de 100 pessoas no início, tinha aumentado para 200 no Domingo. As reuniões provaram ser uma verdadeira bênção para todos, como foi demonstrado pelos testemunhos dados, confissões feitas, reconciliações realizadas, e outros sinais da obra do Espírito em nosso meio. Alguns dos presentes fizeram um apelo para que as reuniões continuassem um pouco mais, mas como outros seriam obrigados a partir na Segunda-Feira de manhã, achamos mais sensato encerrar no Domingo à noite. Foi a primeira Convenção desse tipo realizada em Goiás, e foi decidido por unanimidade tentar realizar essas Convenções a cada ano, no mês de Agosto e torná-las um encontro para todos os crentes do Estado de Goiás." (RANKEN, Bryce W. Through our field in Goyaz. South America, Junho de 1914, p. 38-43)

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