Flores do ipê
Capítulo I: Viagem para o interior
Em 5 de Outubro de 1856, Alyce Smith Antunes preparava sua mudança do Rio de Janeiro, capital do Império do Brasil, para morar no interior de Minas Gerais, numa fazenda que seu marido Rodolfo Antunes, comprou nas margens do Rio Paranaíba, quase divisa com o Estado de Mato Grosso.
A única coisa que Alyce sabia daquele lugar, é que era um lugar solitário, quase inabitado.
Junto com Alyce e Rodolfo, também estava de mudança, a cozinheira Cassiana Rosa, que não tinha família, e resolveu ir com o casal.
Antes do embarque na estação do trem, Cassiana comprou o jornal chamado Correio Mercantil, edição de 5 de Outubro de 1856, para ler durante a viagem, e guardar de lembrança do dia em que partira do Rio de Janeiro.
Capítulo II: O caminho para Minas Gerais
-Caminho longo, viagem longa, dona Alyce, assim é a jornada até Minas Gerais, disse Cassiana, sorrindo.
-É mesmo, Cassiana! Então vamos ler o jornal que você comprou para não ficarmos entediadas!, respondeu Alyce.
-Senhora Alyce, que interessante: nessa página que eu abri do jornal tem uma história chamada A Viagem do Christão para a bem-aventurança eterna por um dos seus companheiros, e parece interessante, senhora!
-Deixe-me ver Cassiana, como começa essa história!, respondeu Alyce.
Cassiana entregou o jornal para Alyce, e ela ficou muito surpresa, e disse:
-Cassiana, Cassiana! Esta é a história do Peregrino que foi traduzida para o português! Esse livro do Peregrino eu li quando eu era criança, e morava na Inglaterra. Foi meu avô John Smith que me deu de presente de Natal, no ano de 1833! Que incrível!
-E quem escreveu essa história, senhora Alyce?
-Foi um pastor protestante chamado John Bunyan. Esse livro fala da jornada do Peregrino até chegar na Cidade Celestial.
-Ah! Então é uma história muito boa pra gente ler!
E assim Alyce foi lendo a história do Peregrino, e Cassiana ouvia com muita atenção.
Já Rodolfo Antunes, cochilava tranquilamente enquanto Alyce e Cassiana liam atentamente a história do Peregrino.
Capítulo III: Passando pela Vila do Prata
Rodolfo Antunes disse para Alyce e Cassiana que a viagem estava quase no fim, pois já estavam na Vila do Prata, e dali, era aguentar um pouco mais de solavancos e estradas ruins até que a charrete deles chegasse à erma habitação onde residiriam juntos às margens do Rio Paranaíba.
Cassiana e Alyce se divertiam dizendo que escreveriam um livro contando as aventuras de viajar pela Província de Minas Gerais, quase chegando nas paragens de Sant’Anna do Paranahyba.
Capítulo IV: Na Fazenda Felicidade
Fazenda Felicidade, era este o nome da propriedade que Rodolfo Antunes comprou nas margens do Rio Paranaíba, um lugar calmo e ermo, que quase não recebia visitantes.
Cassiana e Alyce passaram o dia da chegada arrumando como puderam a casa onde habitariam por muitos longos anos.
O Correio por ali não passava, e para receber correspondências e fazer compras de mantimentos, Rodolfo Antunes, Alyce e Cassiana iam sempre a Sant’anna do Paranahyba.
Foi numa dessas idas a Sant’anna do Paranahyba, que Rodolfo Antunes recebeu uma correspondência dirigida à Alyce, vinda da Inglaterra: era um exemplar do livro Pilgrim’s Progress, traduzido em português pelo missionário Robert Reid Kalley, sob o título de A Viagem do Christão.
Cassiana amou a encomenda, e assim a senhora Alyce pôde ler para ela toda a história de A viagem do Christão.
Capítulo V: Flores do ipê
Era Junho de 1888, Alyce, Rodolfo e Cassiana estavam felizes, conversando sobre a Lei Áurea, que a Princesa Isabel assinou em 13 de Maio de 1888, abolindo a escravidão do Brasil Império.
Todos estavam sentados debaixo do pé de ipê, cheio de flores, quando avistaram dois homens vindo a cavalo, e logo foram reconhecidos por Rodolfo Antunes, pois eram amigos dele, de longa data.
Quem estava chegando era o feirante José Ramiro e Antônio Fortaleza, um escravo liberto antes da Lei Áurea ser assinada, que se tornou um exímio sapateiro.
Rodolfo Antunes se alegrou com a chegada de seus conhecidos, pois era raro visitas naquele lugarejo.
Logo Alyce e Cassiana foram para a cozinha preparar um bom lanche para os visitantes.
Rodolfo Antunes queria que José e Antônio ficassem para o jantar e pernoitassem na casa dele, mas eles disseram que tinham que seguir viagem até Uberaba, onde realizaram um culto evangélico na casa da Sra. Amelia Bastos, que se convertera a muitos anos no Rio de Janeiro, ouvindo um colportor ler um versículo da Bíblia para ela.
Antes de partirem, Antônio Fortaleza que também era colportor, assim como José Ramiro, pediu para ler uma passagem do Novo Testamento de João Ferreira de Almeida, e ali debaixo das flores do ipê, o colportor leu: “E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome; e quem crê em mim nunca terá sede.” João 6:35.
Em lágrimas, Rodolfo Antunes orou pela primeira vez na vida, dizendo: “Senhor meu Deus, debaixo destas flores do ipê, eu quero que Tu sejas o pão que me dá vida, e sacia a fome da minh’alma. Perdão, Pai Celeste, por ter mantido os meus caminhos longe de Ti! Salva-me, Senhor!”.
Cassiana e Alyce se alegraram, pois a oração delas foi ouvida, e ali, debaixo das flores do ipê, houve alegria por um pecador que se arrependeu, e reconheceu Jesus como Salvador de sua vida.
Flores do ipê © 2025 by Daiane Firme Cavalcante is licensed under CC BY-NC-ND 4.0

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