RODEANDO O MUNDO E PASSANDO POR ELE – WILLIAM AZEL COOK




VIII – A PEDRA PHILOSOPHAL

     Para estabelecer em estado civilizado os selvagens da America do Sul, da Africa, da Asia, ou os das ilhas oceânicas, é necessario dar-lhes ao menos uma educação primaria, e tambem ensinar-lhes alguma cousa da lavoura, da arte do ferreiro, carpinteiro, sapateiro, alfaiate, etc. Porém, toda a educação e instrucção, por melhor que seja, não póde por si mesma estabelecer em estado civilizado uma raça selvagem. Temos tido, por seculos e em toda a parte do mundo, experiencia deste facto e é incontestavel. A instrucção ou educação póde servir de pedra angular, mas ha outra cousa que é pedra fundamental e pedra philosophal, sem a qual o edificio, embora levantado, não póde permanecer.

    Sem infundir nas almas dos selvagens uma nova vida, a vida eterna, a vida, natureza ou energia divina; sem que bebam do manancial da vida eterna e comão do fructo da arvore da vida; sem que aproveitem do Santo Evangelho que o Apostolo Paulo diz ser o poder de Deus para salvar os povos e nações, não podem estabelecer-se em estado civilizado. Mas tendo por base esta Pedra Fundamental e Philosophal, póde estabeler-se e levantar-se o magnífico palácio de uma civilização christã, allumiada pela maravilhosa e benigna Luz da Verdade Eterna.

A GENTE DE PEDRO AFFONSO

A Villa de Pedro Affonso, collocada á confluencia das águas dos rios do Somno  e Tocantins, foi fundada ha cincoenta annos e tem mil habitantes mais ou menos. Este sitio foi occupado antigamente por uma aldeia dos índios Carahô e Frêi Raphael morava lá.

     Tanto o povo de Pedro Affonso como o de Santa Maria, está sepultado no abysmo da ignorancia, do vicio e da superstição. As palavras inspiradas pelo Espirito de Deus applicam-se muito bem a esta gente: Elles dizem, “rico sou e de nada tenho falta, e não sabes que estás miseravel, e coitado, e pobre, e cego, e nú.”

     Propalaram varias historias maliciosas e absurdas a respeito de nós. Chamaram-nos “antichristo”, disseram que tínhamos chifres na cabeça e pés de pato: que dávamos rosários de oiro em troca de rosários bentos pelo frade; que escrevíamos numa tira de papel os nomes dos nossos visitantes e a queimavamos mysteriosamente. Quando não chovia, diziam que era por causa da nossa presença na Villa.

     Fallaram de matar-nos e arrastar-nos para fora da Villa. Quando celebravamos conferencias, apedrejaram a casa. Diziam que nas conferencias, antes de fazermos oração, dissemos aos assistentes: “Ajoelhem-se, burros!” e acabada a oração, dissemos “Levantem-se, cavallos!” Mais tarde um amigo nos explicou que o frade tem ensinado a gente, que quando o anti-christo vier, virá pregando na egreja; mas esta pobre gente não repara que o frade prega na egreja e que elle é anti-christo, ou contra Christo.

O Estandarte. Ano VIII, nº 16. São Paulo-SP, 19 de Abril de 1900, p. 2.

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