Os três C



Dizia João a seu vizinho Antônio:
-Quando um homem vem a Cristo, tem que passar pelos três C.
-Que quer isto dizer? replicou o segundo.
- Assentemo-nos e eu te explicarei.
   Os dois habitavam na mesma aldeia, e a conversação que se segue teve lugar em uma noite de verão.
    João amava a Deus; porém, ainda que de idade avançada, ora jovem quanto ao conhecimento da verdade, e, portanto, era objeto da zombaria de seus companheiros de trabalho não convertidos.
    Ele sofria tudo com valor por amor de Cristo, e orava para ser nas mãos do seu Senhor o humilde instrumento para ganhar alguns deles para seu serviço.
    Antônio era um homem de conduta inatacável, mas por sua vez estranho quanto às coisas de Deus.
    Observara a grande mudança de seu companheiro, o anelava ouvir de seus próprios lábios como lhe havia sucedido.
   Uma vez sentados os dois amigos, João principiou desta maneira:
-Sabes, Antônio, que sempre me contentei com o ser um
homem moral, e tive do aprender que a moralidade não me
levaria ao céu, e que antes que alguém se possa salvar, tem
que passar pelos três C.
-Mas, diz-me, o que é isto dos três C?
-Vou-te expor o caso. O primeiro C me veio quando eu
estava debaixo d’aquela árvore, na tarde em que nos pregou um grande pregador. Descreveu uma alma precisamente no meu estado, dizendo: “Deus pede mais de ti. Quer que te conheças pecador diante d’Ele. Deseja que venhas pelo caminho que Ele mesmo tem traçado, a saber: pelo sangue de Jesus Cristo seu Filho amado, o qual morreu por ti. Se aqui há alguém que se acha satisfeito em viver para si mesmo, eu lhe suplico, que, indo para sua casa, possa esforçadamente o dom do Espírito Santo, para que lhe mostre a falta que lhe faz um Salvador.”
     Estive muito inquieto toda a noite. Sabia que não havia buscado, e muito menos achado a salvação em Cristo. Eis aqui, pois, o primeiro C. Fui CONVENCIDO de pecado. Tinha vivido inteiramente para mim mesmo.
    Abri a minha Bíblia, e me admirava, segundo o que ia lendo, de não ter compreendido melhor o que ali se achava escrito.
    Porém, olha a grande mudança, já era um pecador em busca da salvação e não um homem satisfeito de suas próprias obras e empenhado em ganhar um lugar no céu com sua vida moral! Sentia que era grande pecador e me ajoelhei, e, orando de todo o meu coração, supliquei a misericórdia por Cristo tão somente. Encontrei minha resposta nestas palavras: “Desfiz como nuvem as tuas transgressões.”
    O segundo C., CONVERSÃO, veio logo, segundo lia aquela maravilhosa conversação entre Nosso Senhor e Nicodemos, que diz: “O que não nascer outra vez, não pode ver o Reino de Deus,” o que se tornou então perfeitamente claro.
    Desde que me conheci como pecador perdoado fui homem novo. Minha vida anterior parecia-me como um passado morto,
porque me rodearam desde então esperanças e alegrias muito
diferentes.
    Tinha nascido do Espírito, e do segundo C. saiu o terceiro,
CONSAGRAÇÃO. Entreguei-me a Deus e pedi que seu Espírito ajudasse minhas muitas fraquezas. Importunei a meu bendito Senhor, o qual morreu por mim, para que me habilitasse a viver para Ele só, e te assevero, Antônio, que se todos os homens fossem tão ditosos como eu, haveria mais alegria no mundo.
-De maneira que teus três C são convicção, conversão
e consagração?
-Sim, e depois d’isto, citaremos este versículo: “O Espírito e a Esposa dizem, vem. . . e o que quer beba da água da vida de graça.”
-Não esquecerei jamais esta conversação, acreditas João?
-Faze mais que isso. Pede com fé a luz e a direção do “Espírito Santo, para que vejas tua condição precária e sejas feito, “nova criatura em Cristo Jesus,” e então com coração fervente te consagrarás alegremente ao seu serviço com todo o teu ser, e assim terás experimentado o sentido completo dos três C.
(Do El Christiano)

Jornal Imprensa Evangelica. Ano XV, nº 31.
Rio de Janeiro-RJ, 31 de Julho de 1879, p. 244-245.

Comentários